Registrada
em 06 de abril de 2009
A
ALACIB é uma Associação Literária
sem fins econômicos, com sede e foro em Mariana, Minas Gerais,
CNPJ 10778442/0001-17. Tem por objetivo a difusão da cultura
e o incentivo às Letras e às Artes, de acordo com
as normas estabelecidas no seu Regimento. Registrada em 06 de abril
de 2009.
Diretoria
da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Presidente:
Andreia Aparecida Silva Donadon Leal
Vice-Presidente: J.S. Ferreira
Secretário-Geral: Gabriel Bicalho
Tesoureiro: J. B. Donadon-Leal
Promotora de Eventos Culturais: Hebe Maria Rôla Santos
Conselho Fiscal e Cultural: José Luiz Foureaux de Souza Júnior,
Magna das Graças Campos e Anício Chaves
Acadêmica
MAGNA CAMPOS
Cadeira nº 18
Patrono: Cora Coralina
Notas
Biográficas de Magna Campos
Magna Campos (Magna das Graças Campos) é
escritora e professora do Ensino Superior. Nasceu na cidade de Ouro
Preto, mas reside há alguns anos em Mariana (MG). Graduada
em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto – Instituto
de Ciências Humanas e Sociais (2003), Especialista em Língua
Portuguesa – PUC-MINAS (2005) e Mestre em Letras: Discurso
e Representação, pela Universidade Federal de São
João Del-Rei (2009). Atua nas disciplinas na área
de Leitura e Produção de Textos em vários cursos
universitários, dentre eles: Letras, Turismo, Ciências
Biológicas, Nutrição, Direito, Gestão
Ambiental, Pedagogia, Automação, Recursos Humanos,
Segurança, Engenharia de Produção e Engenharia
de Minas. É membro efetivo da ALACIB, na qual ocupa a cadeira
de nº 18 cuja patrona é Cora Coralina. Publicou, em
2010, o livro “Ensaios de Leitura Crítica” (Editora
VirtualBooks), em 2012, “Leitura e Escrita: Nuances Discursivo-Culturais”,
prefácio de J.B. Donadon-Leal, (Editora Aldrava Letras e
Artes). É autora dos livros literários “Beto
Muleta não, Beto Joia” (Literatura Infantil), de 2003,
e “Cutrica e Futrica & a Festa no Pé de Pitanga”,
ilustração de Deia Leal (Livro de Literatura Infanto-juvenil),
de 2010. Participou como contista nas Antologias: “Lumens”
(Ed. Aldrava Letras e Artes), de 2011, e “Liberdade”
(XXXIV Concurso Internacional Literário – Ed. AG),
de 2012.
Discurso
de Posse
Saudação
a Cora Coralina
Em primeiro lugar, agradeço a todos os membros da Academia
de Letras do Brasil[1]- unidade Mariana, pela possibilidade de integrar
a esse grupo e de fazer parte dessa Casa – cujas tramas são
elaboradas com palavras, tintas, formas, texturas, notas musicais
e muita criatividade –, e de nela ocupar a cadeira de número
18. Cadeira essa que será dedicada à poetisa e contista
Cora Coralina.
Cora nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto, em 1889, em Vila
Bôa de Goyas, e fez de sua relação com a vida
um motivo a ser escrito em seus versos livres, tecidos no caminho
das pedras de sua existência. Pois é ela mesma, por
meio de uma descrição poética no poema Das
Pedras, que se diz como sendo “aquela mulher que fez a escalada
da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”.
Uma mulher que só conseguiu publicar seu primeiro livro já
no tarde da vida, viúva e vestida de seus cabelos brancos;
com mais de 70 anos... E que, mesmo tendo cursado apenas até
a antiga 3ª série do grupo, não se deixou engolir
pela hostilidade dos familiares e pela falta de estímulos
sociais e econômicos para ser literata.
Cora, que sentia no fundo de “seus reservatórios secretos,
um vago desejo de analfabetismo” e que, ainda assim, SOBREVIVEU,
“recompondo-se aos bocados, dos rígidos preconceitos
do passado”. “Recriando-se sempre, sempre” graças
aos olhos inquietos de criança que não a abandonaram
jamais e, também, às muitas leituras feitas ao longo
de sua trajetória. A escola da vida, diz Cora, suplementou-me
as deficiências da escola primária. E foi assim, já
em seu terceiro livro publicado, abrindo caminhos difíceis,
que ela nos chega:
“Sem referências a mencionar.
Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.
Nem menção honrosa.
Nenhuma láurea”.
E pede passagem na vida literária brasileira...
Cora expressou com singularidade, em seus escritos, o seu tempo
e a ligação com seu meio. Imprimiu aos seus textos
a marca do oral e dos causos interioranos. Uma verdadeira contadora
de histórias, não da história oficial, registrada
nos anais da cidade de Goiás, mas a história dos que
não têm voz; a sabedoria dos anônimos.
Mulher que, quando indagada, respondia: “_ Cora, uma poetiza?
Não! Cora uma mulher da luta, uma doceira!” E que dizia
escrever porque sua mão coçava, em virtude das palavras
que precisavam ser “cristalizadas”, tal qual seus famosos
doces. Uma mulher que se entrega ao ofício e à identidade
de doceira como réplica às dificuldades encontradas
para publicar seus textos. É dela mesma esta afirmativa descrita
no poema Quem é Você:
“Sendo eu mais doméstica do que intelectual,
Não escrevo jamais de forma consciente e raciocinada,
E sim impelida por um impulso incontrolável...
[Pois] Nasci para escrever, mas, o meio,
O tempo, as criaturas,
Contra-marcaram a minha vida.”
Em suas memórias, delineadas em versos, Cora abre os porões
de suas lembranças e se lê como sendo Aninha; aquela
do Rio Vermelho, da Casa Velha da Ponte... uma mulher marcada pela
coragem, pelo fazer, pelo contar, pelo viver, e tão lindamente
descrita na seguinte passagem:
Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
E trago comigo todas as idades.
Demonstra-nos no livro Vintém de Cobre – Meias Confissões
de Aninha, admirável entendimento do poder da escrita, especialmente
da sua, ao afirmar:
“Quando eu morrer, não morrerei de tudo.
Estarei sempre nas páginas deste livro,
Criação mais viva da minha vida interior em parto
solitário”.
Assim ela partiu, levou seus doces, mas nos deixou os versos. E
hoje, nesta oportunidade singular, eu a saúdo, Cora Coralina!
Esteja, também, revivida aqui, nesta cadeira que honrosamente
a terá por patrona. Brinda-nos com sua doçura poética,
com sua mão coçante, com seu olhar inquieto de criança,
com sua modéstia e sensibilidade, enfim, com seu gesto criador.
Ajuda-nos a indagar sempre por quantas Aninhas corajosas, pouco
estudadas, existirão esparrodadas pelo Brasil afora? Quantas
Aninhas cujas histórias e poesias não conseguiram
vencer as pedras do caminho, assim como você vencera, levantando
“das pedras que lhe esmagavam” a pedra rude dos seus
versos? Por isso, Cora, dignifica, com sua conquista, essa cadeira,
em nome das muitas mulheres, jovens ou velhas, das quais não
escutamos sequer os sussurros e, também, em nome de todas
as que se arriscam nas letras, “removendo pedras e plantando
flores”.
Poemas
de Magna Campos
A escrita
A escrita,
Produto cultural
Por excelência,
Alimenta
As práticas sociais
E delas se faz corpo.
Encontra na historicidade
A matéria vertente
De sua existência.
De suas veias.
Onde encontra pouso,
Atravessa a todos.
Diz dos homens,
Diz aos homens
E é dita neles.
Qualifica e desqualifica.
Difunde ideias,
Mas também as oculta.
A uns,
Confere poder
E aninha.
A outros,
Emudece
E cria fronteira.
Aduba, gera, espera, cala.
Mas, jamais neutra,
Jamais intocada,
Jamais completa.
Florescimento
Clareie o caminho
Que a ti se mostra
Com os cacos
Recolhidos de ti mesmo.
Jogue-se na vida
E saboreie o mundo
Que a vida inteira
Desconheceu.
Acerte bem firme, o teu pé,
No pó deixado no chão,
E alcance terra firme
No solo do teu coração.
Viva, a cada instante,
A germinante coragem
Que te brota;
Escrita que foi
A rogo de sua fé.
E sinta o amanhecer
Inundar a multidão
Que existe em você.
Texturas
O vento vem arrastando, pelas abas das serras,
Uma série de telas germinadas pelo tempo,
Que, aos poucos, vão sendo postas
Nos canteiros dos dias.
E, de repente, despertamos
Envolvidos pela primavera:
Essa eterna serva da esperança!
As cores, não mais acanhadas,
Esparramam-se nas flores e preenchem os frutos,
Que esbanjam perfumes de singular completude
E sabores sossegados de toda pressa.
A árvore se desperta armada em folhas,
Tomada, por inteira, pela Fênix magistral,
E convida, a quem quer que a veja,
Para campear as saudades, esquecidas no fundo peito,
E rebrotá-las nas lembranças.
Saudades àquelas capazes de inundar,
Até mesmo, as tristezas maiores.
Que cessam o cansaço angustiante
Das depressões sentidas.
Lembranças que servem de alento às idades
E mostram, tal qual a estação, que, entre ilusão
e verdade,
O melhor é ser, a cada tempo,
A constança e a novidade.
Crime
Estéril da leitura
Da palavra,
A língua analfabetizada
Foi selada.
Abandonado à própria sorte,
Aquele que não lê,
Foi deixado.
Órfão de um mundo,
Violentamente,
Criptografado.
Ensurdecido e,
Tristemente,
Condenado.
Escola
A escola que trago na memória
Guarda segredos em mim.
Fala em minha fala,
Lê em minha leitura,
Escreve em meus textos
E serpenteia em meus pensamentos.
Não se proíbe de ser,
Não se proíbe de não saber,
Não se proíbe de perguntar.
E está sempre pronta para aplaudir
E para criticar.
Alimenta-se de solos férteis,
Mas não se deixa fixar,
Move-se entre passado e futuro
E se demora no presente,
Mesmo quando esse lhe diz para não demorar.
A escola que trago na memória
Faz-se mapa, de muitos caminhos,
Diálogo de muitas vozes,
Ciência de muitos saberes.
A escola que trago na memória
Será sempre em mim,
Não aquela que exclui
Isso ou aquilo.
Mas aquela que integra
Isso e aquilo...
Acordar
cedo
A manhã que rompe,
Violenta a noite.
Sem pedir licença,
Escancara a janela
E joga,
Com toda a força,
Em nossa cara,
O dia.
[1] Hoje ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências
Brasil.
Recensão
crítica do livro: Os quatro meninos 2: passeio não
autorizado pela Gruta do Solitário
por Magna Campos
Luizinho, Guto, João e Osvaldinho formam uma amizade que
nos faz retornar, sem grande esforço, à nossa pré-adolescência
e àquela vontade de desbravar o mundo com nossas próprias
pernas ainda que estas, por vezes, sejam incapazes de alcançar
o ritmo de nosso desejo de aventuras, sem maiores preocupações
ou consequências.
Em Os Quatro Meninos 2, a construção narrativa
chama a atenção, pois se assemelha a um roteiro cinematográfico,
que, em um primeiro momento, é capaz de ao mesmo tempo nos
apresentar os personagens principais, delineando-os física
e psicologicamente, como também de nos trazer o cenário
e o enquadramento da cena de forma a nos aproximar, ponto a ponto,
de cada um dos quatro personagens, levando-nos a entender um pouco
de seu “universo particular” e de sua inscrição
naquele círculo de amizade.
Tal efeito de narrar, aproximando-se como se fosse a close-up ou
a médio plano, conduz-nos em toda a primeira parte do livro
e, quando nos damos conta, já estamos imersos no ônibus
que conduz os quatro meninos e seus colegas de sala a uma visita
ao Parque Ecológico do Kabisconde, abrindo, assim, a segunda
parte da história.
E é num plano mais aberto que se inicia a narrativa do passeio,
escolha que nos ajuda a conhecer com os garotos as trilhas do parque
e, até mesmo, tramar junto deles o passeio às escondidas
à Gruta do Solitário. Afinal, qual maior sabor de
aventura que ir aonde ninguém mais foi e levar essa experiência
da viagem como um troféu à parte, um segredo para
uma vida toda.
Saímos às escondidas com os quatro à noite,
pela trilha, para nos aventurar na Gruta do Solitário, e
num jogo narrativo que parece aproximar e distanciar o enquadramento
da cena, quase conseguimos ouvir o farfalhar das folhas das árvores
mais intensificado e o barulho dos galhos estalando no chão
pisados por alguma coisa, um temor coletivo nos envolve, sentimos
as sombras e vultos ladeando os quatro e nos assustamos com rapto
de cada um, sabe-se lá para onde ou por quem.
Alívio! Essa é a sensação que nos toma
ao sabermos que estavam todos bem, no dormitório, que tudo
não passara de um cuidado do diretor do parque que os seguira
para evitar que os garotos, levados pelo desejo inconsequente de
uma aventura, pudessem se machucar ou se perder na mata do parque.
O “roteiro”, entretanto, sem ser piegas, aproveita a
oportunidade para ensinar aos pré-adolescentes que as escolhas
e as violações de regras de proteção
à vida podem trazer consequências sérias. Fato
que marca um ritual de passagem importante, pois os quatro garotos
agora precisam assumir seus atos, avaliá-los com bom-senso
e se desculpar por eles. E, em lugar de lições de
moral vazias, a autora coloca em seus caminhos adultos que se importaram
em auxiliá-los neste aprendizado, afinal, ninguém
amadurece só com reprimendas ou sermões. É
preciso educar para a vida!
E assim, narrativa, ilustrações e enquadramentos constroem
uma história que, mais do que qualquer outra coisa, fala
do quanto amizades e aprendizados são importantes para o
nosso crescimento pessoal.
Mariana,
21/04/2019
Recensão postada em 31 de maio de 2019
Discurso
de saudação a Giseli
Ferreira Barros
Caríssimos
acadêmicos, neoacadêmicos, amigos e visitantes, recebam
todos o meu cumprimento, nesta noite de 18 de maio de 2019, sejam
muito bem-vindos a mais esta reunião da ALACIB.
Em especial, cumprimento a neoacadêmica, Giseli Ferreira Barros,
que a partir de agora passa a integrar oficialmente a Academia de
Letras, Artes e Ciências Brasil, a ALACIB-Mariana, na cadeira
cujo Patrono é o mineiro Bueno de Rivera.
Giseli Barros é autora de coletâneas de aldravias publicadas
no Livro VI das Aldravias, de 2018, e no Livro VII das aldravias,
de 2019 (ainda no prelo). É a idealizadora e a organizadora
do livro Aldravia: na via de florescer – que será lançado
aqui hoje –, livro este que foi escrito com os alunos do Colégio
Flecha e traduz uma verdadeira vivência literária.
Ela também é autora de artigos no campo acadêmico-científico.
Meus
caros presentes, certa vez, Clarissa Pinkola Estés, autora
que muito admiro, escreveu na voz de uma sábia senhora a
seguinte reflexão, para a qual os convido a acompanharem
comigo. Diz a sábia senhora:
“...
Venha, sente-se comigo um pouco. Vamos fazer uma pausa, deixando
de lado todos os nossos “inúmeros afazeres”.
Haverá tempo suficiente para todos eles mais tarde. Em um
dia distante, quando chegarmos às portas do paraíso,
posso lhe garantir que ninguém vai nos perguntar se limpamos
bem as rachaduras das calçadas. O que é mais provável
é que no portal do paraíso queiram saber com que intensidade
escolhemos viver; não por quantas “ninharias de grande
importância” nos deixamos dominar.”
Essa
reflexão nos remete a esse “velho realejo do mundo”,
o todo poderoso relógio, que com seu incessante tic-tac,
parece nos lembrar, impiedosamente, de nossa crescente falta de
tempo, tomado que estamos por nossos “inúmeros afazeres”,
que mal cabem no dia, e que, muitas vezes, nos cegam para aquilo
que realmente importa.
Não seriam muitas dessas ocupações, com as
quais gastamos parte considerável de nosso tempo, “ninharias
de grande importância” que andam retirando nosso descanso,
nosso sono, nossa atenção verdadeira ao outro, minando
nossa capacidade de concentração e nos levando, até
mesmo, à alienação do mundo real?
Quanto
de nossa rotina diária, Giseli, está tomada por essa
nossa necessidade de preencher todo o nosso tempo com alguma tarefa,
às vezes, sem importância em essência? Inventamos
a máquina e a tecnologia, por exemplo, para ganharmos mais
tempo, e, cada vez mais, temos nos tornado, em muitas situações,
verdadeiros servos e escravos delas.
Veja,
por exemplo, o grande tempo que consumimos na internet, alimentando
ou sendo alimentados por notícias e mais notícias,
postagens e mais postagens, cliques e mais cliques, gerando em nós
uma ansiedade sem precedentes na história; mas, tristemente,
ignoramos o que nos rodeia, precede e continua. Somos capazes de
comentar ou discutir vários assuntos na net o dia todo e
não nos lembramos de conversar com que está ao nosso
lado.
Afinal,
a vida é muito mais do que vemos em nossas timelines das
redes sociais, e, muitas vezes, sugados que estamos pelas inúmeras
telas brilhantes de nossos aparelhos tecnológicos, esquecemo-nos
de ver o mundo real e deixamos de viver grandes experiências,
capazes de dar sentido profundo à nossa vida, como você
sugere, Giseli, na aldravia a seguir:
olhos
na
tela
amor
passou
adiante
E,
neste cenário, alivia-nos saber que uma escritora e professora
com sua percepção crítica, empenho e competência
continua firme na sua atividade de educar mentes e olhares. Pois,
ao menos assim, as pessoas que têm a oportunidade de lerem-na
ou de ouvi-la, terão em você um verdadeiro contraponto
direcionado para a reflexão e para a realocação
de prioridades focadas na poesia da vida e das relações
humanas mais que no ódio e no barulho impiedoso dos linchamentos
virtuais (tão em moda atualmente).
Por
isso, lembre-se Giseli, que é do contraste que nasce a consciência,
assim é por existir o som, que percebemos o silêncio;
é quando perdemos algo como a saúde, a paz de espírito,
a tranquilidade, a campainha e a vivência de alguém,
que, muitas vezes, percebemos o valor que tinham e o quanto nos
fazem falta.
Assim,
é neste mundo em que nos desencantamos do real que vemos
ainda mais a importância da arte para ressignificá-lo,
para livrar-nos da tirania do tempo e das ninharias de grande importância,
e, para restabelecer-nos o desejo da epifania e da transcendência.
Mas isso, você sabe bem e já até expressou em
uma aldravia, quando escreveu:
da
pena
do
poeta
nasce
amor
Sensibilidade
poética e percepção crítica da qual
você nos dá mostra em várias de suas outras
aldravias, captando, por meio delas, momentos delicados no cenário
nacional e conseguindo expressá-los, provocativamente, ainda
que em poucas palavras, em uma linguagem fluída e carregada
de sentido, como quando, por exemplo, quando tece sua crítica
ao fato de nossa Constituição ser desrespeitada por
quem deveria velar por ela, como na sua aldravia a seguir:
a
carta
rasgada
Brasil
no
chão
Ou,
quando num jogo de palavras, você consegue dizer da realidade
de muitas crianças moradoras das comunidades das grandes
metrópoles, que são obrigadas a viver se desviando
de tiros, de traficantes, de milicianos, da falta de recursos, fazendo
verdadeiros malabarismos vivenciais, e, ainda assim, muitos encontram
finais trágicos, como denunciado em outra aldravia sua:
menino
malabarista
desce
morro
morro
morro
Quantos
meninos malabaristas desviando de balas terão que morrer,
anônimos e sem importância social, para que essa dura
realidade possa ser verdadeiramente considerada? Até quando
teremos
no
planalto
caviar
na
favela
balas
Como
você mesma nos indaga, em outra aldravia, Giseli?
Em
tempos de perseguição aos cursos ligados às
humanidades, arriscando que sejam sufocados e se tornem cada vez
mais ensino de conteúdo e cada vez menos ensino reflexivo,
crítico e provocativo; é justamente neste cenário,
que se torna ainda mais importante nos rodearmos de pessoas como
você, quer seja no campo do magistério, quer seja no
campo da literatura.
Pois,
pessoas assim nos ajudam a desvelar o olhar para aquilo que nos
dessensibilizamos com o tempo, e, também para o que nos é
omitido, a fim de conseguirmos perceber os inúmeros jogos
de poder que tentam amordaçar, não apenas nossas palavras,
mas também nossos pensamentos. Pois como nos diz o grande
Mario Vargas Lhosa, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura
em 2010:
Quem
duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza
e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão,
pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta
dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto,
a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam
com tanta suspeita os escritores independentes.
Neste
contexto, você, Giseli, que é ouropretana de nascimento
e marianense de coração, que é mestre em Literatura
pela UFMG e graduada em Letras pela UFOP, que é professora
com larga experiência profissional, que vai da Educação
Infantil ao Ensino Superior, agraciada no ano passado com o diploma
de Mérito Educacional, pelo reconhecimento da ALACIB à
excelência de seu trabalho como educadora, tem se mostrado
uma escritora de grande potencial e sagacidade.
Por
isso, minha cara Giseli Barros, esta casa abre suas portas e corações
para recebê-la como membro efetivo, na certeza de que trilhará
aqui dentro um caminho de luta pela cultura – pela educação
literária, científica e artística – de
todos aqueles que pudermos alcançar.
Consagrando
assim a “intensidade com que escolhemos viver”, para
a qual alerta a sábia senhora do início de minha fala,
desvinculando-nos, cada dia mais, das “ninharias de grande
importância” que tentam o tempo todo nos dominar e reduzir
a nossa vida a um espectro autômato, totalmente desumanizado!
Seja,
então, muito bem-vinda e muito obrigada!
Mariana, 18 de maio de 2019, 18h, reunião da ALACIB, auditório
do ICHS/UFOP.
Comunicação postada em 31 de maio de
2019
Discurso
de Apresentação do livro “As quatro meninas”
Boa tarde a todos;
Quando
Andreia me convidou para fazer a apresentação de seu
novo livro, As Quatro Meninas, senti-me
muito honrada, como seria natural a qualquer agraciado com tal convite,
mas ainda mais que honrada, senti-me, simplesmente, feliz!
Felicidade de poder me enredar mais uma vez por esse caminho ímpar
dessa arte de modelar cenários, vidas, sensações
e sentimentos por meio dessa varinha de condão chamada LINGUAGEM.
E, assim, ganhei de presente a leitura, ainda em primeira mão,
dos manuscritos dessa história na qual as adolescentes Sandra,
Denise, Helena e Rita, personagens principais de As Quatro Meninas,
fazem-nos sentir suas pulsações e seus desejos de
serem ao mesmo tempo iguais aos de seu grupo, mas, de serem também
diferentes e únicas. E, por isso mesmo, pela capacidade de
captar com a narrativa tal contraste, que o livro se torna tão
fiel ao universo retratado.
Já havia me encantado com a primeira história infanto-juvenil
publicada em, Os Quatro Meninos, livro
lançado em 2014, e ver em seu sucessor que, na voz de Andreia,
há, de fato, a linguagem, as inquietações e
as peripécias juvenis de uma geração significada
nas e pelas redes sociais, falante, ou melhor, “teclante”
fluente nos bate-papos virtuais do face, mas que, como todos nós,
estremece a voz e se enrubesce no face a face com o outro desejado.
E, nas incertezas de um primeiro encontro amoroso, que se inicia
nos ambientes virtuais, as quatro meninas, cada uma à sua
maneira, são dominadas pelo desejo de conhecer quem eram
os garotos com quem teclaram dias a fio.
E, assim, Andreia incute em nós essas incertezas e expectativas
e somos, literalmente, capturados pelos sete capítulos de
As Quatro Meninas, ávidos por
sabermos não só o desfecho daquele encontro, mas por
continuar a experimentar a sensação desperta em nós
pelo rememorar inevitavelmente trazido, página a página,
do livro de nossas próprias histórias, de nossas amizades
e confidências trocadas no comum dos dias de uma fase tão
inquietante da vida de qualquer um.
Dessa maneira, somos alçados por nossas lembranças
e lemos, intertextualmente, a narrativa, como se dela ouvíssemos
mais que as vozes de Sandra, Denise, Helena e Rita, mas também
as vozes daqueles amigos e amigas que nos acompanharam ou acompanham
em momentos memoráveis de nossa caminhada.
Por fim, parafraseando Mario Quintana, quero lhe dizer, Andreia,
que um bom livro é aquele que temos a impressão de
estar lendo a gente, e não a gente a ele. Obrigada pela felicidade
dessas duas leituras!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 23 de maio de
2015.
Discurso de saudação a Paulo José
de Oliveira e Creusa Cavalcanti França
Caríssima
presidente da ALB- Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Caro Vice-Presidente da ALB-Mariana, J. S. Ferreira;
Presidente Executivo e Editor da ALB-Mariana, J.B.Donadon-Leal;
E Secretário-Geral da ALB-Mariana, Gabriel Bicalho;
A todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!
Cumprimentos que estendo carinhosamente aos demais colegas confrades
e confreiras desta instituição, a seus familiares
e amigos;
Aos jovens da Academia Infanto-juvenil de Letras de Mariana e à
sua diretoria: D. Hebe Rôlla, Agda e Jailda;
Aos visitantes que vieram nos prestigiar;
E, em especial, aos neoacadêmicos, Paulo José de Oliveira
e Creusa Cavalcanti França, que a partir de hoje passam a
nos honrar com suas integrações a esta instituição!
“Escrever [caros ouvintes] é uma arte que brota n’alma.
É uma arte que é alimentada no coração,
impulsionada pela mente e grafada na mão”.
É com essa primeira citação ao trecho de um
editorial da Folha Literária Formiga em Letras, escrito por
Paulo José de Oliveira, também conhecido pelo pseudônimo
de PAJO, que inicio o discurso de saudação ao neoacadêmico.
Guiada muito mais pelo calor de sua palavra criação,
que pelo “frio” de um currículo que, nem sempre,
consegue representar satisfatoriamente o sujeito de quem se fala.
Afinal, como afirma o próprio neoacadêmico, ainda no
editorial mencionado, é “no escrever que se traduz
o eu, mesmo que seja nas entrelinhas, ou na forma de rabisco”.
E escrever, especialmente na literatura, seria realmente ter a possibilidade
de criar um outro viver paralelo, no qual o mundo não tem
mais que ser ordenado por CRONOS, o deus do tempo, linear, torturante
e esvaecente. Na literatura, o caos pode se dissipar, o feio pode
se embelezar, o instante pode se eternizar, e em lugar de CRONOS,
pode ser consagrado KAIRÓS, o tempo das coisas e não
do efeito sobre as coisas. Não mais o tempo da espera, mas
o da esperança. O tempo não consumido pelo relógio,
mas experimentado em seus instantes-eternos e acima de tudo: saboreado!
Mas literatura não é um luxo escapista, como pode
parecer, é criação! E é graças
aos desejos e anseios que ela inspira, às mentalidades que
[ela] criou e que continua criando, e à humanização
do real, que a sociedade ainda é capaz de se libertar de
ditaduras, sejam elas econômicas, religiosas, científicas
e por que não, cultural, já que vivemos o ápice
da sociedade consumista, e nele, a cultura torna-se ela própria
um objeto cultural desejável ao consumo, muitas vezes irrefletido,
promíscuo e banalizado. É o valor do consumo que se
impõe ao próprio valor da coisa consumida.
Afinal, como propõe o escritor sul-americano, ganhador do
Prêmio Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa, ao
dizer que:
Quem dúvida que a literatura, além de nos levar ao
sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de
opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em
controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo,
a temem tanto, a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la,
e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes.
E o literato Paulo José de Oliveira atento a esse poder de
revolução e de subversão da literatura, imprime
no poema Capitalismo Selvagem, publicado no jornal O Pergaminho,
de outubro de 2010, a sua visão crítica sobre as relações
de poder instaurados pelo capitalismo atual, quando diz:
Como um dos frutos da ambição
[ o capitalismo] é cria da ganância humana
Que como um canto de sereia
Desapropria a dignidade.
[...]
No capitalismo a educação não é certeza
do saber
[...]
O sistema de cotas não é garantia de inclusão
E o fruto do sistema continua sendo a discriminação.
Crítica
que se mistura ao saudosismo em outro texto, agora em prosa, no
conto Meu Palácio Colonial, do livro Ponto de Partida, quando
o eu-lírico do escritor, ao rememorar um local importante
de sua juventude e não mais existente, nos escreve:
Hoje, ao retornar saudoso naquele rincão antes sagrado, deparo-me
com o domínio do mercado e do capital selvagem.
Nenhum vestígio mais existe, daquele meu palácio medieval.
Apenas o capim de um latifúndio, mais que especulativo, em
uma triste paisagem deformada pelo progresso.
A voz indignada com o sistema, capaz de captar um dos importantes
papéis da literatura, é daquele que além de
ser Turismólogo formado pela Fatur/UNIFOR/MG, Educador Ambiental,
pela UNB, e Técnico em Eventos, pelo IFET, é também
Presidente e Gestor do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços
de Saúde de Formiga – tendo escrito o Guia Histórico
da Saúde: do Germinar ao Frutificar; livro que conta a história
dos 15 anos do sindicato –; além disso, é ativista
eco- ambiental, humanista, sociocultural, fortemente atuante na
cidade de Formiga e região, e Membro Vitalício da
Academia Formiguense de Letras.
Mas a mesma voz engajada, apontada anteriormente, dá lugar
à voz escorreita e lúdica do trovador, que é
delegado representante da UBT (União Brasileira de Trovadores).
Trova essa que muitas vezes é auto referencial, como pode
ser vista nos versos abaixo:
Busquei a rima na fonte
Na inspiração de minh’alma
Juntei as letras, um monte!
_ Fiz uma trova sem trauma.
O
seu “buscar na fonte” lembra-me outra afirmação,
agora, de Gustave Flaubert, o genial escritor de Madame Bovary e
de Uma Alma Simples, [que] fez ao dizer que “escrever é
uma maneira de viver”. E lendo o poema Fieis Amigos, de autoria
do neoacadêmico, é possível vislumbrar o quanto
a escrita tornou-se necessária para seu estar e ser no mundo.
A esse respeito, ouçamos as palavras do próprio PAJO:
A caneta tornou-se amiga
Extensão fiel de meu corpo
Assim, como o fino papel
Aliado silencioso
absorve
Meus desabafos, meus desejos,
Meus sonhos e inspirações.
Essa
outra maneira de viver que a literatura nos possibilita, sugerida
por Flaubert e demonstrada na intimidade por Paulo, nos versos lidos,
precisa ser levada à frente, precisa ser valorizada, buscada
e disseminada o tempo todo e em todo lugar. E ensinada pela vivência
especialmente às novas gerações. Pois como
bem disse o já citado Mario Vargas Llosa:
Um mundo sem literatura seria um mundo sem desejos nem ideais nem
desacatos. Um mundo de autômatos desprovidos do que faz com
que o ser humano seja verdadeiramente humano: a capacidade de sair
de si mesmo e mover-se em outro, em outros, modelados com a argila
de nossos sonhos.
Assim,
para que você, Paulo, possa também nos ajudar a moldar
com a argila de seus sonhos um mundo com mais literatura, com mais
arte, que é, em nome da Academia de Letras do Brasil-Mariana,
uma instituição que tem como objetivo a difusão
da cultura e o incentivo às Letras e Artes – e que
vem construído suas tramas com palavras e obras que nos entrelaçam
cada vez mais à sociedade e não com paredes, que nos
isolem do mundo – [ é em nome dessa instituição]
que lhe dou as boas-vindas a esse grupo, para tomar posse como membro
efetivo desta academia, da cadeira de nº 23, cuja patrona escolhida
será sua conterrânea e literata, Maria Ruth de Souza
Pinto.
Saudações e Muito Obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 20 de agosto de
2011.
Discurso de Saudação a israel Quirino
/Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB
Caríssimos
membros da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil –
a ALACIB-Mariana –, a todos vocês os meus cumprimentos,
nesta tarde de sábado, 12 de outubro.
Cumprimentos
que também estendo carinhosamente aos neoacadêmicos,
ao homenageado, aos amigos e aos visitantes que aqui nos prestigiam
com suas presenças!
E,
em especial, cumprimento o neoacadêmico, Israel Quirino, que,
a partir de hoje, passa a integrar a esta associação
literária que tem se dedicado a difundir e a promover as
Letras e as Artes, essas dimensões de encantos da criatividade
humana!
Meus
caros amigos, a ALACIB tem recebido, em seus cinco anos de história,
pessoas cujo mérito não está em serem simplesmente
literatos, músicos, artistas ou pesquisadores. Diria que
o mérito maior está em serem tudo isso, sendo, ao
mesmo tempo, pessoas comuns.
Pessoas que trabalham e que desenvolvem projetos pessoais e profissionais
nas mais variadas áreas de atuação e que, ainda
assim, encontram tempo, cada qual à sua maneira, para criar,
contar e recontar histórias, quer seja pela tradução
estética da língua, do som, da imagem ou das formas.
Hoje recebemos nesta nossa associação um desses criadores-contadores
de história, que nos traz a palavra nova, a palavra de renovação
contra a força impeditiva e massificadora, que circunscreve
o nosso fazer à média dos dias corridos que vivemos.
Palavra nova que nos serve de Logos, aquela palavra capaz de criar
e de fazer pensar. Que sacia a nossa sede com a água puxada
do poço da imaginação, e que ajuda a tramar
a nossa consciência do mundo e a saborear o agora, mais do
que, letargicamente, consumirmos um futuro vendido em pacotes de
alienação e de desesperança.
É nesta nossa realidade mundana, cada vez mais fragmentada
e automatizada, que ainda mais, precisamos da palavra nova para
nos ajudar a descolonizar as ideias e a ver as coisas e as pessoas
com olhos desacostumados. Olhos capazes de reencantar-se com o humano,
com o mundo e com as coisas do mundo. Pois aquilo que vemos constantemente,
não raro, nos é fugidio à percepção
ou como nos diria o poeta Manoel de Barros: "As coisas muito
claras me noturnam" [a elas sou cegado].
E nisso, meus caros, Israel Quirino, esse marianense multifacetado,
muito tem a nos ensinar, pois um cronista de jornal precisa o tempo
todo descolonizar o olhar e pensar o mundo com seus próprios
olhos, como diria o crítico cultural, prof. Milton Santos.
Um homem que se metamorfoseia ao mesmo tempo num professor respeitado
nas faculdades em que trabalha, num advogado militante há
muito reconhecido na área de direito público de nossa
região, num administrador dinâmico, num pai e marido
zeloso. Um homem que pede, sem vaidade, na crônica “Aos
Eleitos”, lugar para “a sua fala enrouquecida sem o
dourado das palavras dos púlpitos [...]”.
Como literato, Israel Quirino, além de cronista dos jornais
locais, é um ensaísta social audaz, um poeta e um
romancista/novelista que faz sua peregrinação introspectiva
pelos “Caminhos de Emaús”, título de seu
mais novo livro, o qual lança hoje aqui conosco.
Um escritor que se observa, na mesma crônica “Aos Eleitos”,
como um caminhante aventureiro nas estradas das palavras perpetuadas
pelo registro e se indaga: “Num relance observei meus passos
incertos nas calçadas seculares da vida, sem vaidade, como
a me perguntar se preparado estava para ser perene”.
E a quem nesta modesta saudação eu respondo, fazendo
minhas as palavras do inigualável Charles Chaplin: _ Israel,
“o triunfo pertence a quem se atreve”. Celebramos aqui
o seu atrever-se a dizer e a si dizer, sensível ao mundo
que o rodeia e às vozes que o povoam.
Atrever-se que pode ser observado desde o livro “Galerias”,
de 1986, nas poesias do livro “Anjos Vadios”, de 1988,
no ensaio político “Iluminado ao Sol do Terceiro Mundo:
o neoliberalismo e a atrofia do Estado Brasileiro”, de 2000,
nas páginas do manual “Os Caminhos da Lei”, de
2011, na sua peregrinação pelas páginas da
novela “Caminho de Emaús”, de 2013, e nas inúmeras
crônicas sociais já publicadas nos Jornais: Voz de
Mariana, Ponto Final, A Semana e na Agenda Cultural.
Assim, para que você, Israel, possa nos trazer a sua palavra
nova, é que, em nome da ALACIB, dou-lhe as boas-vindas a
este grupo, para tomar posse como membro efetivo desta academia,
da cadeira de nº 35, cujo patrono é o Cláudio
Manoel da Costa, assim como você, um marianense, um advogado,
mas acima de tudo, um notável descolonizador do olhar, sensível
às ideias de seu tempo e aos anseios de independência
de sua gente.
Israel Quirino, saudações e muito obrigada pela honra
de poder saudá-lo!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 12 de outubro
de 2013.
Discurso
de saudação à acadêmica Zaíra
Melillo Martins
Prezados
membros da diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências
Brasil (ALACIB), nobres colegas acadêmicos e queridos visitantes,
a todos vocês o meu fraterno cumprimento e o meu “boa
tarde”!
Certa
vez, Cecília Meireles escreveu que “embora o vento
seja o mesmo, a sua resposta é diferente em cada folha”.
E é dessa peculiaridade das respostas, capaz de falar de
maneira tão diversa em cada um e a cada momento, que me aproprio
para saudar a neoacadêmica, Zaíra Melillo Martins.
Essa escritora tenaz, professora e revisora de textos, é
pós-graduada em Psicopedagogia e graduada em Letras. Uma
mineira, cujo cenário de sua formação é
enredado pelas
“manhãs
frias
cerração
baixa
montanhas
encobertas”
poeticamente
descrito em um trecho de sua aldravipeia cujo tema é “montanhas”.
Cenário esse que é matéria- prima não
apenas de seus versos, mas também de sua história
pessoal. História que se enreda e se constrói pelas
montanhas de Itabirito e de Caeté.
Zaíra Melillo Martins, uma mulher que entendeu, desde cedo,
que contar histórias confere movimento à nossa vida
interior e dota-nos da capacidade para compreender a vida se fazendo,
ou, como diria João Cabral, “vê-la desfiar seu
fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela
mesma, teimosamente, se fabrica”.
Mãe de duas filhas, Daniela e Carmem, conta-nos no livro
“De meninas e de bichos”, com o tom materno e linguagem
de “alpendre” das casas mineiras, sobre a experiência
de ser mãe e sobre o dia a dia das filhas, ainda pequenas
à época da narrativa, no beiral da infância
e pré-adolescência. E também das idas e vindas
da família com os vários bichos de estimação
e de suas desventuras com todos eles.
E mais que nos contar uma história da infância das
filhas, o mais curioso do livro de Zaíra Melillo é
nos deixar entrever na narrativa sobre como “o vento comum
da maternidade” gerou respostas “diferentes em relação
a cada filha”... O quanto às meninas eram diferentes
e o quanto, cada uma em sua singularidade, dava sentido à
vida da autora.
Na literatura, além do livro mencionado, a neoacadêmica
já escreveu e publicou poemas, contos e crônicas, tendo
iniciado o caminho da publicação aos 16 anos. Acumula
prêmios e medalhas na área da literatura desde 1971;
tendo sido, em 2010, homenageada com o troféu Carlos Drummond
de Andrade, em Itabira, no evento “Destaques do Ano”.
Participou de várias antologias em Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo e em antologias internacionais.
E, tal qual a maria-fumaça definida em verso por Zaíra
“Como
Alma
Mineira
Incansável
Serpenteando
Trilhas”
A
literata experiente é membro da Academia Municipalista de
Letras de Minas Gerais (AMULMIG), representando a cidade de Itabirito,
desde o ano de 2000. Sócia-correspondente da Academia de
Letras de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. Participa do Conselho
de Turismo (CONTUR), da Prefeitura Municipal de Caeté, e
é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas.
Participou do Salão do Livro de Paris (em 2012), como autora
integrante da antologia bilíngue, Escritores contemporâneos
de Minas Gerais, e da Semana Luso-Brasileira em Portugal e Ilha
da Madeira (em 2013).
E é a essa escritora a quem tenho a honra de saudar em nome
ALACIB, que, a partir de agora, ocupará a cadeira de número
37, cujo o patrono é o aclamado poeta mineiro, Affonso Ávila
– escritor que embora tenha morrido em 2012, permanece presente
entre nós por meio de sua poesia visceral.
Zaíra Melillo Martins, seja muito bem-vinda a esta instituição
e que o “vento da criatividade” continue provocando
“respostas tão peculiares” nas folhas de seus
textos.
Muito obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 28 de junho de
2014.
Discurso de Saudação a Maura Martins e a Humberto
martins /Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB
Caríssima
presidente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil-ALACIB-
Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Presidente Executivo e Editor, J.B.Donadon-Leal;
Caro Secretário-Geral, Gabriel Bicalho;
E Tesoureiro, J. S. Ferreira;
A todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!
Cumprimentos
que estendo carinhosamente aos demais colegas confrades e confreiras
desta instituição, a seus familiares e amigos;
(caso apresentem-se); Aos jovens da Academia Infanto-juvenil de
Letras de Mariana e sua diretoria;
Às Meninas Cantoras de São Gonçalo e à
regente Maria da Piedade de Sousa Rodrigues;
Ao cantor Fafá da Barra.
Aos visitantes que vieram nos prestigiar;
E,
em especial, aos neoacadêmicos, Maura Maria da Silveira Salgado
Martins (Maura Martins) e Humberto Eustáquio Martins de Oliveira
(Humberto Martins), que a partir de hoje passam a nos honrar por
fazerem parte desta sociedade!
Meus
caros amigos, esta sociedade cultural a que pertencemos vem tentando,
com grande afinco, integrar três grandes áreas do saber
e da criatividade humana: as artes (com suas tintas, suas notas
musicais, suas formas, suas texturas e interpretações);
as letras (com suas palavras serenadas de querer e suas linguagens
múltiplas) e as ciências (com suas análises/
ensaios e buscas constantes).
Tal integração é buscada porque entendemos,
usando as palavras de Manoel de Barros, que:
“A ciência pode classificar e nomear os órgãos
de um sabiá, mas não pode medir seus encantos.
A
ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem nos encantos de um sabiá.
Quem
acumula muita informação perde o condão de
adivinhar: divinare.
[e ] Os sabiás [ meus amigos] divinam.”
É
com esse texto provocador, escrito pelo poeta matogrossense, que
desafia àquela ciência reducionista à materialidade
racional, que inicio a minha saudação à escritora
Maura Martins. Pois a ciência sozinha não é
capaz nem de explicar o mundo exterior ou interior e tão
pouco de medir os encantos de um simples sabiá. São
precisas outras formas de conhecer, não para medir, mas para
nos ajudar a saborear e divinar o mundo e suas realidades, vistas
ou criadas.
Maura Martins, esta Oficiala e Diretora Regional do Cartório
de Registro Civil de Ponte Nova, é graduada em terapia holística,
reikiana, pela Universidade Internacional Holística de Brasília.
Teve como mestres os renomados Pierre Weil e Roberto Crema, terapeutas
centrados na inteireza do fenômeno humano, no divinare, como
diz Manoel de Barros.
Mas não é apenas em sua formação que
o elemento holístico se mostra, pois o HOLOS, a totalidade
e a integração cósmica, aflora facilmente na
poesia da neoacadêmica, como pode ser lido na Aldravia de
sua autoria, publicada no “Livro das Aldravias” da SBPA
(Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas), sociedade da qual
é membro.
Eis a aldravia:
cósmicas
linhas
traçadas
paralelas
buscando
infinito
Afinal,
é preciso acalentar o desejo de integração
para captar nas seis palavras-versos desta aldravia o resumo de
toda uma filosofia de vida.
Mineira de Ponte Nova, Maura Martins, recebeu o exemplo e a influência
artístico-musical de seus avós e de seus pais, cuja
apreciação estética e estilística foi
herança cultural significante a ela conferida.
Essa pontenovense que já peregrinou pelo chamado Solo Sagrado
Japonês, participando de cultos com líderes religiosos
renomados, traduz em poesia seu entendimento sobre o divino.
Observemos duas de suas aldravias que tratam do divino:
1ª) em
tua
grandeza
minha
pequenez
humana
2ª) do
possível
do
impossível
sempre
Deus
Em seu livro pessoal de aldravias, intitulado “Pétalas
ao Vento”, a neoacadêmica, como bem assinala no prefácio
o presidente desta academia, J. B. Donadon-Leal, Maura Martins insinua
o desejo de propagação da poesia com todos os discursos
possíveis, para todos os lugares, como verdadeiras pétalas
ao vento.
Afinal, poesia não é feita apenas de palavras e de
jogos de palavras, mas de ideias artesanalmente moldadas em nossos
pensamentos, furtiva à razão das razões, um
jeito de olhar o mundo e de percorrer a vida, em palavras e em silêncios
poéticos.
Maura Martins escolhe por patrono o rei das reinações,
Monteiro Lobato, aquele que dentre feitos políticos e literários
marcou seu nome no cenário nacional e internacional.
O neoacadêmico Humberto Martins é poeta, revisor gramatical,
pesquisador de Literatura, Direito e Filosofia. Amante da sabedoria,
como ele mesmo se designa, interessa-se por aquilo que lhe possa
alargar os horizontes do conhecimento. Pensamento este que percorre
também seus textos poéticos, tal qual na aldravia
seguinte:
grande
o
problema
se
mente
pequena
Nascido em Anaflor, pertencente a Ponte Nova, elegeu sua esposa,
Maura Martins, como a musa que o inspira em sua escrita literária.
A ela, presume-se são dedicados versos como estes:
tu
és
meu
pessegal
em
flor
bebi
o
néctar
dos
teus
lábios
quando
eu
chorei
tu
me
consolastes
Versos aldrávicos que marcam a inserção deste
literato na sociedade de poetas aldravianistas (SBPA), pois, como
afirma o próprio escritor:
sou
poeta
imerso
no
universo
aldrávico
Em 2010, Humberto Martins publicou o livro “A menina da Vila”,
lançado em Ponte Nova e relançado na Biblioteca Pública
Municipal de Ouro Preto. A Menina da Vila, obra que tem como cenário
a antiga vila Ana Flor e a Usina de cana-de-açúcar
aí instalada, trata literariamente do problema do menor,
com linguagem simples e adequada, que faz jus à obra tão
elogiada pela crítica intelectual mineira.
Em 2012, lançou o livro “Homem que Ouve”, cuja
edição está esgotada. Elogiado como apresentando
um estilo cristalino e seguidor das qualidades de “A Menina
da Vila”
Ainda no ano de 2012, ele e a mulher, Maura Martins, recebem a comenda
Luís Vaz de Camões de Mérito Cultural e Literário,
como reconhecimento pelo apoio inestimável e contribuição
prestada ao desenvolvimento social e cultural em nosso país.
Elege como patrono Salvador Ferrari, médico e literato notável,
que atuou em Ponte Nova, mas que também já foi prefeito
da cidade de Mariana.
Por não terem perdido o condão de divinar, saúdo
a vocês dois, Maura e Humberto Martins, pois é com
muita honra que esta casa, tramada com pesquisas, tintas, palavras,
notas musicais e muitos “cantos de sabiás” recebe-os
como seus novos membros.
Bem-vindos e muito obrigada!
Magna Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 29 de junho de
2013.
Discurso de saudação ao membro correspondente Jair
da Silva Araújo
Prezados membros da diretoria
da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (ALACIB), nobres
colegas acadêmicos e queridos visitantes, a todos vocês
o meu fraterno cumprimento e o meu “boa tarde”!
O filósofo e poeta
francês, Voltaire, certa vez escreveu que “devemos julgar
um homem mais por suas perguntas do que pelas respostas”.
E é esse pensamento do filósofo que me veio à
mente quando li as crônicas e as poesias encaminhadas à
ALACIB pelo acadêmico correspondente, o soteropolitano, Jair
da Silva Araújo.
Um baiano que soube dizer com sagacidade de nossa conveniente miopia
para realidade próxima e de nosso espanto com a realidade
distante. Que também soube se indagar, por vezes, indignado,
com a nossa “ceguitude” com a tragédia costumeira,
invisível aos nossos sentidos, que desfila adiante das janelas
de nossos carros e de nossas casas.
Ceguitude essa que encontra seu paradoxo em nossa perplexidade para
o que vemos adentro das janelas de 40 polegadas de nossas TVS e
das telas minúsculas de nossos notebooks, tablets e smartphones.
Ceguitude e perplexidade – aqui e lá – essa dicotomia
inteligentemente expressa pelo literato na crônica “Nove
Baianinhos”, quando nos pinta verbalmente a cena a seguir:
Eu vi nove baianinhos na
esquina [...]
Nove crianças de pés descalços, metidas em
camisas sujas e rotas e se amontoavam num beco, no centro da cidade,
agressivos em suas misérias. [...]
E nós, prisioneiros em nossos medos, espantamos nossa falta
de esperança, navegando na internet, nos compadecendo com
as dores d’África, d’Ásia, d’Oriente,
sonhando com Miami e, às vezes, mascando chiclete e comendo
banana como se fôssemos os súditos de Baco, alegres
e alienados.
Essa forma de fazer literatura,
destrinchando a realidade social, interrogando-se, espantando-se
para poder enxergar o que está na opacidade, no “negrume
do próprio olhar”, como o contista metaforiza em “requiescat
in pace” – descanse em paz – talvez seja um traço
herdado da biologia. Essa ciência que faz a cartografia genética
da vida, mas que ao mesmo tempo, se atenta ao detalhe, ao que ninguém
já não mais vê. Afinal, Jair Araújo é
licenciado em Ciências Biológicas pela Federal da Bahia,
foi professor na área por muitos anos, na antiga Escola Técnica
Federal da Bahia, a qual, mais tarde, veio a ser o CEFET-Bahia.
Ou será que o seu fazer literário, advém do
estudo das organizações e de seus funcionamentos,
tão característica da Administração
de Empresas, sua segunda graduação. Ora, meus colegas,
aventuro-me a dizer, que seus traços literários vieram
da simbiose da biologia com a administração, esculpida
com o labor do magistério, de um professor acostumado a indagar
e ser indagado constantemente.
Simbiose questionadora impressa em um de seus poemas, nomeado “arqueopoema”,
em que se lê:
Pesquiso o passado,
Questiono o presente,
Projeto o futuro,
Com minha impotente ciência,
Que registrará como fóssil poético
Doces lembranças.
Como consolo, [...]
Restará ainda minha língua.
Mas Jair da Silva Araújo
também nos traz experiências de outras áreas,
pois, dentre outras atividades, foi diretor administrativo da Escola
Técnica Federal da Bahia (90/93), foi de Chefe do Setor de
Produção Agrícola da Prefeitura de Salvador
(80/85) e também Auditor Fiscal da Prefeitura de Salvador
(94).
Jair nos banqueteia com linguísticas baianidades, ao contar
de um menino que “vivia lá para as bandas de xique-xique”
“ [..] desenxabido, xendengue [...]” “cujo melhor
brinquedo era uma xipoca, usada para atormentar os passarinhos que
se aninhavam nos umbuzeiros ao entardecer.” Publicou 04 livros
de literatura entre crônicas e poesias, sendo eles:
• Aruak e os estranhos seres – romance infantil –
2010
• Poetas da Bahia – antologia de poemas – 2002
• Entre poucas e boas – contos – 2000
• Silêncio Soltos – poemas – 1983.
Autor
para quem, “a palavra é sentimento cristalizado”,
que “se travada, envenena a alma” tal qual sinalizado
no poema, “ouvidos de mercador”, também ganhou
prêmios com sua literatura e se aventurou pelo território
movente das aldravias.
Dentre outros prêmios, foi ganhador do 8º Concurso de
Contos, promovido pela Academia Mineira de Letras (2014); 2º
lugar, I Concurso Internacional Literário da ALACIB, na categoria
Poesia, deste ano de 2014; 3º lugar do Concurso Cidade de Salvador
(2002).
E, como bem disse o eternizado escritor José Saramago, “tudo
no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo
das perguntas”, pensamento esse que muito bem poderia dialogar
com o aquele de Voltaire, com que comecei este discurso de saudação.
Por tudo isso, Jair, desejo que você seja muito bem-vindo
a esta instituição e que nos ajude a mais que darmos
respostas, fazermos, consistentemente, boas perguntas!
Muito obrigada!
Magna
Campos, Reunião Solene da ALACIB, em 29 de novembro de 2014.
Discurso de Apresentação do
Grupo Zé Pereira da Chácara
O
Zé Pereira, como é normalmente nomeado, surgiu no
Brasil, conforme aponta o historiador Vieira Fazenda, por volta
de 1846, e teve como patriarca o sapateiro português José
Nogueira de Azevedo Paredes. Conta a história, que à
época, José Nogueira reuniu um grupo de amigos e saiu,
na segunda-feira de carnaval, em barulhenta passeada ao som de bumbos,
zabumbas e tambores, anarquicamente tocados pelas ruas. Por vezes,
nos carnavais posteriores, o grupo saía também acompanhado
de bonecos gigantes e cabeçudos.
Mais de 100 anos depois de seu surgimento, na década de 1950,
havia aqui em Mariana vários Zé-Pereiras: havia o
Zé Pereira do Bairro Preto, o Zé Pereira do São
Gonçalo, O Zé Pereira da Rua Nova, mas, de todos,
o único que sobreviveu, graças ao entusiasmo e a persistência
de seus participantes, foi o Zé Pereira da Chácara.
Somente no ano de 1979, portanto, 133 anos após o seu referido
surgimento, ocorre a institucionalização do grupo
marianense, Zé Pereira da Chácara, com a criação
da primeira mesa diretora, da qual entre outros membros, fazia parte
a D. Maria José Chaves.
No ano de 1980, a Lei Municipal nº552 decreta o Zé Pereira
da Chácara como sendo “utilidade pública”.
Em 1992, como fruto de reinvindicação constante de
seus organizadores, os bonecos ganham uma sede própria, denominada
de Toca do Zé Pereira, localizada no Bairro Chácara.
Em 2013, o Grupo Folclórico Zé Pereira completa 167
anos de existência, cuja tradição é repassada
de geração em geração. Em Mariana, o
grupo tem à sua frente pessoas que, por amor a essa manifestação
típica da cultura popular, dedica seu tempo e sua inventividade
a cuidar e a perpetuar os catitões gigantes.
Hoje o Zé Pereira da Chácara possui 118 catitões,
divididos entre bonecos adultos e mirins. E o grupo conta, além
dos participantes adultos, com 60 componentes registrados, com idade
variando de 04 a 16 anos, que carregam e desfilam alegremente os
bonecos em suas apresentações na cidade e nas visitas
que o bloco faz a outras regiões. Esse é, sem dúvida,
um importante incentivo cultural às novas gerações
e, que, por sua vez, figura como uma das metas da atual diretoria,
qual seja “aproximar crianças e adolescentes da popular
tradição do Zé Pereira da Chácara –
tradicional e reinventado ao mesmo tempo”.
Em sua organização atual, temos doze membros. Sua
presidente atual é Maria José Chaves e seu diretor-secretário
geral é Mardely Macedo Lopes, quem aqui será laureado
em nome do grupo.
LEAL,
Andreia Donadon. Casa de baixo, casa de cima. Mariana:
Aldrava Letras e Artes, 2017. 16p.
Escrever
sobre a complexidade da dor da morte de uma mãe da forma
simples, pura e delicada, como foi realizado no livro “Casa
de Baixo, Casa de Cima”, causa em nós, leitores apreciadores
da literatura infantil, ao mesmo tempo, conforto, esperança
e lágrimas.
Conforto, porque as metáforas da ambulância, da casa
de cima, dos olhos de pitangas e do coração que bate
saudade sobrepujam com extrema delicadeza a melancolia que poderia
rechear aquilo de que tratam, causando em nós um mergulho
na memória à procura de quantas outras vezes ouvimos
falar de coisas tão difíceis com palavras e sentidos
afetuosos e sutis.
E esperança, porque sentir (e não apenas ler) o sol
voltando a aquecer e iluminar a vida de uma criança órfã
de mãe, de um jardim que voltou a ter razão para se
vivificar, de uma casa de cima que precisa organizar os dias e as
noites para que as demais casas aqui em baixo possam ganhar sentido,
e, assim, propiciar às famílias o rearranjo e a continuidade
da escrita de suas histórias, tudo isso é, no mínimo,
inspirador de sentimentos esperançosos.
E, se, em algum momento da história, como eu, você
também se pegar piscando e abrindo um pouco mais os olhos,
para tentar dispersar a lágrima provocada pela sutileza e
simplicidade como a perda é tratada, é sinal que você
foi abraçado pela beleza revelada a cada nova palavra e nova
ilustração do livro. E, nesse misturar de fantasia
e de realidade, compreendemos gratamente surpresos que a morte já
não é mais a questão central da história,
mas sim a vida!
Magna
Campos, 30 de maio de 2017.
Edição
em 23 de janeiro de 2019 por J. B. Donadon-Leal