Registrada
em 06 de abril de 2009
A
ALACIB é uma Associação Literária
sem fins econômicos, com sede e foro em Mariana, Minas Gerais,
CNPJ 10778442/0001-17. Tem por objetivo a difusão da cultura
e o incentivo às Letras e às Artes, de acordo com
as normas estabelecidas no seu Regimento. Registrada em 06 de abril
de 2009.
Diretoria
da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Presidente:
Andreia Aparecida Silva Donadon Leal
Vice-Presidente: J.S. Ferreira
Secretário-Geral: Gabriel Bicalho
Tesoureiro: J. B. Donadon-Leal
Promotora de Eventos Culturais: Hebe Maria Rôla Santos
Conselho Fiscal e Cultural: José Luiz Foureaux de Souza Júnior,
Magna das Graças Campos e Anício Chaves
Acadêmica
NILZE MONTEIRO
Cadeira nº 31
Patrono: Manuel da Costa Ataíde
Notas
Biográficas de Nilze Monteiro
Nilze Monteiro (Batista), graduada em Ciência da Informação
da UFMG, cursos complementados na UFMG e fora. Proprietária
da NM Assessoria Cultural. Curadora e expositora em diversas exposições
de artes no Brasil e no exterior, dentre outras na coletiva "Migration
Art Expo2012 realizada na ONU, em Nova York, em Belo Horizonte,
na UNIRIO, I Bienal do Mediterrâneo em Portugal. Diretora
Cultural do InBrasCI MG, Colunista de arte na Rev. Casa, Campo&Cia.
Membro efetivo da Governadoria do InBraCI-MG, Membro titular da
ALACIB, Mariana - Cadeira 31, da Acad. Le Merite et Dévouemente
Français e d'Honner de Divine Académie Français
des Artes Lettres et Culture. Membro titular da Sociedade Brasileira
dos.Poetas Aldravianistas, Membro Honorário do Instituto
Histórico-militares de Lisboa, Correspondente Estrangeiro
da Acad. de Letras e Artes de Lisboa, da Acad. Portuguesa Ex-Libres.
Lisboa, da Acad. Internacional de Heráldica, Portugal. Membro
correspondente da ANLA, Rio de Janeiro. Participação
em diversas antologias nacionais e internacionais. Participação
na FLIP 2018 Paraty e Bienal do Livro SP 2018.
Discurso
de Posse
Manuel da Costa Ataide, Manuel da Costa Ataíde, Manuel da
Costa Atayde, Mestre Atayde, Manoel da Costa Athaíde, Manoel
da Costa Athaide, Mestre Ataíde, Athayde, Athaide, Manoel
da Costa Athayde.
"Olhada em conjunto, a pintura do Athaide exibe a elegância
e leveza do rococó, porém manifesta um gosto pela
grave expressão de sentimentos e uma aspiração
ao ar livre da paisagem que são sincrônicas à
de Constable e Caspar David Friedrich, seus contemporâneos.
Como a de todo artista de boa envergadura a obra de Athaide, em
última análise, não se deixa prender a rótulos
de escola ou de períodos. Transcende-os, é contemporânea
de si mesma. (...) O conjunto da obra de pintura do Athaide deixa
perceber um espírito de intelectual liberal, talvez agnóstico.
(...) Athaide não só corporificou em sua obra a extraordinária
e original feição do barroco mineiro na passagem da
primeira para a segunda metade do século XVIII, como também
deu sinal de tomar consciência, já em pleno século
XIX, de uma ideologia que, em arte, cada vez mais valorizava a atuação
do indivíduo e o papel da autoria e do fazer criador como
veiculadores do belo desinteressado, postura que se iniciara na
ruptura da Renascença com a mentalidade medieval". Lélia
Coelho Frota
A primeira ideia é elaborar um texto sobre Manoel da Costa
Athayde - Mestre Ataíde, mas para atingir esse objetivo,
primeiramente desenvolvemos a pesquisa sobre o Barroco - palavra
de origem espanhola “Barrueco” para designar pérolas
de forma irregular, estilo que influenciou a pintura, a literatura,
a escultura, a arquitetura e o urbanismo, e que serve de embasamento
para o tema principal – “mestre Athaide: um dos mais
importantes artistas do barroco mineiro”.
Barroco, estilo artístico que surgiu na Itália do
século XVII como reação ao Renascimento e Maneirismo
e se prolongou até meados do século XVIII com a denominação
de rococó (rocaille). Foi amplamente disseminado pelo mundo
em períodos distintos, isto é, aconteceu em cada lugar
em um período diferente. Por isso é impossível
unificar o acontecimento do estilo barroco, assim como suas características,
porque cada parte do mundo acolheu o barroco adotando uma série
de nuances nacionais.
O Barroco busca a maravilha, criar o maravilhoso para causar o espanto
e, com seu estilo grandioso, monumental, retorcido e assimétrico
explorando as diagonais, com a acentuação dos claro-escuros,
proporciona a sensação de profundidade, alcançando
uma representação dramática, dinâmica,
uma sensação de constante movimento. Dessa forma,
o barroco vai substituindo e se distanciando da unidade geométrica
e do equilíbrio ideal de harmonia, proporção
e medida que propunha o Renascimento, isto é, a arte renascentista.
As cores, as sombras e a luz são valorizadas. Imagens descentralizadas,
construídas utilizando a técnica da perspectiva, ressaltando
as curvas e os relevos, em movimentos exagerados. As expressões
faciais são representadas por fortes emoções,
principalmente, o sofrimento. As cores predominantes são
o azul, o vermelho e o dourado.
Pelo seu poder de sedução, a arte barroca foi usada
como veiculo para doutrinação do povo, conceito pautado
no princípio de que a fé deveria ser atingida através
dos sentidos e da emoção e não somente pelo
raciocínio.
O estilo barroco representado na arquitetura, na escultura, na pintura
que, como todas as obras, precisam ser vista e lida, “escrita
que se vê e uma imagem se que lê”. Os subsídios
para essa leitura são os acontecimentos da história,
pelas narrações da bíblia e pela vida dos santos,
beatos e mártires. Esses fatos são representados metaforicamente
ou alegoricamente para cativar o espectador. Neste período
a expressão artística exorta a cultura do parecer,
recorrendo às técnicas de efeitos de ilusões,
sinestésicos, prevalecendo o emotivo sobre o racional.
As principais características do estilo barroco na literatura
é o uso de “alegorias”; frases interrogativas;
ordem inversa; cultismo e conceptismo.
As alegorias se utilizam das palavras fumaça, vento, chama,
neve, água, espuma, etc. para expressar a efemeridade e instabilidade
das coisas.
Constata-se isso em trecho do poema de Francisco Rodrigues Lobo,
acredita-se discípulo de Camões:
“Entre essas ondas claras, duvidosas,
Levai ao largo mar, com turva vela,
Tristes queixumes, lágrimas queixosas”.
Em frases interrogativas, estas palavras são usadas para
refletir duvidas e incertezas do homem barroco, retratada em versos
de Gregório de Matos:
“Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa a Luz é, por que não dura?”.
A forma inversa torna a frase pomposa e traduz o raciocínio
no estilo barroco, isto é, a falta de clareza diante das
coisas e a insegurança da época, deixando os pensamentos
divididos, como, por exemplo, o conflito entre corpo e alma.
No cultismo é relevante à forma do texto expressado
com jogo de palavras e uso exacerbado de metáforas e hipérboles,
influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gongora, por isso
é também conhecido por “Gongorismo”. Com
Gregório de Matos:
“O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.”
No conceptismo (concepção – ideia – conceito)
enfatiza o plano das ideias do texto, é o jogo de conceitos
e ideias, seguido por um raciocínio lógico e uma retórica
rigorosa, com a intenção de convencer e ensinar o
leitor.
Encontramos conceptismo em um fragmento dos sermões do padre
António Vieira (1608-1697). Quando ele evidencia a importância
do olhar, das imagens refletidas e da luz:
"Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias
três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é
cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho
e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de
luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há
mister olhos." Pe. Vieira (1608-1697) Sermão da sexagésima
na Capela Real de Lisboa em 1655.
No Brasil, o Barroco foi introduzido pelos Jesuítas no final
do século XVI e era um movimento destinado apenas à
catequização, pois ainda não havia a formação
da consciência literária brasileira. Não existia
público leitor para as obras literárias e isso só
foi ocorrer no século XIX.
Sua expansão teve inicio no século XVII, mais precisamente
em 1601, com a publicação do poema épico Prosopopéia,
de Bento Teixeira Pinto, poeta português radicado no Brasil.
Além de propagar o estilo barroco no Brasil, foi também
a primeira obra literária que se tem noticia publicada no
Brasil. Inicialmente sofreu forte influencia do barroco português,
mas foi assumindo como o tempo, características próprias.
No século XVIII, século do ouro, a grande produção
barroca nas artes visuais brasileiras, ocorreu, marcadamente, nas
cidades auríferas de Minas Gerais. Cidades ricas que possuíam
intensa vida cultural e artística, um estilo de forte caráter
religioso. Que apesar do ouro, predominava a utilização
de madeira e pedra-sabão.
Os principais representantes do barroco mineiro no campo das artes
plásticas são - o escultor e arquiteto Antônio
Francisco de Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, e o sargento
e Alferes da ordenança da cidade de Mariana, professor de
pintura e arquitetura, Manoel da Costa Athayde, mais conhecido como
mestre Ataíde, 1762-1830.
Manoel da Costa Athayde ou Mestre Ataíde, foi batizado no
dia 18 de outubro de 1762 na Catedral de Mariana, e faleceu em 2
de fevereiro de 1830, também em Mariana, cidade mineira.
Ele foi pintor, dourador, artífice na arte da encarnação,
entalhador e professor. Conceituado como um dos artistas brasileiro
mais importante de sua época.
Esse significativo artista do período barroco/rococó
das Minas Gerais, exerceu considerável ascendência
sobre os artistas de sua terra natal, pois exercitou com maestria
o papel de mestre na formação de pupilos e adeptos,
daí sua alcunha – mestre Ataíde.
O historiador Salomão de Vasconcellos, provavelmente, foi
o primeiro a pesquisar sobre a vida e obras do mestre Ataíde.
Um dos resultados da sua pesquisa exaustiva foi o livro “Ataíde
- pintor mineiro do século XVIII”, publicado em 1941.
Foi o primeiro livro publicado sobre o artista marianense, constituindo-se
um marco fundamental nos estudos biográficos sobre o mestre
Ataíde.
É ilustrada com três importantes documentos, nos quais,
aparece à grafia correta do nome do artista: a certidão
de batismo, a sua nomeação para Sargento em uma das
Companhias de Cavalaria de Minas e a carta dirigida ao Rei D. João
VI solicitando a criação de uma escola de desenho
e pintura em Mariana. Encontramos citação destes documentos,
também, no livro “Manoel da Costa Athaide”, autoria
do professor Ivo Porto de Menezes.
"Certifico que, a fls. 113 do L.6., de batizados da Cathedral
de Mariana, consta o termo seguinte:
"Manoel" - Aos dezoito dias do mez de outubro de 1762,
baptizon solenemente de licença minha o Devmo. Manoel da
Silva Salgado, e poz os Santos Oleos a Manoel ignocente, filho legitimo
de Luiz da Costa Athayde e sua mulher Maria Barbosa; forão
padrinhos Sebastiam Martins da Costa, todos desta cidade, o que
para constar, mandei fazer este assento que assignei; eu o Cura
Luciano Ferreira da Costa". (VASCONCELLOS, 1941:pp. 19-20)
Documento, no qual, Athayde foi ordenado em 1797, para o cargo de
Sargento da Companhia de Ordenanças no Arraial do Bacalhau,
atualmente um distrito de Piranga.
"Por se achar vago o posto de sargento da Companhia de Ordenanças
do arrayal de São Bartholomeu, de que sou capitão,
nomeio para exercer o dito posto ao cabo de esquadra da mesma Companhia,
Manoel da Costa Athayde, em quem concorreram os requizitos necessarios,
aprovando o meu capitão, sr. José da Silva Pinto.
- O capitão comandante, Francisco Alvares da Costa. Em 1.de
abril de 1797". (cod. 257 S.G., do Arq. Publ. Mun., págs.
152, verso). (VASCONCELLOS, 1941: 21)
Petição de Athayde, elaborada em 18 de maio de 1819
solicitando à D. João VI autorização
para criar em Mariana uma escola de desenho e pintura, anexando
o atestado recebido da Câmara Municipal:
"[...]" Por isso com amais profunda humildade e Obediencia
prostado aos Augusto Pes de Vossa Magestade Real representa Manoel
da Costa Athayde Professor das Artes Sobreditas, e habitante da
Cidade de Mariana, eaqui Supplicante [...]." (VASCONCELLOS,
1941: 49).
Atestado da Câmara Municipal, de 29 de abril de 1819, em que,
Mestre Ataíde foi reconhecido como professor de arte, da
arquitetura e da pintura e que embasou a carta do Mestre Ataíde
dirigida D. João VI, acima citada:
(...) "tendo dado bastantes provas de que não só
é capaz de por em praxe o risco das Cartas Geográficas,
dos animais, plantas, aves e outros produtos da Natureza, como explicar
e instruir aos que se quiserem aproveitar".
Segundo Mário Anacleto Sousa Júnior em seu artigo:
Aspectos técnico e material da pintura no Brasil, 2000, as
pesquisas apontam para a formação de um ateliê
e não escola formalizada.
Encontramos a assinatura do Mestre Ataíde na obra “A
Última Ceia”, única assinada pelo artista -
no canto inferior direito aparece à autoria: Atahide fes
no Anno de1828. Em seu túmulo, seu sobrenome está
grafado - Athayde.
Partindo das informações contidas nos documentos acima
apresentados, se pode inferir que o nome correto do artista barroco
deveria ser Manoel da Costa Athayde, mesmo ele ter assinado “Atahide”.
A historiografia ainda não chegou a um consenso referente
à grafia do nome Manoel e do sobrenome Athayde.
Manoel da Costa Athayde, filho do capitão português
Luís da Costa Ataíde, natural de Santa Cruz de Alvadia,
e de Maria Barbosa de Abreu, possivelmente também portuguesa.
Nasceu em Mariana e foi batizado na Catedral em 18 de outubro de
1762 e faleceu, também, em Mariana em 2 de fevereiro de 1830.
Seu corpo foi sepultado na igreja de São Francisco de Assis
de Mariana no túmulo (campa) de nº 94.
Ataíde preferiu a policromia e as cores puras, vermelho e
azul, cores predominantes no estilo barroco. Empregava o ouro, talvez
pelo brilho ou pela imponência social que o metal representava
ou, ainda, pelo artifício de desviá-lo das mãos
da coroa portuguesa.
A superioridade técnica de Mestre Ataíde se sobressai
no seu perfeito desenho de perspectiva e corpos em escorço,
pela harmonia cromática e pela expressividade do seu desenho.
Essa linha expressiva que tende a criar corpos volumosos e lânguidos,
que quase não conhece ângulos retos e transforma a
anatomia dos corpos em traços curvos. E nas imagens a principal
característica são os traços mestiços,
bem brasileiros. Podemos observar essa característica nos
traços amulatados de Maria, no detalhe da Assunção
da Virgem, 1812, (foto), também conhecida como Coroação
de Nossa Senhora da Porciúncula, seu mais conhecido e bem
sucedido trabalho, executado na pintura do teto da nave da capela
da Igreja de São Francisco de Ouro Preto, considerado um
dos exemplares mais perfeitos da pintura de perspectiva do período
colonial brasileiro.
Manoel da Costa Athayde – mestre Ataide, deixou extenso legado
artístico, relevantes e profícuos, distribuídos
em várias localidades de Minas Gerais.
Bibliografia
1. BERNARDI, Francisco. As Bases da Literatura Brasileira. Porto
Alegre: AGE, 1999.
2. FROTA, Lélia Coelho. Vida e trabalho de Manuel da Costa
Ataíde. In: ATAIDE: vida e obra de Manuel da Costa Ataíde.
Texto Lélia Coelho Frota. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1982.
3. MENEZES, Ivo Porto de. Manoel da Costa Athaide.Belo Horizonte:
Escola Arquitetura, 1965.
4. MENEZES, Ivo Porto de. Mestre Athayde. Rio de Janeiro: Spala,
1989. 191 p., il. Color.
5. VASCONCELOS, Salomão de. Ataíde: Pintor MIneiro
do Século XVIII. Belo Horizonte, Livraria Editora Paulo Bluhm,
1941.
6. SUFFIATTI, Luiz Fernando. A pintura de perspectiva de Manuel
da Costa Athayde. Dissertação de mestrado - Universidade
de Brasília - Departamento de Artes Visuais. http://www.arte.unb.br/museu/teoria/rosto.htm
Edição
em 28 de janeiro de 2019 por J. B. Donadon-Leal