Jornal Aldrava Cultural
ISSN 151-9665
Aldravias - Fortuna crítica
Cartas
Aldravia – nova forma, nova poesia

Críticas

Caminho novo

Manoel Hygino dos Santos
Jornal Hoje em Dia


Tudo fechado. Somente quando funcionava a aldrava, que os lusitanos mais apreciam escrever com b, abriam-se as portas para que o visitante ingressasse no âmago da casa. A aldrava era o sinal de que havia vida e alma no interior da habitação.
Pois este é o undécimo ano do surgimento da "aldrava", algo que as gentes pouco (ou nada) conhecem, a não ser os iniciados na poesia ou os seus utentes (como gostam de dizer os portugueses quando se referem a usuários).
Há espaço para a poesia em nosso tempo? Mais: há espaço em nosso tempo para uma forma nova de poesia? Enfim, de que se trata? Esse nosso povo de Mariana gerou esse produto, até onde sei. Trata-se de um poema sintético capaz de inverter ideias de que a poesia se acha num beco sem saída. A aldravia abre a porta para que a poesia, enfim liberta e incólume, se apresente.
O poema, na forma e feição, é constituído de uma linométrica de até seis palavras-verso. Não mais. Mas, nestas poucas palavras, condena seu sentido, significação e vida, de modo acessível, porque o interesse é de que haja compreensão. Caso contrário, todo o esforço se perderia. Como o carrilhão no templo, adverte par a hora e convida à oração.
J.B.Donadon Leal, dentre outros aspectos, registra que, a partir de reflexões sobre os destinos da poesia, "os aldravistas liderados por Gabriel Bicalho observaram a poesia que encetam para a síntese nos poemas curtos nas trovas, nos haicais". Remonta-se à preocupação de Pound: "A organização do pensamento de modo que o próximo homem ou geração possa achar, o mais rapidamente possível, a parte viva dele e gastar o mínimo de tempo com questões obsoleta.
Quem inventou o vocábulo "aldravia" foi uma artista: Andreia Donadon Leal, inquieta e inexaurível, lutando bravamente por suas ideias e ideais, a partir de Mariana, o QG do aldravismo.
Resumira: "o máximo de poesia no mínimo de palavras".
Um vocábulo por verso, seis palavras, eis uma aldravia. Como estas de Andreia: "barco/à/deriva/flutua/no/caos", ou "uma/estrela/pequenina/ilumina/céu/inteiro"; ou ainda: "ferro/fundido/dentro/do/meu/peito".
Só isso? Poder-se-ia perguntar. Tudo isso, diria eu. Este o espírito da forma nova da comunicação poética, que nasceu na primeira vila e cidade de Minas e ganha espaço por seu próprio sentido inquietante, no tempo inquieto que atravessamos.
J.B também dá o seu recado: "na/rede/elétrica/parlamento/de andorinhas" ou "palavras/jogadas/ao/vento/discurso/político".
De Gabriel Bicalho: "sou/nau/frágil/em/teu/mar" ou de J. S.Ferreira: "tua/língua/punhal/de/prata mata?" Mas se a poesia é instrumento do aldravismo, não é único. Ele se expande pelas artes plásticas e avança por outros nichos brasileiros, já se tendo apresentado em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Tem seu jornal e muitos projetos. Já publicou bastante, inclusive livros, entre os quais de haicais, e inaugurou o Muro de Poesia, na cidade-berço.

Publicado no Jornal Hoje em Dia e postado no Portal Hoje em Dia em 18 de Março, 2011

http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/manoel-hygino-dos-santos-1.174/caminho-novo-1.254214

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Comentário crítico acerca de
ALDRAVIAS A CINCO VOZES

Carlos Alberto dos Santos Abel
Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira)
e Professor aposentado da Universidade de Brasília.


Sorvendo os poemas de Aldravias a cinco vozes, fui rapidamente levado a Ezra Pound no clássico, abc da literatura. Uma das suas observações casa-se perfeitamente à demiurgia dos poetas, que, em tão boa hora, tornaram papel impresso suas criações. EP diz que o “homem lúcido não pode permanecer quieto e resignado enquanto o seu país deixa que a literatura decaia e que os bons escritores sejam desprezados [...].” Cumpro o preceito de EP, puro senso de justiça, pois externo meu ponto de vista acerca do que li nesse pequeno grande Aldravias a cinco vozes, porque a mestria desses menestréis é excelente e leva a poesia ao ponto mais alto do Parnaso.
Ainda com EP, lembrei-me de uma de suas frases capitais: “Os artistas são a antena da raça”. Os aldravistas não procuram a obscuridade no pensar e no transmitir suas mensagens, são artistas de hoje, de nosso século XXI, e, por isso, como dizia o grande poeta e teórico norte-americano, não podem ser negligenciados. Devemos com o maior carinho, observar o que querem dizer nos seus versos que nos vão ajudar a suplantar o possível declínio de nossa cultura poética.
EP afirmava que os “homens não alcançam compreender os livros enquanto não chegam a ter certa dose de experiência da vida”, modestamente, concordo, pois já estou, nos meus quase oitenta anos, próximo a um encontro, se possível, adiável, com a Indesejada das Gentes, e, com algumas dezenas de anos em salas de aula e muita leitura, por isso, atrevo-me a dizer que os aldravistas vieram, apresentaram-se e vão ficar por muitos anos como uma fonte onde poderemos sempre e sempre abeberarmo-nos da melhor composição poética de pequena extensão, mas de profundi-dade a toda prova.
De “Aldravia ? nova forma, nova poesia”, de J. B. Donadon-Leal, estou apresentando um fragmento do texto que explicita essa “nova forma, nova poesia”, não deixando nenhuma lacuna no seu entendimento:

Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”, como a trova, o haicai, o soneto.
Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.

A essa conceituação de Donadon-Leal, nada se pode acrescentar, porque ela é perfeita na sua síntese.
Os poetas, todos os demiurgos, continuarão na sua faina, fazendo parte de toda uma continuidade poética. Estamos em 2011, olho o passado distante, aos meados do século XIX, e encontro Arthur Rimbaud (1854-1891), que, em “Cocheiro bêbado”, apresenta-nos um poema aldravista:

Alacre /Vai: /Nacre /Rei.
Acre /Lei. /Fiacre /Cai!
Dama: /Tombo. /Lombo
Dói. /Clama: /Ai!

Não posso terminar este escrito, deixando, na penumbra, os poetas que nos estão proporcionando tantos momentos de beleza, de poesia da melhor qualidade, no livro, Aldravias a cinco vozes: Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca e Messody Benoliel.


Marcia Barroca, Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim e Messody Benoliel
Foto Lab. Pro Foto - Rio

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Textos de apresentação de Aldravias a Cinco Vozes

"Uma publicação fora do domicílio do inventor consagra a invenção. Aldravias a 5 Vozes, dos renomados escritores Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca e Messody Benoliel, representa a consagração de uma nova forma de poesia, criada em Minas Gerais pelos poetas aldravistas em dezembro de 2010. O espírito poundiano de se obter o máximo de poesia no mínimo de palavras guia a verve criadora dos autores desta antologia magistral. Cada um deixa que sua alma solte sua voz, mantendo-se íntegro em sua autonomia autoral, mas os autores com suas aldravias somam-se na composição do livro, fazendo valer a máxima de que sozinhos precisaremos despender muita forma, enquanto juntos, somados, somos fortes. Quem aprecia poesia ganha uma nova motivação para gostar ainda mais do texto em versos, pois as aldravias, além de conter o que há de essencial na poeticidade – a síntese – tem a adequação necessária com a contemporaneidade – a brevidade na exposição. Parabéns aos autores por esse presente relevante à cultura brasileira."

Andreia Donadon Leal - Presidente da ALB-Mariana – Mestranda em Literatura – (cultura e sociedade) pela UFV


Prefácio

A juventude das aldravias justifica sua fecundidade. Nascidas oficialmente em dezembro de 2010, na edição nº 88 do Jornal Aldrava Cultural, as aldravias germinais foram jogadas como vírus no ar e contaminaram as mentes destituídas de anticorpoesia. Em maio de 2011, Edir Meirelles, Juçara Valverde, Luiz Gondim, Marcia Barroca e Messody Benoliel, poetas locutores destas cinco vozes, estiveram em Minas e lá se contaminaram de aldravírus, contra o qual não há vacina. Os sintomas imediatos dos que contraem o aldravírus são febre por síntese e vômitos de versos monovocálicos. É sabido que Luiz Gondim e Messody Benoliel já o tinham contraído em contato anterior que tiveram com aldravistas. Contextualizado o surgimento dessa febre poética, atenho-me a tecer considerações sobre esta babel poética, que com prazer prefacio, heterogênea em sua constituição, polifônica em sua consciência enunciativa e antítese da torre bíblica. As cinco vozes enunciativas deste paço monumental de aldravias, lócus de poeticidade extrema, são de locutores experientes na arte literária, de cuja maestria resultam joias raras como as que os ourives de outrora esculpiam com o ouro que resgatavam das bateias dos ribeirões de Minas. E assim Edir Meirelles resgata da história as experiências dos desbravadores de Minas, especialmente dos que vinham do Rio de Janeiro:

pisei
minas
de
Minas
voltei
dourado

Se essa é a sina do desbravador, se essa é sina de Minas, em nome dos poetas aldravistas, sinto-me recompensado, pois o ouro que o poeta levou daqui foi o ouro da poesia que ora orna estas páginas. As vozes de Edir passeiam por ondas discursivas que tocam na lírica, pedagogia, humor e erotismo, conforme desejo expresso no cânon das aldravias como forma que abriga a liberdade.
Juçara Valverde tomou a palavra vazia e a encheu de poesia; bebeu gulosamente as ruas, as luas, as cores, os aromas e a arte de Mariana. Metapoética viagem por vozes em recepção, leitura atenta dos rumores dos universos expostos e irradiadores de discursos. Olhar, ouvir, sentir é preencher vazios com palavras, caminhos disponíveis à compreensão:

tem
momentos
que
transbordam
em
aldravias

Luiz Gondim clama por vozes políticas, barítono, retumbante, reverberante. Voz de galanteador incorrigível em cada palavra-verso, que seduz até na repreensão desvelada ou diante do não definitivo de uma mulher. A polifonia discursiva que faz múltiplo o temário poético, faz múltiplo o sujeito lírico que se apossa do ser empírico que dá materialidade ao poema. Gondim ínsita, por isso dispensa do leitor ou da musa a apresentação de convite para entrar em seus poemas, porta que prescinde da aldrava, pois se acha sempre aberta:

em
meus
poemas
entraste
sem
convite

As vozes de Marcia Barroca contidas em sua clausura dissentida com seu espírito de poeta, arrancam lá do fundo das almas as paixões pelas coisas que não colam na pele, por isso se perdem das memórias. Que vozes dos discursos da sedução revelam-se nas aldravias em agonias, desilusões e temores e saudades impingidas em olhos perdidos em horizontes inatingíveis, até que as antíteses possam revelar verdades e mentiras nas contrariedades que nos sacodem:

emoções
sacodem
brisas
refúgios
de
poemas

E completa o coro magistral, a cobrar do leitor no gran finalle, o altissonante Bravo!, Messody Benoliel protagoniza a solista, que se permite transgressora das formas, para fazer ressaltar o brilho das vozes em coro de poetas que se destacam da plateia ao se colocarem num cenário elevado. Para cima, em elevação, em louvação aos que assumem a arte de fazer ecoar as vozes das almas caladas – os poetas:

no
topo
da
escada
ouço
poetas!


No aconchego sensual do colo das montanhas de Minas nasceu o gérmen que uniu em coro as cinco vozes fluminenses contaminadas pelo aldravírus, cujo concerto requer esse paço monumental Aldravias a Cinco Vozes para abrigá-lo – um livro requintado nesse inovador gênero literário.

Mariana, 11 de junho de 2011
J. B. Donadon-Leal


Movimento Aldravista

No dia 14 de outubro do ano 2000, em Mariana-MG, criamos a Aldrava Letras e Artes, associação cultural, sem fins lucrativos, que registrou estatuto em que deixa contemplada sua expansão nas mais diversas áreas da Cultura. A aldrava passou a ser utilizada como símbolo da insistência/resistência de um grupo de escritores radicados em Mariana-MG, cuja inquietação cultural batia aldravas desde o início dos anos 90, através de um fanzine, do panfleto cultural 4 + ou – poetas e do jornal CIMALHA. Impossibilitada a continuidade do CIMALHA, Gabriel Bicalho convocou alguns componentes e colaboradores desses projetos, para a fundação do Jornal Aldrava Cultural, cujos objetivos se delineavam na constituição de um movimento cultural expressivo, capaz de sensibilizar o mais variado público. No ano 2002, foi criada a Editora Aldrava Letras e Artes, à sustentação dos trabalhos realizados pelo grupo de escritores, que chamava a atenção de intelectuais, além fronteiras. E foram estabelecidas normas embrionárias do que, em breve, iria tornar-se no Movimento Aldravista, cujo cânone está no primeiro livro editado por nossa Editora, intitulado Aldravismo – A Literatura do Sujeito. Então, já promovendo mostras da Arte Aldravista, em busca da abolição do traço como forma de uma expressão pictórica mais livre, privilegiamos a Pintura, tendo na DEIA LEAL a lídima representante desse segmento aldrávico. No final de 2010, ao completar 10 anos de ininterrupta atividade cultural, a associação carecia de um marco aos seus feitos e criamos uma nova forma poética, descomplicada e de fácil assimilação, a ALDRAVIA (nome sugerido por Andreia Donadon Leal ao poema elaborado por Gabriel Bicalho), que motivou estes cinco poetas de escol às preciosas peças deste belíssimo livro de autêntica Poesia.

Gabriel Bicalho, Presidente da Aldrava Letras e Artes


Releitura: aldravias a Cinco Vozes

Introdução:
Visitamos
Mariana
Partimos
Novos
Aldravistas
(Juçara Valverde)

“Brotam flores do chão, onde pisas...”
“as emoções sacodem as brisas”
“refúgios de poemas”.
“Poetas são livros vivos, criação perene!”
“Há momentos que trasbordam em Aldravias”,
“nas noites das alterosas, entre papos, risos e prosas”...
e “viram mania, alegria, poemas”.
“Poetas levam bagagens na mente”...
E contagiam, através destas cinco vozes que ecoam
nesta Antologia e transcendem, pela magia, as fronteiras de Minas Gerais.
Parabéns a todos estes semeadores da mais nova forma poética
que vicia, mas esse vício faz bem ao espírito criador!

J.S.Ferreira – Vice-Presidente da ALB-Mariana e da Aldrava Letras e Artes

 

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Aldravia – nova forma, nova poesia
J. B. Donadon-Leal

   A arte da poesia, desde a antiguidade, já experimentou muitas formas. Sempre ela esteve certificada pela grandeza com que a arte encanta olhos e ouvidos. Ela consagrou nomes e eternizou formas, além de ter revelado muitas faces ocultas das paixões pela vida. Não é à toa que a poesia é tida por muitos como a mais nobre entre todas as artes.
   Das narrativas longas da antiguidade, passando pela condensação dos sonetos do advento da era moderna ou pela síntese do haicai do oriente do Séc. XXVII, a poesia experimentou extremos: muitas palavras para muitos conteúdos ou muitos conteúdos em poucas palavras. De qualquer forma, a poesia presta-se para a incubação de novidades à linguagem e, ao mesmo tempo, para o culto às memoráveis celebrações ao passado.
   Em novembro do ano de 2000, com o lançamento do Jornal Aldrava Cultural, os poetas aldravistas, empreendedores do movimento que nascia em Mariana, Minas Gerais, a partir daí, consignaram um propósito de em 10 anos apresentarem à sociedade um projeto cultural que apontasse caminhos para a celebração das coisas e dos sujeitos produtores das artes.
   O primeiro legado dos aldravistas foi a ideia de organização do mundo artístico, seja para produzi-lo, seja para compreendê-lo, a partir do conceito de metonímia: porções constitutivas das coisas podem representá-las, muito bem, no mundo das significações. Essa percepção abre espaço para o enfrentamento à concepção prepotente das metáforas que trazem consigo arroubos de substituições totalitárias Ao mesmo tempo, a poesia metonímica busca demonstrar que a poeticidade pode estar na simplicidade. A leitura da poesia não pode ser uma tortura em busca de significações. Sentidos têm que saltar da forma poética com a facilidade com que se captam os significados na fala cotidiana. Tortura não combina com poesia. A única dor tolerável na poesia é a do prazer.
Sabendo ser parte de um todo que se diz nessa parte, para que se querer todo sempre que alguma parcela desse todo se faz necessária na construção de algum projeto temático? Cada parte de um todo se joga num conjunto discreto que se deixa escolher em cada investida produtiva de significação. Esse é o espírito da enciclopédia, que se revelou integralmente no complexo mundo wiki, hipertextual e em cadeia com escolhas e escolhas de novas metonímias que se alimentam dessas escolhas.
   O que o espírito wiki realiza é exatamente o que o espírito da poesia já revela há milênios: o mínimo de palavras para a abertura do máximo de possibilidades significativas, plagiando Pound em sua reflexão sobre a arte da poesia.
   Ao lado disso, a partir de reflexões sobre os destinos da poesia, os aldravistas liderados por Gabriel Bicalho buscaram observar a poesia que enceta para a síntese nos poemas curtos, nas trovas, nos haicais. Essa característica de observador da síntese vai ao encontro da hipótese poundiana de poesia. Mas, seriam, de fato, essas formas poéticas as mais sintéticas? Representariam elas, de fato, as metonímias perseguidas pelos aldravistas?
   A ideia de flash, de fotografia ou de uma porção de algo parece contemplada nessas formas poéticas. Elas demonstram também outro aspecto do aldravismo – a livre escolha de formas de poesia.
   Aí outro aspecto do espírito do poeta evidencia-se: a inquietação. Essa inquietação faz do poeta um ser que está sempre em busca de algo a mais, do ponto extra, da falta, do que ainda não foi visto. Mais uma vez os aldravistas se valem do legado de Pound em seus ensaios literários de 1934, para concretizarem o paideuma: “a organização do pensamento de modo que o próximo homem ou geração possa achar, o mais rapidamente possível, a parte viva dele e gastar o mínimo de tempo com questões obsoletas”.
   Que novidade os aldravistas poderiam deixar para as gerações futuras? Além da vasta produção já obtida nesses dez anos de estrada, além da promoção de talentos e de investimento na criatividade infantil, os poetas aldravistas poderiam apresentar uma nova forma poética. Não fazia parte do empreendimento inicial, pois é possível brincar com a liberdade utilizando-se das formas poéticas consagradas. O grande investimento aldravista é no conteúdo metonímico – pouco importa a forma. A forma é apenas textual, é apenas envelope dentro do qual os discursos se depositam em sua fecundidade ilimitada, disponíveis aos olhares de espectadores que alcançam alguma porção discursiva a partir da qual expande sua compreensão e interpretação.
   Mas, que tal uma nova forma. Eis que do permanente congresso do movimento aldravista de artes, do qual participam ativamente Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, eu e J. S. Ferreira, surgiu uma nova forma de poesia: a aldravia, nome sugerido por Andreia Donadon Leal a uma forma elaborada por Gabriel Bicalho, com base na concepção de encontro com os sentidos na possibilidade real de se ter o máximo de poesia no mínimo de palavras.
   Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”, como a trova, o haicai, o soneto.
   Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.
Esta edição do Jornal Aldrava Cultural apresenta ao público a aldravia:

salto
de
cova
nascimento
do
artista

Andreia Donadon Leal

não
fazer
poesia
de
alma
vazia

Gabriel Bicalho

minhas
porções
diárias
metonímias
de
mim

J. B. Donadon-Leal

sigo
cigano
em
busca
da
poesia

J S Ferreira

   O movimento aldravista de arte chega maduro aos seus dez anos de existência, pronto para apresentar nova forma poética ao conteúdo metonímico já experimentado nas formas canônicas de versejar. Poesia tem que ter poeticidade na simplicidade, conteúdo na síntese e porta aberta às interpretações.
  Poesia é germinação, por isso não precisa pretender-se à completude em longas narrativas, pois

curta
poesia
do
verbo
pólen
via
Texto publicado no Jornal Aldrava Cultural nº 88, de dezembro de 2010

 

 

 

 

Federação das Academias de Letras e Cultura de Minas Gerais publica aldravias em seu Blog

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