Registrada em 06 de abril de 2009

A ALACIB é uma Associação Literária sem fins econômicos, com sede e foro em Mariana, Minas Gerais, CNPJ 10778442/0001-17. Tem por objetivo a difusão da cultura e o incentivo às Letras e às Artes, de acordo com as normas estabelecidas no seu Regimento. Registrada em 06 de abril de 2009.

Diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Presidente: Andreia Aparecida Silva Donadon Leal
Vice-Presidente: J.S. Ferreira

Secretário-Geral: Gabriel Bicalho
Tesoureiro: J. B. Donadon-Leal
Promotora de Eventos Culturais: Hebe Maria Rôla Santos
Conselho Fiscal e Cultural: José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Magna das Graças Campos e Anício Chaves

Acadêmica MAGNA CAMPOS
Cadeira nº 18
Patrono: Cora Coralina


 

Notas Biográficas de Magna Campos

Magna Campos (Magna das Graças Campos) é escritora e professora do Ensino Superior. Nasceu na cidade de Ouro Preto, mas reside há alguns anos em Mariana (MG). Graduada em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto – Instituto de Ciências Humanas e Sociais (2003), Especialista em Língua Portuguesa – PUC-MINAS (2005) e Mestre em Letras: Discurso e Representação, pela Universidade Federal de São João Del-Rei (2009). Atua nas disciplinas na área de Leitura e Produção de Textos em vários cursos universitários, dentre eles: Letras, Turismo, Ciências Biológicas, Nutrição, Direito, Gestão Ambiental, Pedagogia, Automação, Recursos Humanos, Segurança, Engenharia de Produção e Engenharia de Minas. É membro efetivo da ALACIB, na qual ocupa a cadeira de nº 18 cuja patrona é Cora Coralina. Publicou, em 2010, o livro “Ensaios de Leitura Crítica” (Editora VirtualBooks), em 2012, “Leitura e Escrita: Nuances Discursivo-Culturais”, prefácio de J.B. Donadon-Leal, (Editora Aldrava Letras e Artes). É autora dos livros literários “Beto Muleta não, Beto Joia” (Literatura Infantil), de 2003, e “Cutrica e Futrica & a Festa no Pé de Pitanga”, ilustração de Deia Leal (Livro de Literatura Infanto-juvenil), de 2010. Participou como contista nas Antologias: “Lumens” (Ed. Aldrava Letras e Artes), de 2011, e “Liberdade” (XXXIV Concurso Internacional Literário – Ed. AG), de 2012.

Discurso de Posse

Saudação a Cora Coralina

Em primeiro lugar, agradeço a todos os membros da Academia de Letras do Brasil[1]- unidade Mariana, pela possibilidade de integrar a esse grupo e de fazer parte dessa Casa – cujas tramas são elaboradas com palavras, tintas, formas, texturas, notas musicais e muita criatividade –, e de nela ocupar a cadeira de número 18. Cadeira essa que será dedicada à poetisa e contista Cora Coralina.
Cora nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto, em 1889, em Vila Bôa de Goyas, e fez de sua relação com a vida um motivo a ser escrito em seus versos livres, tecidos no caminho das pedras de sua existência. Pois é ela mesma, por meio de uma descrição poética no poema Das Pedras, que se diz como sendo “aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”.
Uma mulher que só conseguiu publicar seu primeiro livro já no tarde da vida, viúva e vestida de seus cabelos brancos; com mais de 70 anos... E que, mesmo tendo cursado apenas até a antiga 3ª série do grupo, não se deixou engolir pela hostilidade dos familiares e pela falta de estímulos sociais e econômicos para ser literata.
Cora, que sentia no fundo de “seus reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo” e que, ainda assim, SOBREVIVEU, “recompondo-se aos bocados, dos rígidos preconceitos do passado”. “Recriando-se sempre, sempre” graças aos olhos inquietos de criança que não a abandonaram jamais e, também, às muitas leituras feitas ao longo de sua trajetória. A escola da vida, diz Cora, suplementou-me as deficiências da escola primária. E foi assim, já em seu terceiro livro publicado, abrindo caminhos difíceis, que ela nos chega:
“Sem referências a mencionar.
Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.
Nem menção honrosa.
Nenhuma láurea”.

E pede passagem na vida literária brasileira...
Cora expressou com singularidade, em seus escritos, o seu tempo e a ligação com seu meio. Imprimiu aos seus textos a marca do oral e dos causos interioranos. Uma verdadeira contadora de histórias, não da história oficial, registrada nos anais da cidade de Goiás, mas a história dos que não têm voz; a sabedoria dos anônimos.
Mulher que, quando indagada, respondia: “_ Cora, uma poetiza? Não! Cora uma mulher da luta, uma doceira!” E que dizia escrever porque sua mão coçava, em virtude das palavras que precisavam ser “cristalizadas”, tal qual seus famosos doces. Uma mulher que se entrega ao ofício e à identidade de doceira como réplica às dificuldades encontradas para publicar seus textos. É dela mesma esta afirmativa descrita no poema Quem é Você:
“Sendo eu mais doméstica do que intelectual,
Não escrevo jamais de forma consciente e raciocinada,
E sim impelida por um impulso incontrolável...
[Pois] Nasci para escrever, mas, o meio,
O tempo, as criaturas,
Contra-marcaram a minha vida.”
Em suas memórias, delineadas em versos, Cora abre os porões de suas lembranças e se lê como sendo Aninha; aquela do Rio Vermelho, da Casa Velha da Ponte... uma mulher marcada pela coragem, pelo fazer, pelo contar, pelo viver, e tão lindamente descrita na seguinte passagem:
Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
E trago comigo todas as idades.

Demonstra-nos no livro Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha, admirável entendimento do poder da escrita, especialmente da sua, ao afirmar:
“Quando eu morrer, não morrerei de tudo.
Estarei sempre nas páginas deste livro,
Criação mais viva da minha vida interior em parto solitário”.
Assim ela partiu, levou seus doces, mas nos deixou os versos. E hoje, nesta oportunidade singular, eu a saúdo, Cora Coralina! Esteja, também, revivida aqui, nesta cadeira que honrosamente a terá por patrona. Brinda-nos com sua doçura poética, com sua mão coçante, com seu olhar inquieto de criança, com sua modéstia e sensibilidade, enfim, com seu gesto criador. Ajuda-nos a indagar sempre por quantas Aninhas corajosas, pouco estudadas, existirão esparrodadas pelo Brasil afora? Quantas Aninhas cujas histórias e poesias não conseguiram vencer as pedras do caminho, assim como você vencera, levantando “das pedras que lhe esmagavam” a pedra rude dos seus versos? Por isso, Cora, dignifica, com sua conquista, essa cadeira, em nome das muitas mulheres, jovens ou velhas, das quais não escutamos sequer os sussurros e, também, em nome de todas as que se arriscam nas letras, “removendo pedras e plantando flores”.

Poemas de Magna Campos

A escrita

A escrita,
Produto cultural
Por excelência,
Alimenta
As práticas sociais
E delas se faz corpo.
Encontra na historicidade
A matéria vertente
De sua existência.
De suas veias.
Onde encontra pouso,
Atravessa a todos.
Diz dos homens,
Diz aos homens
E é dita neles.
Qualifica e desqualifica.
Difunde ideias,
Mas também as oculta.
A uns,
Confere poder
E aninha.
A outros,
Emudece
E cria fronteira.
Aduba, gera, espera, cala.
Mas, jamais neutra,
Jamais intocada,
Jamais completa.

Florescimento

Clareie o caminho
Que a ti se mostra
Com os cacos
Recolhidos de ti mesmo.
Jogue-se na vida
E saboreie o mundo
Que a vida inteira
Desconheceu.
Acerte bem firme, o teu pé,
No pó deixado no chão,
E alcance terra firme
No solo do teu coração.
Viva, a cada instante,
A germinante coragem
Que te brota;
Escrita que foi
A rogo de sua fé.
E sinta o amanhecer
Inundar a multidão
Que existe em você.

Texturas

O vento vem arrastando, pelas abas das serras,
Uma série de telas germinadas pelo tempo,
Que, aos poucos, vão sendo postas
Nos canteiros dos dias.
E, de repente, despertamos
Envolvidos pela primavera:
Essa eterna serva da esperança!
As cores, não mais acanhadas,
Esparramam-se nas flores e preenchem os frutos,
Que esbanjam perfumes de singular completude
E sabores sossegados de toda pressa.
A árvore se desperta armada em folhas,
Tomada, por inteira, pela Fênix magistral,
E convida, a quem quer que a veja,
Para campear as saudades, esquecidas no fundo peito,
E rebrotá-las nas lembranças.
Saudades àquelas capazes de inundar,
Até mesmo, as tristezas maiores.
Que cessam o cansaço angustiante
Das depressões sentidas.
Lembranças que servem de alento às idades
E mostram, tal qual a estação, que, entre ilusão e verdade,
O melhor é ser, a cada tempo,
A constança e a novidade.

Crime

Estéril da leitura
Da palavra,
A língua analfabetizada
Foi selada.
Abandonado à própria sorte,
Aquele que não lê,
Foi deixado.
Órfão de um mundo,
Violentamente,
Criptografado.
Ensurdecido e,
Tristemente,
Condenado.

Escola

A escola que trago na memória
Guarda segredos em mim.
Fala em minha fala,
Lê em minha leitura,
Escreve em meus textos
E serpenteia em meus pensamentos.
Não se proíbe de ser,
Não se proíbe de não saber,
Não se proíbe de perguntar.
E está sempre pronta para aplaudir
E para criticar.
Alimenta-se de solos férteis,
Mas não se deixa fixar,
Move-se entre passado e futuro
E se demora no presente,
Mesmo quando esse lhe diz para não demorar.
A escola que trago na memória
Faz-se mapa, de muitos caminhos,
Diálogo de muitas vozes,
Ciência de muitos saberes.
A escola que trago na memória
Será sempre em mim,
Não aquela que exclui
Isso ou aquilo.
Mas aquela que integra
Isso e aquilo...

Acordar cedo

A manhã que rompe,
Violenta a noite.
Sem pedir licença,
Escancara a janela
E joga,
Com toda a força,
Em nossa cara,
O dia.


[1] Hoje ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil.

Recensão crítica do livro: Os quatro meninos 2: passeio não autorizado pela Gruta do Solitário
por Magna Campos

Luizinho, Guto, João e Osvaldinho formam uma amizade que nos faz retornar, sem grande esforço, à nossa pré-adolescência e àquela vontade de desbravar o mundo com nossas próprias pernas ainda que estas, por vezes, sejam incapazes de alcançar o ritmo de nosso desejo de aventuras, sem maiores preocupações ou consequências.
Em Os Quatro Meninos 2, a construção narrativa chama a atenção, pois se assemelha a um roteiro cinematográfico, que, em um primeiro momento, é capaz de ao mesmo tempo nos apresentar os personagens principais, delineando-os física e psicologicamente, como também de nos trazer o cenário e o enquadramento da cena de forma a nos aproximar, ponto a ponto, de cada um dos quatro personagens, levando-nos a entender um pouco de seu “universo particular” e de sua inscrição naquele círculo de amizade.
Tal efeito de narrar, aproximando-se como se fosse a close-up ou a médio plano, conduz-nos em toda a primeira parte do livro e, quando nos damos conta, já estamos imersos no ônibus que conduz os quatro meninos e seus colegas de sala a uma visita ao Parque Ecológico do Kabisconde, abrindo, assim, a segunda parte da história.
E é num plano mais aberto que se inicia a narrativa do passeio, escolha que nos ajuda a conhecer com os garotos as trilhas do parque e, até mesmo, tramar junto deles o passeio às escondidas à Gruta do Solitário. Afinal, qual maior sabor de aventura que ir aonde ninguém mais foi e levar essa experiência da viagem como um troféu à parte, um segredo para uma vida toda.
Saímos às escondidas com os quatro à noite, pela trilha, para nos aventurar na Gruta do Solitário, e num jogo narrativo que parece aproximar e distanciar o enquadramento da cena, quase conseguimos ouvir o farfalhar das folhas das árvores mais intensificado e o barulho dos galhos estalando no chão pisados por alguma coisa, um temor coletivo nos envolve, sentimos as sombras e vultos ladeando os quatro e nos assustamos com rapto de cada um, sabe-se lá para onde ou por quem.
Alívio! Essa é a sensação que nos toma ao sabermos que estavam todos bem, no dormitório, que tudo não passara de um cuidado do diretor do parque que os seguira para evitar que os garotos, levados pelo desejo inconsequente de uma aventura, pudessem se machucar ou se perder na mata do parque.
O “roteiro”, entretanto, sem ser piegas, aproveita a oportunidade para ensinar aos pré-adolescentes que as escolhas e as violações de regras de proteção à vida podem trazer consequências sérias. Fato que marca um ritual de passagem importante, pois os quatro garotos agora precisam assumir seus atos, avaliá-los com bom-senso e se desculpar por eles. E, em lugar de lições de moral vazias, a autora coloca em seus caminhos adultos que se importaram em auxiliá-los neste aprendizado, afinal, ninguém amadurece só com reprimendas ou sermões. É preciso educar para a vida!
E assim, narrativa, ilustrações e enquadramentos constroem uma história que, mais do que qualquer outra coisa, fala do quanto amizades e aprendizados são importantes para o nosso crescimento pessoal.

Mariana, 21/04/2019
Recensão postada em 31 de maio de 2019

Discurso de saudação a Giseli Ferreira Barros

Caríssimos acadêmicos, neoacadêmicos, amigos e visitantes, recebam todos o meu cumprimento, nesta noite de 18 de maio de 2019, sejam muito bem-vindos a mais esta reunião da ALACIB.
Em especial, cumprimento a neoacadêmica, Giseli Ferreira Barros, que a partir de agora passa a integrar oficialmente a Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, a ALACIB-Mariana, na cadeira cujo Patrono é o mineiro Bueno de Rivera.
Giseli Barros é autora de coletâneas de aldravias publicadas no Livro VI das Aldravias, de 2018, e no Livro VII das aldravias, de 2019 (ainda no prelo). É a idealizadora e a organizadora do livro Aldravia: na via de florescer – que será lançado aqui hoje –, livro este que foi escrito com os alunos do Colégio Flecha e traduz uma verdadeira vivência literária. Ela também é autora de artigos no campo acadêmico-científico.

Meus caros presentes, certa vez, Clarissa Pinkola Estés, autora que muito admiro, escreveu na voz de uma sábia senhora a seguinte reflexão, para a qual os convido a acompanharem comigo. Diz a sábia senhora:

“... Venha, sente-se comigo um pouco. Vamos fazer uma pausa, deixando de lado todos os nossos “inúmeros afazeres”. Haverá tempo suficiente para todos eles mais tarde. Em um dia distante, quando chegarmos às portas do paraíso, posso lhe garantir que ninguém vai nos perguntar se limpamos bem as rachaduras das calçadas. O que é mais provável é que no portal do paraíso queiram saber com que intensidade escolhemos viver; não por quantas “ninharias de grande importância” nos deixamos dominar.”

Essa reflexão nos remete a esse “velho realejo do mundo”, o todo poderoso relógio, que com seu incessante tic-tac, parece nos lembrar, impiedosamente, de nossa crescente falta de tempo, tomado que estamos por nossos “inúmeros afazeres”, que mal cabem no dia, e que, muitas vezes, nos cegam para aquilo que realmente importa.
Não seriam muitas dessas ocupações, com as quais gastamos parte considerável de nosso tempo, “ninharias de grande importância” que andam retirando nosso descanso, nosso sono, nossa atenção verdadeira ao outro, minando nossa capacidade de concentração e nos levando, até mesmo, à alienação do mundo real?

Quanto de nossa rotina diária, Giseli, está tomada por essa nossa necessidade de preencher todo o nosso tempo com alguma tarefa, às vezes, sem importância em essência? Inventamos a máquina e a tecnologia, por exemplo, para ganharmos mais tempo, e, cada vez mais, temos nos tornado, em muitas situações, verdadeiros servos e escravos delas.

Veja, por exemplo, o grande tempo que consumimos na internet, alimentando ou sendo alimentados por notícias e mais notícias, postagens e mais postagens, cliques e mais cliques, gerando em nós uma ansiedade sem precedentes na história; mas, tristemente, ignoramos o que nos rodeia, precede e continua. Somos capazes de comentar ou discutir vários assuntos na net o dia todo e não nos lembramos de conversar com que está ao nosso lado.

Afinal, a vida é muito mais do que vemos em nossas timelines das redes sociais, e, muitas vezes, sugados que estamos pelas inúmeras telas brilhantes de nossos aparelhos tecnológicos, esquecemo-nos de ver o mundo real e deixamos de viver grandes experiências, capazes de dar sentido profundo à nossa vida, como você sugere, Giseli, na aldravia a seguir:

olhos
na
tela
amor
passou
adiante

E, neste cenário, alivia-nos saber que uma escritora e professora com sua percepção crítica, empenho e competência continua firme na sua atividade de educar mentes e olhares. Pois, ao menos assim, as pessoas que têm a oportunidade de lerem-na ou de ouvi-la, terão em você um verdadeiro contraponto direcionado para a reflexão e para a realocação de prioridades focadas na poesia da vida e das relações humanas mais que no ódio e no barulho impiedoso dos linchamentos virtuais (tão em moda atualmente).

Por isso, lembre-se Giseli, que é do contraste que nasce a consciência, assim é por existir o som, que percebemos o silêncio; é quando perdemos algo como a saúde, a paz de espírito, a tranquilidade, a campainha e a vivência de alguém, que, muitas vezes, percebemos o valor que tinham e o quanto nos fazem falta.

Assim, é neste mundo em que nos desencantamos do real que vemos ainda mais a importância da arte para ressignificá-lo, para livrar-nos da tirania do tempo e das ninharias de grande importância, e, para restabelecer-nos o desejo da epifania e da transcendência. Mas isso, você sabe bem e já até expressou em uma aldravia, quando escreveu:

da
pena
do
poeta
nasce
amor

Sensibilidade poética e percepção crítica da qual você nos dá mostra em várias de suas outras aldravias, captando, por meio delas, momentos delicados no cenário nacional e conseguindo expressá-los, provocativamente, ainda que em poucas palavras, em uma linguagem fluída e carregada de sentido, como quando, por exemplo, quando tece sua crítica ao fato de nossa Constituição ser desrespeitada por quem deveria velar por ela, como na sua aldravia a seguir:

a
carta
rasgada
Brasil
no
chão

Ou, quando num jogo de palavras, você consegue dizer da realidade de muitas crianças moradoras das comunidades das grandes metrópoles, que são obrigadas a viver se desviando de tiros, de traficantes, de milicianos, da falta de recursos, fazendo verdadeiros malabarismos vivenciais, e, ainda assim, muitos encontram finais trágicos, como denunciado em outra aldravia sua:

menino
malabarista
desce
morro
morro

morro

Quantos meninos malabaristas desviando de balas terão que morrer, anônimos e sem importância social, para que essa dura realidade possa ser verdadeiramente considerada? Até quando teremos

no
planalto
caviar
na
favela
balas

Como você mesma nos indaga, em outra aldravia, Giseli?

Em tempos de perseguição aos cursos ligados às humanidades, arriscando que sejam sufocados e se tornem cada vez mais ensino de conteúdo e cada vez menos ensino reflexivo, crítico e provocativo; é justamente neste cenário, que se torna ainda mais importante nos rodearmos de pessoas como você, quer seja no campo do magistério, quer seja no campo da literatura.

Pois, pessoas assim nos ajudam a desvelar o olhar para aquilo que nos dessensibilizamos com o tempo, e, também para o que nos é omitido, a fim de conseguirmos perceber os inúmeros jogos de poder que tentam amordaçar, não apenas nossas palavras, mas também nossos pensamentos. Pois como nos diz o grande Mario Vargas Lhosa, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2010:

Quem duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto, a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes.

Neste contexto, você, Giseli, que é ouropretana de nascimento e marianense de coração, que é mestre em Literatura pela UFMG e graduada em Letras pela UFOP, que é professora com larga experiência profissional, que vai da Educação Infantil ao Ensino Superior, agraciada no ano passado com o diploma de Mérito Educacional, pelo reconhecimento da ALACIB à excelência de seu trabalho como educadora, tem se mostrado uma escritora de grande potencial e sagacidade.

Por isso, minha cara Giseli Barros, esta casa abre suas portas e corações para recebê-la como membro efetivo, na certeza de que trilhará aqui dentro um caminho de luta pela cultura – pela educação literária, científica e artística – de todos aqueles que pudermos alcançar.

Consagrando assim a “intensidade com que escolhemos viver”, para a qual alerta a sábia senhora do início de minha fala, desvinculando-nos, cada dia mais, das “ninharias de grande importância” que tentam o tempo todo nos dominar e reduzir a nossa vida a um espectro autômato, totalmente desumanizado!

Seja, então, muito bem-vinda e muito obrigada!
Mariana, 18 de maio de 2019, 18h, reunião da ALACIB, auditório do ICHS/UFOP.
Comunicação postada em 31 de maio de 2019

Discurso de Apresentação do livro “As quatro meninas”
Boa tarde a todos;

Quando Andreia me convidou para fazer a apresentação de seu novo livro, As Quatro Meninas, senti-me muito honrada, como seria natural a qualquer agraciado com tal convite, mas ainda mais que honrada, senti-me, simplesmente, feliz!
Felicidade de poder me enredar mais uma vez por esse caminho ímpar dessa arte de modelar cenários, vidas, sensações e sentimentos por meio dessa varinha de condão chamada LINGUAGEM.
E, assim, ganhei de presente a leitura, ainda em primeira mão, dos manuscritos dessa história na qual as adolescentes Sandra, Denise, Helena e Rita, personagens principais de As Quatro Meninas, fazem-nos sentir suas pulsações e seus desejos de serem ao mesmo tempo iguais aos de seu grupo, mas, de serem também diferentes e únicas. E, por isso mesmo, pela capacidade de captar com a narrativa tal contraste, que o livro se torna tão fiel ao universo retratado.
Já havia me encantado com a primeira história infanto-juvenil publicada em, Os Quatro Meninos, livro lançado em 2014, e ver em seu sucessor que, na voz de Andreia, há, de fato, a linguagem, as inquietações e as peripécias juvenis de uma geração significada nas e pelas redes sociais, falante, ou melhor, “teclante” fluente nos bate-papos virtuais do face, mas que, como todos nós, estremece a voz e se enrubesce no face a face com o outro desejado.
E, nas incertezas de um primeiro encontro amoroso, que se inicia nos ambientes virtuais, as quatro meninas, cada uma à sua maneira, são dominadas pelo desejo de conhecer quem eram os garotos com quem teclaram dias a fio.
E, assim, Andreia incute em nós essas incertezas e expectativas e somos, literalmente, capturados pelos sete capítulos de As Quatro Meninas, ávidos por sabermos não só o desfecho daquele encontro, mas por continuar a experimentar a sensação desperta em nós pelo rememorar inevitavelmente trazido, página a página, do livro de nossas próprias histórias, de nossas amizades e confidências trocadas no comum dos dias de uma fase tão inquietante da vida de qualquer um.
Dessa maneira, somos alçados por nossas lembranças e lemos, intertextualmente, a narrativa, como se dela ouvíssemos mais que as vozes de Sandra, Denise, Helena e Rita, mas também as vozes daqueles amigos e amigas que nos acompanharam ou acompanham em momentos memoráveis de nossa caminhada.
Por fim, parafraseando Mario Quintana, quero lhe dizer, Andreia, que um bom livro é aquele que temos a impressão de estar lendo a gente, e não a gente a ele. Obrigada pela felicidade dessas duas leituras!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 23 de maio de 2015.


Discurso de saudação a Paulo José de Oliveira e Creusa Cavalcanti França

Caríssima presidente da ALB- Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Caro Vice-Presidente da ALB-Mariana, J. S. Ferreira;
Presidente Executivo e Editor da ALB-Mariana, J.B.Donadon-Leal;
E Secretário-Geral da ALB-Mariana, Gabriel Bicalho;
A todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!
Cumprimentos que estendo carinhosamente aos demais colegas confrades e confreiras desta instituição, a seus familiares e amigos;
Aos jovens da Academia Infanto-juvenil de Letras de Mariana e à sua diretoria: D. Hebe Rôlla, Agda e Jailda;
Aos visitantes que vieram nos prestigiar;
E, em especial, aos neoacadêmicos, Paulo José de Oliveira e Creusa Cavalcanti França, que a partir de hoje passam a nos honrar com suas integrações a esta instituição!
“Escrever [caros ouvintes] é uma arte que brota n’alma. É uma arte que é alimentada no coração, impulsionada pela mente e grafada na mão”.
É com essa primeira citação ao trecho de um editorial da Folha Literária Formiga em Letras, escrito por Paulo José de Oliveira, também conhecido pelo pseudônimo de PAJO, que inicio o discurso de saudação ao neoacadêmico. Guiada muito mais pelo calor de sua palavra criação, que pelo “frio” de um currículo que, nem sempre, consegue representar satisfatoriamente o sujeito de quem se fala. Afinal, como afirma o próprio neoacadêmico, ainda no editorial mencionado, é “no escrever que se traduz o eu, mesmo que seja nas entrelinhas, ou na forma de rabisco”.
E escrever, especialmente na literatura, seria realmente ter a possibilidade de criar um outro viver paralelo, no qual o mundo não tem mais que ser ordenado por CRONOS, o deus do tempo, linear, torturante e esvaecente. Na literatura, o caos pode se dissipar, o feio pode se embelezar, o instante pode se eternizar, e em lugar de CRONOS, pode ser consagrado KAIRÓS, o tempo das coisas e não do efeito sobre as coisas. Não mais o tempo da espera, mas o da esperança. O tempo não consumido pelo relógio, mas experimentado em seus instantes-eternos e acima de tudo: saboreado!
Mas literatura não é um luxo escapista, como pode parecer, é criação! E é graças aos desejos e anseios que ela inspira, às mentalidades que [ela] criou e que continua criando, e à humanização do real, que a sociedade ainda é capaz de se libertar de ditaduras, sejam elas econômicas, religiosas, científicas e por que não, cultural, já que vivemos o ápice da sociedade consumista, e nele, a cultura torna-se ela própria um objeto cultural desejável ao consumo, muitas vezes irrefletido, promíscuo e banalizado. É o valor do consumo que se impõe ao próprio valor da coisa consumida.
Afinal, como propõe o escritor sul-americano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa, ao dizer que:
Quem dúvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto, a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes.
E o literato Paulo José de Oliveira atento a esse poder de revolução e de subversão da literatura, imprime no poema Capitalismo Selvagem, publicado no jornal O Pergaminho, de outubro de 2010, a sua visão crítica sobre as relações de poder instaurados pelo capitalismo atual, quando diz:
Como um dos frutos da ambição
[ o capitalismo] é cria da ganância humana
Que como um canto de sereia
Desapropria a dignidade.
[...]
No capitalismo a educação não é certeza do saber
[...]
O sistema de cotas não é garantia de inclusão
E o fruto do sistema continua sendo a discriminação.

Crítica que se mistura ao saudosismo em outro texto, agora em prosa, no conto Meu Palácio Colonial, do livro Ponto de Partida, quando o eu-lírico do escritor, ao rememorar um local importante de sua juventude e não mais existente, nos escreve:
Hoje, ao retornar saudoso naquele rincão antes sagrado, deparo-me com o domínio do mercado e do capital selvagem.
Nenhum vestígio mais existe, daquele meu palácio medieval. Apenas o capim de um latifúndio, mais que especulativo, em uma triste paisagem deformada pelo progresso.
A voz indignada com o sistema, capaz de captar um dos importantes papéis da literatura, é daquele que além de ser Turismólogo formado pela Fatur/UNIFOR/MG, Educador Ambiental, pela UNB, e Técnico em Eventos, pelo IFET, é também Presidente e Gestor do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde de Formiga – tendo escrito o Guia Histórico da Saúde: do Germinar ao Frutificar; livro que conta a história dos 15 anos do sindicato –; além disso, é ativista eco- ambiental, humanista, sociocultural, fortemente atuante na cidade de Formiga e região, e Membro Vitalício da Academia Formiguense de Letras.
Mas a mesma voz engajada, apontada anteriormente, dá lugar à voz escorreita e lúdica do trovador, que é delegado representante da UBT (União Brasileira de Trovadores). Trova essa que muitas vezes é auto referencial, como pode ser vista nos versos abaixo:
Busquei a rima na fonte
Na inspiração de minh’alma
Juntei as letras, um monte!
_ Fiz uma trova sem trauma.

O seu “buscar na fonte” lembra-me outra afirmação, agora, de Gustave Flaubert, o genial escritor de Madame Bovary e de Uma Alma Simples, [que] fez ao dizer que “escrever é uma maneira de viver”. E lendo o poema Fieis Amigos, de autoria do neoacadêmico, é possível vislumbrar o quanto a escrita tornou-se necessária para seu estar e ser no mundo. A esse respeito, ouçamos as palavras do próprio PAJO:
A caneta tornou-se amiga
Extensão fiel de meu corpo
Assim, como o fino papel
Aliado silencioso
absorve
Meus desabafos, meus desejos,
Meus sonhos e inspirações.

Essa outra maneira de viver que a literatura nos possibilita, sugerida por Flaubert e demonstrada na intimidade por Paulo, nos versos lidos, precisa ser levada à frente, precisa ser valorizada, buscada e disseminada o tempo todo e em todo lugar. E ensinada pela vivência especialmente às novas gerações. Pois como bem disse o já citado Mario Vargas Llosa:
Um mundo sem literatura seria um mundo sem desejos nem ideais nem desacatos. Um mundo de autômatos desprovidos do que faz com que o ser humano seja verdadeiramente humano: a capacidade de sair de si mesmo e mover-se em outro, em outros, modelados com a argila de nossos sonhos.

Assim, para que você, Paulo, possa também nos ajudar a moldar com a argila de seus sonhos um mundo com mais literatura, com mais arte, que é, em nome da Academia de Letras do Brasil-Mariana, uma instituição que tem como objetivo a difusão da cultura e o incentivo às Letras e Artes – e que vem construído suas tramas com palavras e obras que nos entrelaçam cada vez mais à sociedade e não com paredes, que nos isolem do mundo – [ é em nome dessa instituição] que lhe dou as boas-vindas a esse grupo, para tomar posse como membro efetivo desta academia, da cadeira de nº 23, cuja patrona escolhida será sua conterrânea e literata, Maria Ruth de Souza Pinto.
Saudações e Muito Obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 20 de agosto de 2011.


Discurso de Saudação a israel Quirino /Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB

Caríssimos membros da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – a ALACIB-Mariana –, a todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado, 12 de outubro.

Cumprimentos que também estendo carinhosamente aos neoacadêmicos, ao homenageado, aos amigos e aos visitantes que aqui nos prestigiam com suas presenças!

E, em especial, cumprimento o neoacadêmico, Israel Quirino, que, a partir de hoje, passa a integrar a esta associação literária que tem se dedicado a difundir e a promover as Letras e as Artes, essas dimensões de encantos da criatividade humana!

Meus caros amigos, a ALACIB tem recebido, em seus cinco anos de história, pessoas cujo mérito não está em serem simplesmente literatos, músicos, artistas ou pesquisadores. Diria que o mérito maior está em serem tudo isso, sendo, ao mesmo tempo, pessoas comuns.
Pessoas que trabalham e que desenvolvem projetos pessoais e profissionais nas mais variadas áreas de atuação e que, ainda assim, encontram tempo, cada qual à sua maneira, para criar, contar e recontar histórias, quer seja pela tradução estética da língua, do som, da imagem ou das formas.
Hoje recebemos nesta nossa associação um desses criadores-contadores de história, que nos traz a palavra nova, a palavra de renovação contra a força impeditiva e massificadora, que circunscreve o nosso fazer à média dos dias corridos que vivemos. Palavra nova que nos serve de Logos, aquela palavra capaz de criar e de fazer pensar. Que sacia a nossa sede com a água puxada do poço da imaginação, e que ajuda a tramar a nossa consciência do mundo e a saborear o agora, mais do que, letargicamente, consumirmos um futuro vendido em pacotes de alienação e de desesperança.
É nesta nossa realidade mundana, cada vez mais fragmentada e automatizada, que ainda mais, precisamos da palavra nova para nos ajudar a descolonizar as ideias e a ver as coisas e as pessoas com olhos desacostumados. Olhos capazes de reencantar-se com o humano, com o mundo e com as coisas do mundo. Pois aquilo que vemos constantemente, não raro, nos é fugidio à percepção ou como nos diria o poeta Manoel de Barros: "As coisas muito claras me noturnam" [a elas sou cegado].
E nisso, meus caros, Israel Quirino, esse marianense multifacetado, muito tem a nos ensinar, pois um cronista de jornal precisa o tempo todo descolonizar o olhar e pensar o mundo com seus próprios olhos, como diria o crítico cultural, prof. Milton Santos.
Um homem que se metamorfoseia ao mesmo tempo num professor respeitado nas faculdades em que trabalha, num advogado militante há muito reconhecido na área de direito público de nossa região, num administrador dinâmico, num pai e marido zeloso. Um homem que pede, sem vaidade, na crônica “Aos Eleitos”, lugar para “a sua fala enrouquecida sem o dourado das palavras dos púlpitos [...]”.
Como literato, Israel Quirino, além de cronista dos jornais locais, é um ensaísta social audaz, um poeta e um romancista/novelista que faz sua peregrinação introspectiva pelos “Caminhos de Emaús”, título de seu mais novo livro, o qual lança hoje aqui conosco.
Um escritor que se observa, na mesma crônica “Aos Eleitos”, como um caminhante aventureiro nas estradas das palavras perpetuadas pelo registro e se indaga: “Num relance observei meus passos incertos nas calçadas seculares da vida, sem vaidade, como a me perguntar se preparado estava para ser perene”.
E a quem nesta modesta saudação eu respondo, fazendo minhas as palavras do inigualável Charles Chaplin: _ Israel, “o triunfo pertence a quem se atreve”. Celebramos aqui o seu atrever-se a dizer e a si dizer, sensível ao mundo que o rodeia e às vozes que o povoam.
Atrever-se que pode ser observado desde o livro “Galerias”, de 1986, nas poesias do livro “Anjos Vadios”, de 1988, no ensaio político “Iluminado ao Sol do Terceiro Mundo: o neoliberalismo e a atrofia do Estado Brasileiro”, de 2000, nas páginas do manual “Os Caminhos da Lei”, de 2011, na sua peregrinação pelas páginas da novela “Caminho de Emaús”, de 2013, e nas inúmeras crônicas sociais já publicadas nos Jornais: Voz de Mariana, Ponto Final, A Semana e na Agenda Cultural.
Assim, para que você, Israel, possa nos trazer a sua palavra nova, é que, em nome da ALACIB, dou-lhe as boas-vindas a este grupo, para tomar posse como membro efetivo desta academia, da cadeira de nº 35, cujo patrono é o Cláudio Manoel da Costa, assim como você, um marianense, um advogado, mas acima de tudo, um notável descolonizador do olhar, sensível às ideias de seu tempo e aos anseios de independência de sua gente.
Israel Quirino, saudações e muito obrigada pela honra de poder saudá-lo!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 12 de outubro de 2013.

 

Discurso de saudação à acadêmica Zaíra Melillo Martins

Prezados membros da diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (ALACIB), nobres colegas acadêmicos e queridos visitantes, a todos vocês o meu fraterno cumprimento e o meu “boa tarde”!

Certa vez, Cecília Meireles escreveu que “embora o vento seja o mesmo, a sua resposta é diferente em cada folha”. E é dessa peculiaridade das respostas, capaz de falar de maneira tão diversa em cada um e a cada momento, que me aproprio para saudar a neoacadêmica, Zaíra Melillo Martins.
Essa escritora tenaz, professora e revisora de textos, é pós-graduada em Psicopedagogia e graduada em Letras. Uma mineira, cujo cenário de sua formação é enredado pelas
“manhãs
frias
cerração
baixa
montanhas
encobertas”

poeticamente descrito em um trecho de sua aldravipeia cujo tema é “montanhas”. Cenário esse que é matéria- prima não apenas de seus versos, mas também de sua história pessoal. História que se enreda e se constrói pelas montanhas de Itabirito e de Caeté.
Zaíra Melillo Martins, uma mulher que entendeu, desde cedo, que contar histórias confere movimento à nossa vida interior e dota-nos da capacidade para compreender a vida se fazendo, ou, como diria João Cabral, “vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica”.
Mãe de duas filhas, Daniela e Carmem, conta-nos no livro “De meninas e de bichos”, com o tom materno e linguagem de “alpendre” das casas mineiras, sobre a experiência de ser mãe e sobre o dia a dia das filhas, ainda pequenas à época da narrativa, no beiral da infância e pré-adolescência. E também das idas e vindas da família com os vários bichos de estimação e de suas desventuras com todos eles.
E mais que nos contar uma história da infância das filhas, o mais curioso do livro de Zaíra Melillo é nos deixar entrever na narrativa sobre como “o vento comum da maternidade” gerou respostas “diferentes em relação a cada filha”... O quanto às meninas eram diferentes e o quanto, cada uma em sua singularidade, dava sentido à vida da autora.
Na literatura, além do livro mencionado, a neoacadêmica já escreveu e publicou poemas, contos e crônicas, tendo iniciado o caminho da publicação aos 16 anos. Acumula prêmios e medalhas na área da literatura desde 1971; tendo sido, em 2010, homenageada com o troféu Carlos Drummond de Andrade, em Itabira, no evento “Destaques do Ano”. Participou de várias antologias em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e em antologias internacionais.
E, tal qual a maria-fumaça definida em verso por Zaíra
“Como
Alma
Mineira
Incansável
Serpenteando
Trilhas”

A literata experiente é membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (AMULMIG), representando a cidade de Itabirito, desde o ano de 2000. Sócia-correspondente da Academia de Letras de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. Participa do Conselho de Turismo (CONTUR), da Prefeitura Municipal de Caeté, e é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas. Participou do Salão do Livro de Paris (em 2012), como autora integrante da antologia bilíngue, Escritores contemporâneos de Minas Gerais, e da Semana Luso-Brasileira em Portugal e Ilha da Madeira (em 2013).
E é a essa escritora a quem tenho a honra de saudar em nome ALACIB, que, a partir de agora, ocupará a cadeira de número 37, cujo o patrono é o aclamado poeta mineiro, Affonso Ávila – escritor que embora tenha morrido em 2012, permanece presente entre nós por meio de sua poesia visceral.
Zaíra Melillo Martins, seja muito bem-vinda a esta instituição e que o “vento da criatividade” continue provocando “respostas tão peculiares” nas folhas de seus textos.
Muito obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 28 de junho de 2014.


Discurso de Saudação a Maura Martins e a Humberto martins /Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB

Caríssima presidente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB- Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Presidente Executivo e Editor, J.B.Donadon-Leal;
Caro Secretário-Geral, Gabriel Bicalho;
E Tesoureiro, J. S. Ferreira;
A todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!

Cumprimentos que estendo carinhosamente aos demais colegas confrades e confreiras desta instituição, a seus familiares e amigos;
(caso apresentem-se); Aos jovens da Academia Infanto-juvenil de Letras de Mariana e sua diretoria;
Às Meninas Cantoras de São Gonçalo e à regente Maria da Piedade de Sousa Rodrigues;
Ao cantor Fafá da Barra.
Aos visitantes que vieram nos prestigiar;

E, em especial, aos neoacadêmicos, Maura Maria da Silveira Salgado Martins (Maura Martins) e Humberto Eustáquio Martins de Oliveira (Humberto Martins), que a partir de hoje passam a nos honrar por fazerem parte desta sociedade!

Meus caros amigos, esta sociedade cultural a que pertencemos vem tentando, com grande afinco, integrar três grandes áreas do saber e da criatividade humana: as artes (com suas tintas, suas notas musicais, suas formas, suas texturas e interpretações); as letras (com suas palavras serenadas de querer e suas linguagens múltiplas) e as ciências (com suas análises/ ensaios e buscas constantes).
Tal integração é buscada porque entendemos, usando as palavras de Manoel de Barros, que:

“A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos.

A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

[e ] Os sabiás [ meus amigos] divinam.”

É com esse texto provocador, escrito pelo poeta matogrossense, que desafia àquela ciência reducionista à materialidade racional, que inicio a minha saudação à escritora Maura Martins. Pois a ciência sozinha não é capaz nem de explicar o mundo exterior ou interior e tão pouco de medir os encantos de um simples sabiá. São precisas outras formas de conhecer, não para medir, mas para nos ajudar a saborear e divinar o mundo e suas realidades, vistas ou criadas.
Maura Martins, esta Oficiala e Diretora Regional do Cartório de Registro Civil de Ponte Nova, é graduada em terapia holística, reikiana, pela Universidade Internacional Holística de Brasília. Teve como mestres os renomados Pierre Weil e Roberto Crema, terapeutas centrados na inteireza do fenômeno humano, no divinare, como diz Manoel de Barros.
Mas não é apenas em sua formação que o elemento holístico se mostra, pois o HOLOS, a totalidade e a integração cósmica, aflora facilmente na poesia da neoacadêmica, como pode ser lido na Aldravia de sua autoria, publicada no “Livro das Aldravias” da SBPA (Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas), sociedade da qual é membro.
Eis a aldravia:
cósmicas
linhas
traçadas
paralelas
buscando
infinito

Afinal, é preciso acalentar o desejo de integração para captar nas seis palavras-versos desta aldravia o resumo de toda uma filosofia de vida.
Mineira de Ponte Nova, Maura Martins, recebeu o exemplo e a influência artístico-musical de seus avós e de seus pais, cuja apreciação estética e estilística foi herança cultural significante a ela conferida.
Essa pontenovense que já peregrinou pelo chamado Solo Sagrado Japonês, participando de cultos com líderes religiosos renomados, traduz em poesia seu entendimento sobre o divino.
Observemos duas de suas aldravias que tratam do divino:

1ª) em
tua
grandeza
minha
pequenez
humana
2ª) do
possível
do
impossível
sempre
Deus

Em seu livro pessoal de aldravias, intitulado “Pétalas ao Vento”, a neoacadêmica, como bem assinala no prefácio o presidente desta academia, J. B. Donadon-Leal, Maura Martins insinua o desejo de propagação da poesia com todos os discursos possíveis, para todos os lugares, como verdadeiras pétalas ao vento.
Afinal, poesia não é feita apenas de palavras e de jogos de palavras, mas de ideias artesanalmente moldadas em nossos pensamentos, furtiva à razão das razões, um jeito de olhar o mundo e de percorrer a vida, em palavras e em silêncios poéticos.
Maura Martins escolhe por patrono o rei das reinações, Monteiro Lobato, aquele que dentre feitos políticos e literários marcou seu nome no cenário nacional e internacional.
O neoacadêmico Humberto Martins é poeta, revisor gramatical, pesquisador de Literatura, Direito e Filosofia. Amante da sabedoria, como ele mesmo se designa, interessa-se por aquilo que lhe possa alargar os horizontes do conhecimento. Pensamento este que percorre também seus textos poéticos, tal qual na aldravia seguinte:
grande
o
problema
se
mente
pequena
Nascido em Anaflor, pertencente a Ponte Nova, elegeu sua esposa, Maura Martins, como a musa que o inspira em sua escrita literária. A ela, presume-se são dedicados versos como estes:

tu
és
meu
pessegal
em
flor

bebi
o
néctar
dos
teus
lábios

quando
eu
chorei
tu
me
consolastes

Versos aldrávicos que marcam a inserção deste literato na sociedade de poetas aldravianistas (SBPA), pois, como afirma o próprio escritor:
sou
poeta
imerso
no
universo
aldrávico
Em 2010, Humberto Martins publicou o livro “A menina da Vila”, lançado em Ponte Nova e relançado na Biblioteca Pública Municipal de Ouro Preto. A Menina da Vila, obra que tem como cenário a antiga vila Ana Flor e a Usina de cana-de-açúcar aí instalada, trata literariamente do problema do menor, com linguagem simples e adequada, que faz jus à obra tão elogiada pela crítica intelectual mineira.
Em 2012, lançou o livro “Homem que Ouve”, cuja edição está esgotada. Elogiado como apresentando um estilo cristalino e seguidor das qualidades de “A Menina da Vila”
Ainda no ano de 2012, ele e a mulher, Maura Martins, recebem a comenda Luís Vaz de Camões de Mérito Cultural e Literário, como reconhecimento pelo apoio inestimável e contribuição prestada ao desenvolvimento social e cultural em nosso país.
Elege como patrono Salvador Ferrari, médico e literato notável, que atuou em Ponte Nova, mas que também já foi prefeito da cidade de Mariana.
Por não terem perdido o condão de divinar, saúdo a vocês dois, Maura e Humberto Martins, pois é com muita honra que esta casa, tramada com pesquisas, tintas, palavras, notas musicais e muitos “cantos de sabiás” recebe-os como seus novos membros.
Bem-vindos e muito obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 29 de junho de 2013.


Discurso de saudação ao membro correspondente Jair da Silva Araújo

Prezados membros da diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (ALACIB), nobres colegas acadêmicos e queridos visitantes, a todos vocês o meu fraterno cumprimento e o meu “boa tarde”!

O filósofo e poeta francês, Voltaire, certa vez escreveu que “devemos julgar um homem mais por suas perguntas do que pelas respostas”. E é esse pensamento do filósofo que me veio à mente quando li as crônicas e as poesias encaminhadas à ALACIB pelo acadêmico correspondente, o soteropolitano, Jair da Silva Araújo.
Um baiano que soube dizer com sagacidade de nossa conveniente miopia para realidade próxima e de nosso espanto com a realidade distante. Que também soube se indagar, por vezes, indignado, com a nossa “ceguitude” com a tragédia costumeira, invisível aos nossos sentidos, que desfila adiante das janelas de nossos carros e de nossas casas.
Ceguitude essa que encontra seu paradoxo em nossa perplexidade para o que vemos adentro das janelas de 40 polegadas de nossas TVS e das telas minúsculas de nossos notebooks, tablets e smartphones. Ceguitude e perplexidade – aqui e lá – essa dicotomia inteligentemente expressa pelo literato na crônica “Nove Baianinhos”, quando nos pinta verbalmente a cena a seguir:

Eu vi nove baianinhos na esquina [...]
Nove crianças de pés descalços, metidas em camisas sujas e rotas e se amontoavam num beco, no centro da cidade, agressivos em suas misérias. [...]
E nós, prisioneiros em nossos medos, espantamos nossa falta de esperança, navegando na internet, nos compadecendo com as dores d’África, d’Ásia, d’Oriente, sonhando com Miami e, às vezes, mascando chiclete e comendo banana como se fôssemos os súditos de Baco, alegres e alienados.

Essa forma de fazer literatura, destrinchando a realidade social, interrogando-se, espantando-se para poder enxergar o que está na opacidade, no “negrume do próprio olhar”, como o contista metaforiza em “requiescat in pace” – descanse em paz – talvez seja um traço herdado da biologia. Essa ciência que faz a cartografia genética da vida, mas que ao mesmo tempo, se atenta ao detalhe, ao que ninguém já não mais vê. Afinal, Jair Araújo é licenciado em Ciências Biológicas pela Federal da Bahia, foi professor na área por muitos anos, na antiga Escola Técnica Federal da Bahia, a qual, mais tarde, veio a ser o CEFET-Bahia.
Ou será que o seu fazer literário, advém do estudo das organizações e de seus funcionamentos, tão característica da Administração de Empresas, sua segunda graduação. Ora, meus colegas, aventuro-me a dizer, que seus traços literários vieram da simbiose da biologia com a administração, esculpida com o labor do magistério, de um professor acostumado a indagar e ser indagado constantemente.
Simbiose questionadora impressa em um de seus poemas, nomeado “arqueopoema”, em que se lê:

Pesquiso o passado,
Questiono o presente,
Projeto o futuro,
Com minha impotente ciência,
Que registrará como fóssil poético
Doces lembranças.
Como consolo, [...]
Restará ainda minha língua.

Mas Jair da Silva Araújo também nos traz experiências de outras áreas, pois, dentre outras atividades, foi diretor administrativo da Escola Técnica Federal da Bahia (90/93), foi de Chefe do Setor de Produção Agrícola da Prefeitura de Salvador (80/85) e também Auditor Fiscal da Prefeitura de Salvador (94).
Jair nos banqueteia com linguísticas baianidades, ao contar de um menino que “vivia lá para as bandas de xique-xique” “ [..] desenxabido, xendengue [...]” “cujo melhor brinquedo era uma xipoca, usada para atormentar os passarinhos que se aninhavam nos umbuzeiros ao entardecer.” Publicou 04 livros de literatura entre crônicas e poesias, sendo eles:
• Aruak e os estranhos seres – romance infantil – 2010
• Poetas da Bahia – antologia de poemas – 2002
• Entre poucas e boas – contos – 2000
• Silêncio Soltos – poemas – 1983.

Autor para quem, “a palavra é sentimento cristalizado”, que “se travada, envenena a alma” tal qual sinalizado no poema, “ouvidos de mercador”, também ganhou prêmios com sua literatura e se aventurou pelo território movente das aldravias.
Dentre outros prêmios, foi ganhador do 8º Concurso de Contos, promovido pela Academia Mineira de Letras (2014); 2º lugar, I Concurso Internacional Literário da ALACIB, na categoria Poesia, deste ano de 2014; 3º lugar do Concurso Cidade de Salvador (2002).
E, como bem disse o eternizado escritor José Saramago, “tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas”, pensamento esse que muito bem poderia dialogar com o aquele de Voltaire, com que comecei este discurso de saudação. Por tudo isso, Jair, desejo que você seja muito bem-vindo a esta instituição e que nos ajude a mais que darmos respostas, fazermos, consistentemente, boas perguntas!
Muito obrigada!

Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 29 de novembro de 2014.


Discurso de Apresentação do Grupo Zé Pereira da Chácara

O Zé Pereira, como é normalmente nomeado, surgiu no Brasil, conforme aponta o historiador Vieira Fazenda, por volta de 1846, e teve como patriarca o sapateiro português José Nogueira de Azevedo Paredes. Conta a história, que à época, José Nogueira reuniu um grupo de amigos e saiu, na segunda-feira de carnaval, em barulhenta passeada ao som de bumbos, zabumbas e tambores, anarquicamente tocados pelas ruas. Por vezes, nos carnavais posteriores, o grupo saía também acompanhado de bonecos gigantes e cabeçudos.
Mais de 100 anos depois de seu surgimento, na década de 1950, havia aqui em Mariana vários Zé-Pereiras: havia o Zé Pereira do Bairro Preto, o Zé Pereira do São Gonçalo, O Zé Pereira da Rua Nova, mas, de todos, o único que sobreviveu, graças ao entusiasmo e a persistência de seus participantes, foi o Zé Pereira da Chácara.
Somente no ano de 1979, portanto, 133 anos após o seu referido surgimento, ocorre a institucionalização do grupo marianense, Zé Pereira da Chácara, com a criação da primeira mesa diretora, da qual entre outros membros, fazia parte a D. Maria José Chaves.
No ano de 1980, a Lei Municipal nº552 decreta o Zé Pereira da Chácara como sendo “utilidade pública”. Em 1992, como fruto de reinvindicação constante de seus organizadores, os bonecos ganham uma sede própria, denominada de Toca do Zé Pereira, localizada no Bairro Chácara.
Em 2013, o Grupo Folclórico Zé Pereira completa 167 anos de existência, cuja tradição é repassada de geração em geração. Em Mariana, o grupo tem à sua frente pessoas que, por amor a essa manifestação típica da cultura popular, dedica seu tempo e sua inventividade a cuidar e a perpetuar os catitões gigantes.
Hoje o Zé Pereira da Chácara possui 118 catitões, divididos entre bonecos adultos e mirins. E o grupo conta, além dos participantes adultos, com 60 componentes registrados, com idade variando de 04 a 16 anos, que carregam e desfilam alegremente os bonecos em suas apresentações na cidade e nas visitas que o bloco faz a outras regiões. Esse é, sem dúvida, um importante incentivo cultural às novas gerações e, que, por sua vez, figura como uma das metas da atual diretoria, qual seja “aproximar crianças e adolescentes da popular tradição do Zé Pereira da Chácara – tradicional e reinventado ao mesmo tempo”.
Em sua organização atual, temos doze membros. Sua presidente atual é Maria José Chaves e seu diretor-secretário geral é Mardely Macedo Lopes, quem aqui será laureado em nome do grupo.

 

LEAL, Andreia Donadon. Casa de baixo, casa de cima. Mariana: Aldrava Letras e Artes, 2017. 16p.

Escrever sobre a complexidade da dor da morte de uma mãe da forma simples, pura e delicada, como foi realizado no livro “Casa de Baixo, Casa de Cima”, causa em nós, leitores apreciadores da literatura infantil, ao mesmo tempo, conforto, esperança e lágrimas.
Conforto, porque as metáforas da ambulância, da casa de cima, dos olhos de pitangas e do coração que bate saudade sobrepujam com extrema delicadeza a melancolia que poderia rechear aquilo de que tratam, causando em nós um mergulho na memória à procura de quantas outras vezes ouvimos falar de coisas tão difíceis com palavras e sentidos afetuosos e sutis.
E esperança, porque sentir (e não apenas ler) o sol voltando a aquecer e iluminar a vida de uma criança órfã de mãe, de um jardim que voltou a ter razão para se vivificar, de uma casa de cima que precisa organizar os dias e as noites para que as demais casas aqui em baixo possam ganhar sentido, e, assim, propiciar às famílias o rearranjo e a continuidade da escrita de suas histórias, tudo isso é, no mínimo, inspirador de sentimentos esperançosos.
E, se, em algum momento da história, como eu, você também se pegar piscando e abrindo um pouco mais os olhos, para tentar dispersar a lágrima provocada pela sutileza e simplicidade como a perda é tratada, é sinal que você foi abraçado pela beleza revelada a cada nova palavra e nova ilustração do livro. E, nesse misturar de fantasia e de realidade, compreendemos gratamente surpresos que a morte já não é mais a questão central da história, mas sim a vida!
Magna Campos, 30 de maio de 2017.

 


Edição em 23 de janeiro de 2019 por J. B. Donadon-Leal