Aldravia
– nova forma, nova poesia
Críticas
Caminho
novo
Manoel
Hygino dos Santos
Jornal Hoje em Dia
Tudo fechado.
Somente quando funcionava a aldrava, que os lusitanos mais apreciam
escrever com b, abriam-se as portas para que o visitante ingressasse
no âmago da casa. A aldrava era o sinal de que havia vida e
alma no interior da habitação.
Pois este é o undécimo ano do surgimento da "aldrava",
algo que as gentes pouco (ou nada) conhecem, a não ser os iniciados
na poesia ou os seus utentes (como gostam de dizer os portugueses
quando se referem a usuários).
Há espaço para a poesia em nosso tempo? Mais: há
espaço em nosso tempo para uma forma nova de poesia? Enfim,
de que se trata? Esse nosso povo de Mariana gerou esse produto, até
onde sei. Trata-se de um poema sintético capaz de inverter
ideias de que a poesia se acha num beco sem saída. A aldravia
abre a porta para que a poesia, enfim liberta e incólume, se
apresente.
O poema, na forma e feição, é constituído
de uma linométrica de até seis palavras-verso. Não
mais. Mas, nestas poucas palavras, condena seu sentido, significação
e vida, de modo acessível, porque o interesse é de que
haja compreensão. Caso contrário, todo o esforço
se perderia. Como o carrilhão no templo, adverte par a hora
e convida à oração.
J.B.Donadon Leal, dentre outros aspectos, registra que, a partir de
reflexões sobre os destinos da poesia, "os aldravistas
liderados por Gabriel Bicalho observaram a poesia que encetam para
a síntese nos poemas curtos nas trovas, nos haicais".
Remonta-se à preocupação de Pound: "A organização
do pensamento de modo que o próximo homem ou geração
possa achar, o mais rapidamente possível, a parte viva dele
e gastar o mínimo de tempo com questões obsoleta.
Quem inventou o vocábulo "aldravia" foi uma artista:
Andreia Donadon Leal, inquieta e inexaurível, lutando bravamente
por suas ideias e ideais, a partir de Mariana, o QG do aldravismo.
Resumira: "o máximo de poesia no mínimo de palavras".
Um vocábulo por verso, seis palavras, eis uma aldravia. Como
estas de Andreia: "barco/à/deriva/flutua/no/caos",
ou "uma/estrela/pequenina/ilumina/céu/inteiro"; ou
ainda: "ferro/fundido/dentro/do/meu/peito".
Só isso? Poder-se-ia perguntar. Tudo isso, diria eu. Este o
espírito da forma nova da comunicação poética,
que nasceu na primeira vila e cidade de Minas e ganha espaço
por seu próprio sentido inquietante, no tempo inquieto que
atravessamos.
J.B também dá o seu recado: "na/rede/elétrica/parlamento/de
andorinhas" ou "palavras/jogadas/ao/vento/discurso/político".
De Gabriel Bicalho: "sou/nau/frágil/em/teu/mar" ou
de J. S.Ferreira: "tua/língua/punhal/de/prata mata?"
Mas se a poesia é instrumento do aldravismo, não é
único. Ele se expande pelas artes plásticas e avança
por outros nichos brasileiros, já se tendo apresentado em Brasília,
Rio de Janeiro e São Paulo. Tem seu jornal e muitos projetos.
Já publicou bastante, inclusive livros, entre os quais de haicais,
e inaugurou o Muro de Poesia, na cidade-berço.
Publicado
no Jornal Hoje em Dia e postado no Portal Hoje em Dia
em 18 de Março, 2011
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Comentário
crítico acerca de
ALDRAVIAS A CINCO VOZES
Carlos
Alberto dos Santos Abel
Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira)
e Professor aposentado da Universidade de Brasília.
Sorvendo
os poemas de Aldravias a cinco vozes, fui rapidamente levado a Ezra
Pound no clássico, abc da literatura. Uma das suas observações
casa-se perfeitamente à demiurgia dos poetas, que, em tão
boa hora, tornaram papel impresso suas criações. EP
diz que o “homem lúcido não pode permanecer quieto
e resignado enquanto o seu país deixa que a literatura decaia
e que os bons escritores sejam desprezados [...].” Cumpro o
preceito de EP, puro senso de justiça, pois externo meu ponto
de vista acerca do que li nesse pequeno grande Aldravias a cinco vozes,
porque a mestria desses menestréis é excelente e leva
a poesia ao ponto mais alto do Parnaso.
Ainda com EP, lembrei-me de uma de suas frases capitais: “Os
artistas são a antena da raça”. Os aldravistas
não procuram a obscuridade no pensar e no transmitir suas mensagens,
são artistas de hoje, de nosso século XXI, e, por isso,
como dizia o grande poeta e teórico norte-americano, não
podem ser negligenciados. Devemos com o maior carinho, observar o
que querem dizer nos seus versos que nos vão ajudar a suplantar
o possível declínio de nossa cultura poética.
EP afirmava que os “homens não alcançam compreender
os livros enquanto não chegam a ter certa dose de experiência
da vida”, modestamente, concordo, pois já estou, nos
meus quase oitenta anos, próximo a um encontro, se possível,
adiável, com a Indesejada das Gentes, e, com algumas dezenas
de anos em salas de aula e muita leitura, por isso, atrevo-me a dizer
que os aldravistas vieram, apresentaram-se e vão ficar por
muitos anos como uma fonte onde poderemos sempre e sempre abeberarmo-nos
da melhor composição poética de pequena extensão,
mas de profundi-dade a toda prova.
De “Aldravia ? nova forma, nova poesia”, de J. B. Donadon-Leal,
estou apresentando um fragmento do texto que explicita essa “nova
forma, nova poesia”, não deixando nenhuma lacuna no seu
entendimento:
Trata-se
de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de
que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova
demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia.
O Poema é constituído numa linométrica de até
06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não
uma “fôrma”, como a trova, o haicai, o soneto.
Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória,
porém preocupada com a produção de um poema que
condense significação com um mínimo de palavras,
conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique
extremo esforço para sua elaboração.
A
essa conceituação de Donadon-Leal, nada se pode acrescentar,
porque ela é perfeita na sua síntese.
Os poetas, todos os demiurgos, continuarão na sua faina, fazendo
parte de toda uma continuidade poética. Estamos em 2011, olho
o passado distante, aos meados do século XIX, e encontro Arthur
Rimbaud (1854-1891), que, em “Cocheiro bêbado”,
apresenta-nos um poema aldravista:
Alacre
/Vai: /Nacre /Rei.
Acre /Lei. /Fiacre /Cai!
Dama: /Tombo. /Lombo
Dói. /Clama: /Ai!
Não
posso terminar este escrito, deixando, na penumbra, os poetas que
nos estão proporcionando tantos momentos de beleza, de poesia
da melhor qualidade, no livro, Aldravias a cinco vozes: Edir Meirelles,
Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca
e Messody Benoliel.
Marcia
Barroca, Edir Meirelles, Juçara
Valverde, Luiz Gondim e Messody Benoliel
Foto Lab. Pro Foto - Rio
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Textos
de apresentação de Aldravias a Cinco Vozes
"Uma
publicação fora do domicílio do inventor consagra
a invenção. Aldravias a 5 Vozes, dos renomados escritores
Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca
e Messody Benoliel, representa a consagração de uma
nova forma de poesia, criada em Minas Gerais pelos poetas aldravistas
em dezembro de 2010. O espírito poundiano de se obter o máximo
de poesia no mínimo de palavras guia a verve criadora dos autores
desta antologia magistral. Cada um deixa que sua alma solte sua voz,
mantendo-se íntegro em sua autonomia autoral, mas os autores
com suas aldravias somam-se na composição do livro,
fazendo valer a máxima de que sozinhos precisaremos despender
muita forma, enquanto juntos, somados, somos fortes. Quem aprecia
poesia ganha uma nova motivação para gostar ainda mais
do texto em versos, pois as aldravias, além de conter o que
há de essencial na poeticidade – a síntese –
tem a adequação necessária com a contemporaneidade
– a brevidade na exposição. Parabéns aos
autores por esse presente relevante à cultura brasileira."
Andreia
Donadon Leal - Presidente da ALB-Mariana – Mestranda
em Literatura – (cultura e sociedade) pela UFV
Prefácio
A
juventude das aldravias justifica sua fecundidade. Nascidas oficialmente
em dezembro de 2010, na edição nº 88 do Jornal
Aldrava Cultural, as aldravias germinais foram jogadas como vírus
no ar e contaminaram as mentes destituídas de anticorpoesia.
Em maio de 2011, Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim,
Marcia Barroca e Messody Benoliel, poetas locutores destas cinco vozes,
estiveram em Minas e lá se contaminaram de aldravírus,
contra o qual não há vacina. Os sintomas imediatos dos
que contraem o aldravírus são febre por síntese
e vômitos de versos monovocálicos. É sabido que
Luiz Gondim e Messody Benoliel já o tinham contraído
em contato anterior que tiveram com aldravistas. Contextualizado o
surgimento dessa febre poética, atenho-me a tecer considerações
sobre esta babel poética, que com prazer prefacio, heterogênea
em sua constituição, polifônica em sua consciência
enunciativa e antítese da torre bíblica. As cinco vozes
enunciativas deste paço monumental de aldravias, lócus
de poeticidade extrema, são de locutores experientes na arte
literária, de cuja maestria resultam joias raras como as que
os ourives de outrora esculpiam com o ouro que resgatavam das bateias
dos ribeirões de Minas. E assim Edir Meirelles resgata da história
as experiências dos desbravadores de Minas, especialmente dos
que vinham do Rio de Janeiro:
pisei
minas
de
Minas
voltei
dourado
Se
essa é a sina do desbravador, se essa é sina de Minas,
em nome dos poetas aldravistas, sinto-me recompensado, pois o ouro
que o poeta levou daqui foi o ouro da poesia que ora orna estas páginas.
As vozes de Edir passeiam por ondas discursivas que tocam na lírica,
pedagogia, humor e erotismo, conforme desejo expresso no cânon
das aldravias como forma que abriga a liberdade.
Juçara Valverde tomou a palavra vazia e a encheu de poesia;
bebeu gulosamente as ruas, as luas, as cores, os aromas e a arte de
Mariana. Metapoética viagem por vozes em recepção,
leitura atenta dos rumores dos universos expostos e irradiadores de
discursos. Olhar, ouvir, sentir é preencher vazios com palavras,
caminhos disponíveis à compreensão:
tem
momentos
que
transbordam
em
aldravias
Luiz
Gondim clama por vozes políticas, barítono, retumbante,
reverberante. Voz de galanteador incorrigível em cada palavra-verso,
que seduz até na repreensão desvelada ou diante do não
definitivo de uma mulher. A polifonia discursiva que faz múltiplo
o temário poético, faz múltiplo o sujeito lírico
que se apossa do ser empírico que dá materialidade ao
poema. Gondim ínsita, por isso dispensa do leitor ou da musa
a apresentação de convite para entrar em seus poemas,
porta que prescinde da aldrava, pois se acha sempre aberta:
em
meus
poemas
entraste
sem
convite
As
vozes de Marcia Barroca contidas em sua clausura dissentida com seu
espírito de poeta, arrancam lá do fundo das almas as
paixões pelas coisas que não colam na pele, por isso
se perdem das memórias. Que vozes dos discursos da sedução
revelam-se nas aldravias em agonias, desilusões e temores e
saudades impingidas em olhos perdidos em horizontes inatingíveis,
até que as antíteses possam revelar verdades e mentiras
nas contrariedades que nos sacodem:
emoções
sacodem
brisas
refúgios
de
poemas
E
completa o coro magistral, a cobrar do leitor no gran finalle, o altissonante
Bravo!, Messody Benoliel protagoniza a solista, que se permite transgressora
das formas, para fazer ressaltar o brilho das vozes em coro de poetas
que se destacam da plateia ao se colocarem num cenário elevado.
Para cima, em elevação, em louvação aos
que assumem a arte de fazer ecoar as vozes das almas caladas –
os poetas:
no
topo
da
escada
ouço
poetas!
No aconchego sensual do colo das montanhas de Minas nasceu o gérmen
que uniu em coro as cinco vozes fluminenses contaminadas pelo aldravírus,
cujo concerto requer esse paço monumental Aldravias a Cinco
Vozes para abrigá-lo – um livro requintado nesse inovador
gênero literário.
Mariana, 11 de junho de 2011
J. B. Donadon-Leal
Movimento Aldravista
No dia 14 de outubro do ano 2000, em Mariana-MG, criamos a Aldrava
Letras e Artes, associação cultural, sem fins lucrativos,
que registrou estatuto em que deixa contemplada sua expansão
nas mais diversas áreas da Cultura. A aldrava passou a ser
utilizada como símbolo da insistência/resistência
de um grupo de escritores radicados em Mariana-MG, cuja inquietação
cultural batia aldravas desde o início dos anos 90, através
de um fanzine, do panfleto cultural 4 + ou – poetas e do jornal
CIMALHA. Impossibilitada a continuidade do CIMALHA, Gabriel Bicalho
convocou alguns componentes e colaboradores desses projetos, para
a fundação do Jornal Aldrava Cultural, cujos objetivos
se delineavam na constituição de um movimento cultural
expressivo, capaz de sensibilizar o mais variado público. No
ano 2002, foi criada a Editora Aldrava Letras e Artes, à sustentação
dos trabalhos realizados pelo grupo de escritores, que chamava a atenção
de intelectuais, além fronteiras. E foram estabelecidas normas
embrionárias do que, em breve, iria tornar-se no Movimento
Aldravista, cujo cânone está no primeiro livro editado
por nossa Editora, intitulado Aldravismo – A Literatura do Sujeito.
Então, já promovendo mostras da Arte Aldravista, em
busca da abolição do traço como forma de uma
expressão pictórica mais livre, privilegiamos a Pintura,
tendo na DEIA LEAL a lídima representante desse segmento aldrávico.
No final de 2010, ao completar 10 anos de ininterrupta atividade cultural,
a associação carecia de um marco aos seus feitos e criamos
uma nova forma poética, descomplicada e de fácil assimilação,
a ALDRAVIA (nome sugerido por Andreia Donadon Leal ao poema elaborado
por Gabriel Bicalho), que motivou estes cinco poetas de escol às
preciosas peças deste belíssimo livro de autêntica
Poesia.
Gabriel Bicalho, Presidente da Aldrava Letras e Artes
Releitura: aldravias a Cinco Vozes
Introdução:
Visitamos
Mariana
Partimos
Novos
Aldravistas
(Juçara Valverde)
“Brotam flores do chão, onde pisas...”
“as emoções sacodem as brisas”
“refúgios de poemas”.
“Poetas são livros vivos, criação perene!”
“Há momentos que trasbordam em Aldravias”,
“nas noites das alterosas, entre papos, risos e prosas”...
e “viram mania, alegria, poemas”.
“Poetas levam bagagens na mente”...
E contagiam, através destas cinco vozes que ecoam
nesta Antologia e transcendem, pela magia, as fronteiras de Minas
Gerais.
Parabéns a todos estes semeadores da mais nova forma poética
que vicia, mas esse vício faz bem ao espírito criador!
J.S.Ferreira
– Vice-Presidente da ALB-Mariana e da Aldrava Letras e Artes
***
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Aldravia
– nova forma, nova poesia
J. B.
Donadon-Leal
A
arte da poesia, desde a antiguidade, já experimentou muitas
formas. Sempre ela esteve certificada pela grandeza com que a arte
encanta olhos e ouvidos. Ela consagrou nomes e eternizou formas, além
de ter revelado muitas faces ocultas das paixões pela vida.
Não é à toa que a poesia é tida por muitos
como a mais nobre entre todas as artes.
Das narrativas longas da antiguidade, passando pela
condensação dos sonetos do advento da era moderna ou
pela síntese do haicai do oriente do Séc. XXVII, a poesia
experimentou extremos: muitas palavras para muitos conteúdos
ou muitos conteúdos em poucas palavras. De qualquer forma,
a poesia presta-se para a incubação de novidades à
linguagem e, ao mesmo tempo, para o culto às memoráveis
celebrações ao passado.
Em novembro do ano de 2000, com o lançamento
do Jornal Aldrava Cultural, os poetas aldravistas, empreendedores
do movimento que nascia em Mariana, Minas Gerais, a partir daí,
consignaram um propósito de em 10 anos apresentarem à
sociedade um projeto cultural que apontasse caminhos para a celebração
das coisas e dos sujeitos produtores das artes.
O primeiro legado dos aldravistas foi a ideia de
organização do mundo artístico, seja para produzi-lo,
seja para compreendê-lo, a partir do conceito de metonímia:
porções constitutivas das coisas podem representá-las,
muito bem, no mundo das significações. Essa percepção
abre espaço para o enfrentamento à concepção
prepotente das metáforas que trazem consigo arroubos de substituições
totalitárias Ao mesmo tempo, a poesia metonímica busca
demonstrar que a poeticidade pode estar na simplicidade. A leitura
da poesia não pode ser uma tortura em busca de significações.
Sentidos têm que saltar da forma poética com a facilidade
com que se captam os significados na fala cotidiana. Tortura não
combina com poesia. A única dor tolerável na poesia
é a do prazer.
Sabendo ser parte de um todo que se diz nessa parte, para que se querer
todo sempre que alguma parcela desse todo se faz necessária
na construção de algum projeto temático? Cada
parte de um todo se joga num conjunto discreto que se deixa escolher
em cada investida produtiva de significação. Esse é
o espírito da enciclopédia, que se revelou integralmente
no complexo mundo wiki, hipertextual e em cadeia com escolhas e escolhas
de novas metonímias que se alimentam dessas escolhas.
O que o espírito wiki realiza é exatamente
o que o espírito da poesia já revela há milênios:
o mínimo de palavras para a abertura do máximo de possibilidades
significativas, plagiando Pound em sua reflexão sobre a arte
da poesia.
Ao lado disso, a partir de reflexões sobre
os destinos da poesia, os aldravistas liderados por Gabriel Bicalho
buscaram observar a poesia que enceta para a síntese nos poemas
curtos, nas trovas, nos haicais. Essa característica de observador
da síntese vai ao encontro da hipótese poundiana de
poesia. Mas, seriam, de fato, essas formas poéticas as mais
sintéticas? Representariam elas, de fato, as metonímias
perseguidas pelos aldravistas?
A ideia de flash, de fotografia ou de uma porção
de algo parece contemplada nessas formas poéticas. Elas demonstram
também outro aspecto do aldravismo – a livre escolha
de formas de poesia.
Aí outro aspecto do espírito do poeta
evidencia-se: a inquietação. Essa inquietação
faz do poeta um ser que está sempre em busca de algo a mais,
do ponto extra, da falta, do que ainda não foi visto. Mais
uma vez os aldravistas se valem do legado de Pound em seus ensaios
literários de 1934, para concretizarem o paideuma: “a
organização do pensamento de modo que o próximo
homem ou geração possa achar, o mais rapidamente possível,
a parte viva dele e gastar o mínimo de tempo com questões
obsoletas”.
Que novidade os aldravistas poderiam deixar para
as gerações futuras? Além da vasta produção
já obtida nesses dez anos de estrada, além da promoção
de talentos e de investimento na criatividade infantil, os poetas
aldravistas poderiam apresentar uma nova forma poética. Não
fazia parte do empreendimento inicial, pois é possível
brincar com a liberdade utilizando-se das formas poéticas consagradas.
O grande investimento aldravista é no conteúdo metonímico
– pouco importa a forma. A forma é apenas textual, é
apenas envelope dentro do qual os discursos se depositam em sua fecundidade
ilimitada, disponíveis aos olhares de espectadores que alcançam
alguma porção discursiva a partir da qual expande sua
compreensão e interpretação.
Mas, que tal uma nova forma. Eis que do permanente
congresso do movimento aldravista de artes, do qual participam ativamente
Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, eu e J. S. Ferreira, surgiu
uma nova forma de poesia: a aldravia, nome sugerido por Andreia Donadon
Leal a uma forma elaborada por Gabriel Bicalho, com base na concepção
de encontro com os sentidos na possibilidade real de se ter o máximo
de poesia no mínimo de palavras.
Trata-se de um poema sintético, capaz de
inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem
saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para
a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa
linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Assim,
tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”,
como a trova, o haicai, o soneto.
Esse limite de 06 palavras se dá de forma
aleatória, porém preocupada com a produção
de um poema que condense significação com um mínimo
de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que
isso signifique extremo esforço para sua elaboração.
Esta edição do Jornal Aldrava Cultural apresenta ao
público a aldravia:
salto
de
cova
nascimento
do
artista
Andreia
Donadon Leal
|
não
fazer
poesia
de
alma
vazia
Gabriel
Bicalho
|
minhas
porções
diárias
metonímias
de
mim
J.
B. Donadon-Leal
|
sigo
cigano
em
busca
da
poesia
J
S Ferreira
|
O
movimento aldravista de arte chega maduro aos seus dez anos de existência,
pronto para apresentar nova forma poética ao conteúdo
metonímico já experimentado nas formas canônicas
de versejar. Poesia tem que ter poeticidade na simplicidade, conteúdo
na síntese e porta aberta às interpretações.
Poesia é germinação, por isso não
precisa pretender-se à completude em longas narrativas, pois
curta
poesia
do
verbo
pólen
via
Texto
publicado no Jornal Aldrava Cultural nº 88, de dezembro de 2010
Federação das Academias
de Letras e Cultura de Minas Gerais publica aldravias em seu Blog
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