Registrada em 06 de abril de 2009

A ALACIB é uma Associação Literária sem fins econômicos, com sede e foro em Mariana, Minas Gerais, CNPJ 10778442/0001-17. Tem por objetivo a difusão da cultura e o incentivo às Letras e às Artes, de acordo com as normas estabelecidas no seu Regimento. Registrada em 06 de abril de 2009.

Diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Presidente: Andreia Aparecida Silva Donadon Leal
Vice-Presidente: J.S. Ferreira

Secretário-Geral: Gabriel Bicalho
Tesoureiro: J. B. Donadon-Leal
Promotora de Eventos Culturais: Hebe Maria Rôla Santos
Conselho Fiscal e Cultural: José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Magna das Graças Campos e Anício Chaves

Acadêmico JOÃO GIMENEZ
Cadeira nº 24
Patrono: Murilo Rubião
Primeira titular da cadeira: Creusa Cavalcanti França (13-10-1938 / 29-05-2013)


 

Notas Biográficas de João Batista Gimenez Gomes

João Batista Gimenez Gomes
Nome para uso literário: João Gimenez
Nascimento: 06/02/1960 – Jacarezinho (PR)
Filiação: José Galvão Gomes e Augusta Gimenez Gomes
Estado civil: casado, com Claudete Santos Rocha de Gimenez Gomes
Identidade: M-1.080.175 – SSP-MG – CPF: 373.389.866-49

1. Formação

1.1. Bacharel em Ciências Econômicas, pela PUC-Minas, 1982
1.2. Especialista em Gestão Estratégica, pela UFMG, 1998
1.3. Mestre em Economia de Empresas, pela FEAD-Minas, 2008

2. Atividades Profissionais

2.1. Assessor econômico no Sinduscon-MG, entre 1982 e 1987
2.2. Funcionário concursado do Banco do Brasil, entre 1987 e 2018, onde exerceu diversas funções de liderança e de educação corporativa (UniBB – Universidade Corporativa Banco do Brasil), aposentando-se em 2018 como Gerente Executivo na Diretoria Gestão de Pessoas
2.3. Professor universitário – curso de administração da FEAD-Minas, entre 2008 e 2011, ministrando as seguintes disciplinas: Fundamentos de Economia, Mercado Financeiro e de Capitais e Economia Brasileira

3. Atividades literárias

3.1. Livros publicados: A completude do verso (2013) e Versos velados (2015) – 3i Editora
3.2. Publicações semanais no Facebook – página João Gimenez – Poesia da Sexta:
Sextas-feiras: Poesia da Sexta – 231 edições
Domingos: aldravia de domingo – 67 edições
3.3. Participação nas Antologias da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas: Mineralamas – O Livro IV das Aldravias (2016); In Absentia – O Livro V das Aldravias (2017); Auri Sacra Fames – O Livro VI das Aldravias (2018)
3.4. Membro efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas desde 2016
3.5. Membro da Academia Internacional de Aldravias Andreia Donadon Leal (AIAADL) desde sua criação em 2019; cadeira número 9; Patrono: J. S. Ferreira
3.6. Membro efetivo da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – ALACIB – Mariana, empossado em 23/03/2019, cadeira número 24; Patrono: Murilo Rubião
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DISCURSO DE POSSE – João Gimenez

Saudações (ALACIB/mesa – acadêmicos, poetas e escritores) – Autoridades Presentes – Senhoras e Senhores
Inicio minhas palavras dizendo da profunda alegria ao ser convidado para ocupar uma cadeira na ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, berço do movimento aldravista, nascido nesta cidade, Mariana, a primaz de Minas. Fazer parte desta Academia é, para mim, uma grande honra, esta que é a academia constituída pelos poetas aldravistas, os criadores da aldravia, único estilo poético genuinamente brasileiro, reconhecido em vários países do mundo. Aos poetas aldravistas J. B. Donadon Leal, Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho e J.S. Ferreira, a minha homenagem e o meu reconhecimento.
Antes de saudar a obra de Murilo Rubião, patrono da cadeira que passo a ocupar a partir de hoje, quero também registrar a gratidão que nutro por Andreia Donadon Leal e Alice Gervason Marco Fernandes. Pelas mãos generosas dessas brilhantes escritoras conheci o movimento aldravista e fui admitido na SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, em 2016, e aprendo a cada dia sobre o movimento aldravista e a desafiadora arte de escrever aldravias.
Murilo Rubião, um dos mais importantes contistas mineiros, nasceu em 1916, em Carmo de Minas (MG), antes chamada Silvestre Ferraz. Morreu em 1991, aos 75 anos.
Nesse tempo vivido, formou-se em Direito, escolheu ser jornalista e exerceu inúmeros cargos públicos ligados à comunicação, entre eles o de Chefe de Gabinete do Governador Juscelino Kubitschek. Seus contos lhe propiciaram ser reconhecido como "Murilo Rubião: Construtor do Absurdo". Esse foi o nome dado à mostra inaugurada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, cinco dias após sua morte.
Em 1947, Rubião publicou seu primeiro livro de contos, "O ex-mágico". Em 1953, publicou o livro "A estrela vermelha". Em 1965, "Os dragões e outros contos". Em 1974, mais dois livros: o premiado "O pirotécnico Zacarias" e "O convidado". O primeiro vira best-seller e Rubião, aos 58 anos, enfim se torna um escritor conhecido do grande público. Em 1978, publica "A Casa do Girassol Vermelho". Em 1990, publica seu último livro: "O homem do boné cinzento e outras histórias".
Em toda a sua obra, Rubião descreve a realidade do cotidiano, mas de forma essencialmente fantasiosa. Seu estilo: realismo mágico, um estilo raro na literatura de língua portuguesa. Fantasia a realidade sem ser prolixo, sempre parcimonioso e preciso na escolha das palavras e da narrativa.
Para Jorge Schwartz, na obra de Murilo Rubião:
"Acontecimentos referencialmente antagônicos e inconciliáveis conciliam-se tranquilamente pela organização da linguagem. Dragões, coelhos e cangurus falam, mas não há mais o clássico ‘enigma’ a ser desvendado no final".
Em "Mais sombras que silêncio", Carlos de Brito e Mello destaca:
"Os regimes do saber, em Rubião, são transformados pelos próprios saberes: quanto mais se acumulam, vendando frestas e impossibilitando escapes, mais nos perdemos".
"Perdemo-nos no interior de nossas casas, perdemo-nos no interior do sentido; é justamente o que provoca a escrita de Murilo Rubião, confrontando os espaços finitos da cotidianidade com a infinitude de uma perdição, (...), infinitude formulada textualmente numa prisão que nos vitima".
Estudei a obra de Murilo Rubião através do livro “Murilo Rubião – Obra completa”, da editora Companhia das Letras. Resultou dos meus estudos, o artigo "Murilo Rubião - uma leitura aldravianista", que simboliza uma viagem poética minimalista ao mundo fantasioso do contista. Esse artigo encontra-se disponível aos que se interessarem, nesta Academia.
Da leitura dos contos, formulei como principal objetivo identificar alguma essência interpretativa, para dela compor aldravias que fizessem sentido aos meus ensaios poéticos. A cada conto, uma aldravia, fantasia aberta a variadas interpretações, recriada pela leitura dos contos mágico-realistas de Murilo Rubião.
Consegui escrever uma aldravia para cada conto do autor. Das trinta e três aldravias, escolhi três, que ora declamo, emocionado, nesta solenidade de posse. Elas foram inspiradas nos seguintes contos murilianos: O pirotécnico Zacarias; Marina, a intangível e; O convidado.
Em “O pirotécnico Zacarias” Rubião constrói a saga de um personagem que morreu sem ter morrido, vive sem ser reconhecido. Seus amigos apenas desconfiam de sua morte vida. Sobre isso, escrevi a seguinte aldravia:
vida
Zacarias
pirotecnia
surreal
viver
morrido

No conto “Marina, a intangível”, Murilo Rubião oferece a estória de um jornalista que se achava inútil, numa noite de parca imaginação. E surge o poeta, a entregar-lhe o que encomendara antes: um poema etéreo. Nesse contexto, ocorreu-me a aldravia:

imagem
fugidia
marina
intangível
poema
etéreo

Em “O convidado”, a narrativa de Rubião me levou a considerar que a vida é mesmo um convite enigmático. Sem prazo e sem destino certos. Viver - aceitar o convite - é arriscado. O personagem Alferes que o diga. E a aldravia para “O convidado” ficou assim:
vida
convite
incerto
caminho
destino
errâncias

Ratifico que, quanto aos demais contos, uma breve síntese e a aldravia correspondente encontram-se no citado artigo, de minha autoria.
Ao estudar a obra de Rubião, foi possível construir uma gama de impressões sobre a narrativa do escritor, de uma perspectiva deliberadamente aldravianista. Seja pela tentativa de síntese, seja pelo esforço de encontrar a aldrava poética que bate às portas da imaginação, esperando que se abram. Imaginação favorecida e estimulada pelas ideias e personagens que habitam o mundo dos absurdos murilianos.
A narrativa de Rubião oferece amplo espaço para interpretações variadas; quase tudo é deixado à mercê do que imagina o leitor. No entanto, é oferecida uma âncora. Seus contos são epigrafados por uma citação bíblica que sugere a essência da estória.
Murilo Rubião narra situações fantasiosas sobre as quais naufraga qualquer tentativa de plausibilidade. Para ele, realidade e fantasia são irmãs.
Meticuloso, Murilo Rubião constrói estórias que brincam com o imaginário do leitor. E, assim, é um deleite ler seus contos. Excelente exercício para as faculdades de fantasiar que nos fazem especial e integralmente humanos.
Dessas águas, emergiram trinta e três aldravias inspiradas na obra do contista, visitada sob o olhar da interpretação sem limites, própria da poesia aldravianista e tão favorecida pelo realismo mágico praticado por Murilo Rubião, na mais obstinada tentativa da observância metonímica do princípio poundiano: “máximo de poesia no mínimo de palavras”.
Boa noite, muito obrigado!
ALACIB – 23/03/2019

Artigo

Murilo Rubião - uma leitura aldravianista
João Gimenez*

1. Introdução

Este é um estudo da obra de Murilo Rubião, contista mineiro autor de trinta e três contos sob o estilo do realismo mágico, raro na literatura de língua portuguesa. Livre do rigor científico, "Murilo Rubião - uma leitura aldravianista" simboliza uma viagem poética minimalista ao mundo fantasioso de Rubião.

O estudo objetivou oferecer fundamentação ao discurso de posse do poeta João Gimenez como membro efetivo da ALACIB - Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil - Mariana, cátedra 24 (antes ocupada por Creuza Cavalcanti França) da qual Murilo Rubião é o patrono.

Da leitura dos contos, procurou-se identificar a essência interpretativa, para dela compor aldravias que fizessem sentido às sensações e impressões do poeta. A cada conto, uma aldravia, fantasia aberta a variadas interpretações, recriada pela leitura dos contos mágico-realistas de Murilo Rubião.

2. "Rubião: Construtor do Absurdo"

Murilo Rubião nasceu em 1916, em Carmo de Minas (MG), antes chamada Silvestre Ferraz. Morreu em 1991, aos 75 anos.

Nesse tempo vivido, formou-se em Direito, escolheu ser jornalista e exerceu inúmeros cargos públicos ligados à comunicação, entre eles o de Chefe de Gabinete do Governador Juscelino Kubitschek. E escreveu 33 contos no estilo do realismo mágico que lhe propiciaram ser reconhecido como "Murilo Rubião: Construtor do Absurdo". Esse foi o nome dado à mostra inaugurada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, cinco dias após sua morte.

Em 1947 publicou seu primeiro livro de contos, "O ex-mágico". Em 1953, publicou o livro "A estrela vermelha". Em 1965, "Os dragões e outros contos". Em 1974, mais dois livros: o premiado "O pirotécnico Zacarias" e "O convidado". O primeiro vira best-seller e Rubião, aos 58 anos, enfim se torna um escritor conhecido do grande público. Em 1978, publica "A Casa do Girassol Vermelho". Em 1990, publica seu último livro: "O homem do boné cinzento e outras histórias".

Para Jorge Schwartz, na obra de Murilo Rubião:

"Acontecimentos referencialmente antagônicos e inconciliáveis conciliam-se tranquilamente pela organização da linguagem. Dragões, coelhos e cangurus falam, mas não há mais o clássico ‘enigma’ a ser desvendado no final".

Ainda para Schwartz:

"O fenômeno fantástico de sua escrita é justificado na medida em que há a percepção dos níveis simbólicos e alegóricos de significação. A leitura atenta de 'Os dragões' sirva-nos de exemplo. Nítido esquema de oposição binária: Dragões x Sociedade. A sociedade age e os dragões são integrados. Participantes ativos da vida em grupo acabam por ser corrompidos e chegam ao fim".

Na análise da obra de Murilo Rubião, em "Mais sombras que silêncio", Carlos de Brito e Mello destaca:

"Arranhando a terra mais solidificada do nosso cotidiano, o movimento que o texto produz denuncia, no inesperado reflexo de nossa vida costumeira e funcionária, nossa própria face perplexa. O mundo 'tremendamente tedioso' (...) é também aquele em que somos sacudidos pelo curso acidentado de nossa aflita comédia humana".

Ainda segundo Brito e Mello:

"Os regimes do saber, em Rubião, são transformados pelos próprios saberes: quanto mais se acumulam, vendando frestas e impossibilitando escapes, mais nos perdemos".

"Perdemo-nos no interior de nossas casas, perdemo-nos no interior do sentido; é justamente o que provoca a escrita de Murilo Rubião, confrontando os espaços finitos da cotidianidade com a infinitude de uma perdição, (...), infinitude formulada textualmente numa prisão que nos vitima".

Que se experiencie esta aventura...

3. Contos lidos... e aldravianizados

3.1. O pirotécnico Zacarias

Morreu sem ter morrido. Vive sem ser reconhecido. Apenas desconfiam de sua morte vida.

vida
zacarias
pirotecnia
surreal
viver
morrido

3.2. O ex-mágico da Taberna Minhota

Ex-mágico, arrependido. Escolheu a burocracia para morrer aos poucos. Sem morrer, ficou sem sua mágica...

triste
ser
mágico
pior
ser
ex

3.3. Bárbara

Realizava desejos da esposa, obesa das ideias. Último desejo: aliviado por não ser a lua, foi buscar uma estrela. Voltou?

bárbara
desejos
bárbaros
desisto
inócuo
atendê-los

3.4. A cidade

A sina de um curioso numa cidade desconhecida, antes do que seria o seu destino, a procura de mulheres. Acabou preso acusado do crime de perguntar.

casinhas
brancas
mulheres
curiosidade
desejo
suspeito

3.5. Ofélia, meu cachimbo e o mar

Crônicas de um mineiro sonhador que amava o mar. Ausente a coragem de navegar, logrou imaginar uma ascendência de marinheiros.

mar
sonhado
mineiro
valente
bisavô
marinheiro

3.6. A flor de vidro

Eronides envolto em saudade, por Marialice. Ela volta para reviverem o amor. E, por breve magia, os olhos de Eronides voltam a brilhar.

encontro
despedida
resgata
alegria
cega
saudade

3.7. Os dragões

O professor de dragões mais que ensinava. Era um pai. Dragões: de estrangeiros abomináveis a amigos afáveis. Mas a sociedade os corrompe.

dragões
estrangeiros
abomináveis
acolhidos
amigos
afáveis

3.8. Teleco, o coelhinho

Teleco era um coelhinho que virava qualquer bicho. Até que virou um canguru-homem e se apaixonou por Tereza. Danou-se.

teleco
coelhinho
multibicho
virou
homem
danou-se

3.9. O edifício

Construção sem fim, sem se ter claro o fim. Infinitude sem finalidade. A construção do mundo é assim. Impossível deter os obreiros.

edifício
construção
infindável
então
pra
quê

3.10. O lodo

Galateu, Dr. Pink, Epsila e o filho Zeus. Estória triste de uma doença surgida das vísceras do inconsciente. Passado recluso, latente.

lodaçal
passado
recluso
latente
carece
enfrentá-lo

3.11. A fila

Pererico, arrogante, hostilizava Damião. Por isso, o gerente da Companhia não o recebia. Morreria não fosse a bondade de Galimene.

nada
dispõe
partilhar
arrogância
diálogo
ausente

3.12. A Casa do Girassol Vermelho

A saga de seis filhos adotivos. Libertados do velho Simeão, saem em profunda alegria. Mas o desejo de vingança prevalece. Desolação.

sofrimento
alegria
vingança
desolação
vivendo
alternâncias

3.13. Alfredo

Há mistérios que não devem ser desvendados. Melhor formular uma crença a buscar decifrá-los. Felicidade: eterna busca.

discutir
crenças
inocuidade
felicidade
eterna
busca

3.14. Marina, a Intangível

Um jornalista inútil numa noite de parca imaginação. E surge o poeta a lhe entregar o que encomendara antes: um poema etéreo.

imagem
fugidia
marina
intangível
poema
etéreo

3.15. Os três nomes de Godofredo

Estórias da imaginação de Godofredo e as mulheres feitas vítimas. Godofredo, João de Deus, Robério e suas esposas.

três
godofredos
joão
deus
robério
diabo

3.16. Memórias do contabilista Pedro Inácio

Pedro Inácio encontra nos ancestrais as razões para a sua irresistível atração pelo amor e pela contabilidade. Ledo engano.

contabilizava
amores
atração
herdada
ledo
engano

3.17. Bruma (a estrela vermelha)

A profecia de Og se realiza em Godô. Fuga, saudade e remorso trouxeram aos seus olhos aquela estrela vermelha multicor.

saudade
remorso
bruma
volta
vermelha
multicor

3.18. D. José não era

D. José, Dom José ou Danilo José. Dom, nobre espanhol. Danilo, pobre-diabo. Convicções. O que é a verdade senão a sua versão?

dom
danilo
pobre
diabo
versões
verdade

3.19. A Lua

Cris sob olhares atentos que o perseguiam todas as noites. Colhia mistérios e a lua morava nele.

cris
colhia
mistérios
ali
lua
morava

3.20. A armadilha

Alexandre volta sem avisar. Achava-se preparado para confrontar o passado. Não estava. O desespero o fez eterno prisioneiro.

passado
armadilha
confuso
confronta
eternamente
prisioneiro

3.21. O bloqueio

Gérion e as relações com a máquina do seu tempo, entre restos de sonho e fragmentos de realidade. Ao redor, tudo virando pó. Ao fim.

ruídos
destruição

resume
fim
próximo

3.22. A diáspora

Prevaleceu a ordem de construção da ponte. E a diáspora foi a estratégia para corromper os valores e as regras da feliz aldeia. Antes.

aldeia
invadida
mangora
colônia
divindade
progresso

3.23. O homem do boné cinzento

Artur ocupara-se demasiado da vida alheia. E as premonições se realizaram. Do magricela restou a cabeça no boné. Artur: bolinha negra.

vida
alheia
ocupara-se
demasiado
sumiços
cinzentos

3.24. Mariazinha

O tempo de Manacá dá voltas. Maio, vinte anos recuados e o triste fim dos homens seduzidos por Mariazinha. Forca e suicídio.

morrendo
tempos
voltam
vivi
morri
mariazinha

3.25. Elisa

A bela estória de uma paixão não declarada. Amar e viver requer coragem. Sem se declarar uma paixão não fecunda.

paixão
guardada
coragem
faltara
dizê-la
amor

3.26. A noiva da Casa Azul

Por raiva Juparassu da adolescência tornara-se o próximo destino. Para encontrar Dalila. Presente, passado, lembranças.

dalila
vivera
realidade
presente
passado
lembrança

3.27. O bom amigo Batista

José considerava Batista o bom amigo. Sobre as evidências em contrário, erguia conclusões ingênuas da eterna amizade. Pobre José.

pobre
josé
amigo
batista
auto
engano

3.28. Epidólia

Epidólia desapareça. E Manfredo a procurou por toda parte. Até o mar veio e se foi. E ela nunca mais foi vista na cidade envelhecida.

epidólia
sumiu
novo
mar
cidade
envelhecida

3.29. Petúnia

Dona Mineides arranjou Cacilda para Éolo. Depois morreu para infernizar a nora. E as petúnias filhas foram mortas. A sina de Éolo.

desenterrar
petúnias
retocar
mãe
rosa
negra

3.30. Aglaia

Colebra não queria filhos. Aglaia concordou, mas ficou grávida e quis abortar. Depois disso, o castigo: infindáveis gestações absurdas.

colebra
aglaia
abortou
castigo
gestações
infindáveis

3.31. O convidado

A vida é um convite festivo enigmático. Sem prazo e sem destino certos. Viver - aceitar o convite - é arriscado. Alferes que o diga.

vida
convite
incerto
caminho
destino
errâncias

3.32. Botão-de-Rosa

Botão foi preso por um crime e condenado por outro. Por vontade do juiz e para preservar a reputação da cidade. A pena? Morte.

pobre
réu
defensor
entorpeceu
pena
morte

3.33. Os comensais

Jadon negava a morte sem saber que ela chegara para ele. Os sinais, não entendia. Até que a desejou sem mais poder encontrá-la.

comensais
sinais
morte
negada
morte
perdida

4. Rubião e um aldravianista

Ao estudar a obra de Rubião para o discurso de posse na ALACIB, foi possível construir uma gama de impressões sobre a narrativa do escritor, de um ponto de vista deliberadamente aldravianista. Seja pela tentativa de síntese, seja pelo esforço de encontrar a aldrava poética que bate às portas da imaginação, esperando que se abram. Imaginação favorecida e estimulada pelas ideias e personagens que habitam o mundo dos absurdos murilianos.

Rubião descreve a realidade do cotidiano, mas de forma essencialmente fantasiosa; seu estilo: realismo mágico. Fantasia a realidade sem ser prolixo, sempre parcimonioso e preciso na escolha das palavras e da narrativa.

A narrativa de Rubião oferece amplo espaço para interpretações variadas; quase tudo é deixado à mercê do que imagina o leitor. No entanto, é oferecida uma âncora. Seus contos são epigrafados por uma citação bíblica que sugere a essência da estória.

Murilo Rubião narra situações fantasiosas sobre as quais naufraga qualquer tentativa de plausibilidade. Para ele, realidade e fantasia são irmãs.

Meticuloso, Murilo Rubião constrói estórias que brincam com o imaginário do leitor. E, assim, é um deleite ler seus contos. Excelente exercício para as faculdades de fantasiar que nos fazem especial e integralmente humanos.

Dessas águas, emergiram trinta e três aldravias inspiradas na obra do contista, visitada sob o olhar da interpretação sem limites, própria da poesia aldravianista e tão favorecida pelo realismo mágico praticado por Murilo Rubião.

5. Bibliografia

Este estudo foi baseado no livro: Murilo Rubião: Obra Completa, edição do centenário, Editora Companhia das Letras.

(*) Poeta e escritor, membro efetivo da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.


Edição em 28 de março de 2019 por J. B. Donadon-Leal