Jornal Aldrava Cultural
Aldravismo

O que é aldravismo

J. B. Donadon-Leal

Depois de seis anos de produção literária e de artes plásticas de tendência aldravista, é natural que nos questionem a respeito do conceito de aldravismo.
Aldravismo vem de aldrava, termo que designa o utensílio com o qual se bate nas portas para que estas sejam abertas. Assim o aldravismo pode ser caracterizado pela arte que chama atenção, que insiste, que abre portas para as interpretações.
A história aldravista começa no ano de 2000, com o lançamento do Jornal Aldrava Cultural, que delineava como objetivo a produção livre da arte, sem o ranço da crítica acadêmica elitista e preconceituosa. A primeira providência foi a de buscar a superação do critério de seleção dos textos para publicação pautados no parâmetro qualitativo: bom / ruim. No lugar disso, o aldravismo concentrou-se em definir qualidade como algo derivado da consciência da proposta artística e de seu direcionamento a um público definido. Assim, o poema-pele do adolescente, confessional e apaixonado é poema de qualidade, uma vez que cumpre com seu propósito de sedução. O fim social da obra de arte, ou o seu discurso predominante, seja ele de convencimento pela sedução, pela fria persuasão ou pela manipulação, justifica a empreita de produzir arte. Esse caminho inicial de conceituação do aldravismo é o da busca incondicional do exercício da liberdade, e não poderia ser de outra forma, já que ele nasce no berço da liberdade – Mariana.
Do consenso de que a arte deve ser, antes de tudo, expressão de liberdade, a comissão editorial do Jornal Aldrava Cultural passou a ter como critério de escolha de textos para publicação aqueles que rompem com barreiras formais de produção, especialmente aqueles que ousam criar conceitos novos. Essa perspectiva abriu caminho para a percepção do elemento mais importante da produção artística – o sujeito de sua produção. Assim, o aldravismo acordou que produção não é via de mão única, não é imposição do sujeito “autor”. A produção constitui em algo de mão dupla: de um lado o autor da obra de arte e de outro o autor da leitura dessa obra. A obra exposta através da publicação passa a ser um produto disponível, mas morto. É somente no ato de leitura que ela recupera a vida, não na proposta do autor, não na intenção do autor, mas na visão do leitor. O leitor se apropria de todas as prerrogativas de construtor de sentido. Nesse ponto, encontra-se o cerne da proposta aldravista: o leitor não sendo capaz de recuperar o sentido integral da consciência do autor, deverá buscar apenas o sentido possível, aquele autorizado pelas condições de produção da leitura. O sentido buscado por um adolescente apaixonado será recortado pela paixão; o de um estudante de literatura será direcionado para a tarefa escolar; o de um trabalhador cansado, para o relaxamento; o de um sujeito descrente com a política, para a crítica e o desabafo. Esses tons diferenciais de comportamento de leitor são indicadores de metonímias possíveis e inesgotáveis, daí a conceituação do aldravismo como a de arte metonímica – autor e leitor percebem porções daquilo que é possível. O sujeito da produção da arte metonímica é criativo quanto mais inova no quesito: o que é que somente eu vi. O leitor metonímico é aquele que busca algo que só ele viu. A liberdade e a metonímia tornam-se os pilares da arte aldravista.

A arte aldravista é expressão da liberdade. O artista não compõe sua obra, determinando a sua interpretação; sabe que o leitor também é livre para buscar sentidos, a partir da sua história de vida. Arte aldravista é metonímica, pois não tem a pretensão de mostrar uma totalidade; contenta-se em apresentar um indício, uma metonímia. A obra aldravista não é presa a uma forma; molda-se à forma que melhor seja expressão de um indício de conteúdo. A arte aldravista está autorizada a ser experimentação de formas compostas de qualquer substância – som, imagens, letras, sinais, figuras, matérias sólidas, vazios.