Opinião
As
pessoas passam, a arte e as letras sobrevivem!
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Prezada Governadora do InBrasCi em Minas Gerais, na histórica
cidade de Mariana, a Primaz de Minas, Andréia Donadon Leal:
Muito grata pelos repasses e andamento da questão. Envio todas
para Flávia Vivacqua, artista plástica, que coordena o
Grupo "Coro Coletivo", na Internet, razão pela qual
a Leci pensou ser "Coral musical", presumo. O "Coro Coletivo”
reúne artistas e poetas de vários segmentos - conforme
várias vezes, envio as ações criativas dos membros
do grupo, para você, posto em meu blog, etc. Essas ações,
performances, apresentações, mostras, lançamentos,
etc, podem ser nacionais ou internacionais que merecem, da mesma forma,
nosso olhar.
Já é tempo do Brasil ser mais conhecido lá fora,
no campo artístico-literário, mas não apenas pela
divulgação precária da mídia - que privilegia
geralmente quem já é famoso (quantas vezes, após
a fama no Exterior) Fico, Andréia, gratificada, quando sei que
seus quadros, assinados como "Déia Leal", já
lograram classificação importante em certames internacionais,
qual o de Granada, na Espanha, ou na Itália, quando você
representou a mulher artista brasileira, participaram de mostras itinerantes
e que você recebe medalhas, congratulações, convites,
por representar essencialmente, o movimento Aldravista, que privilegia
a Metonímia mais que a Metáfora, esta comumente aplicada
à Literatura e às Artes. Mas, pesa-me que a mídia
e os órgãos Governamentais não invistam em seu
trabalho. Não em ponderarem mais o Aldravismo, mas em o legitimarem
como Movimento real, consistente e atual no Brasil. Quando você
não conseguiu passagens para ir à Espanha, convidada e
premiada, fiquei realmente perplexa, mas o mesmo já me ocorrera
quando fui Prêmio Ex-Aeqüo no Algarve, em Portugal, por primeiro
lugar de Conto livre. Entendo, Andréia, que o MINC ampliou consideravelmente
as possibilidades de Intercâmbio Cultural, entretanto, é
preciso uma análise mais acurada das pessoas que se candidatam
aos benefícios. Todos merecem, mas cada caso é único.
Na questão dos prazos, por exemplo, freqüentemente usados
como a desculpa oficial para a não concessão de passagens,
deveria, cada solicitação, em particular, passar por um
crivo, pois "se" o artista ou o literato, o poeta, representarão
seu País, e o resultado ou o convite chegam aqui já vencidos
os dias hábeis para a concessão, outros meios hão
de haver. Toda regra tem exceções. Em que pese meu amor
pelos esportes, o que mais vemos são jogadores irem receber seus
títulos... Políticos viajarem... Na questão editorial,
quando nos oferecem alguma possibilidade, acenam com algum concurso/premiação,
ocorrem as dúvidas tais e quais do último episódio
da FUNARTE. Como divulgadoras voluntárias de Cultura, bem sabíamos
das dezenas de concorrentes. E o resultado, ao que foi divulgado, saiu
em três dias. Quem, em sã consciência, avaliaria
tantas propostas? Cartas marcadas? Sabemos também que vários
escolhidos são pessoas do Bem, que concorreram normalmente. O
que acontece? Um bingo? Uma loteria para alguns, e o privilégio
de um artista em detrimento dos demais? É dificílimo (por
se tratar de Propriedade Imaterial, ou de conceitos abstratos e ainda,
de propostas sobre algo des/conhecido, muitas vezes) sabemos, escolher.
Um júri sempre se vê às voltas com o universo imensurável
da criatividade. Então, justamente por isso, a abertura dessas
avaliações, precisa de um tempo considerável. Seis
meses, um ano para visitar, investigar, avaliar, em especial quando
há envolvimento social e educativo dos beneficiários,
de uma comunidade. Um dos trabalhos mais interessantes que já
vi, foi em Belém do Pará, coordenada pela Dra em Hebiatria,
Maria da Conceição de Oliveira Costa. Conseguiu verba
da Fundação Mac Arthur e tirou da rua as prostitutas mirins,
já mães - meninas, que aprenderem a "embonitecer"
bonecas velhas e vendê-las e assim, tendo dinheiro para comprar
leite para os filhos, não precisavam se prostituir mais. Sim,
aqui o parênteses refere-se a artesanato. Mas em sua confecção,
muitos artistas acabam por se revelar. E apenas em subdesenvolvimento,
"Saúde é sinônimo de doença" (cuidar
da saúde + cuidar de doença!). Num sentido lato, oferecer
bem estar, cultura e lazer ao povo, é também oferecer
SAÚDE.
Há muitos artistas envolvidos em trabalhos assim. Ou seja, vejo
duas vertentes: uma, a das Artes de per si, outra a sua significância
ampla, da Poiesis, no caso, também em prol dos menos
validos, tanto quanto dos artistas. E incomoda-me, Andréia, que
a verba tenha de vir de outros países (conforme vi em vários
outros Estados), quando conhecemos as falcatruas, o desperdício
dos donos dos poderes, os crimes de colarinhos brancos - e de todas
as cores - as verbas mal direcionadas, os excessos de políticos
que ajudamos a eleger. Por isso, nosso País engatinha e arrasta-se,
movido pelo plano de seus cidadãos do Bem - os quais, felizmente,
em especial o grupo multidericionado sagrada dos Poetas e dos Artistas,
tem uma vontade poderosa e imaculada. Desculpe o desabafo, mas ele precisa
ser escrito, antes que eu escreva um Elogio à Desesperança.
E apenas para aplaudir seu empenho, a partir de um simples pedido, para
que acenasse possibilidade ao Coral de Viena, à boa vontade da
Flavia Vivacqua em abrir espaço no Coro Coletivo para, pelo menos,
tentarmos um espaço para esses cantores. No entanto, assim quais
eles, há milhares de brasileiros bafejados pelos deuses da inspiração,
à espera de serem reconhecidos; de uma oportunidade de verba.
Quando deveriam estar sendo reverenciados por serem os emissários
do Belo. Quantas obras se acumulam em quartos e galpões pequenos,
mal ventilados, escuros, à espera de serem mostradas, compradas?
Você, enquanto pintora, sabe quanto custa o acrílico, o
óleo, e o que dizer dos muitos pobres que não podem comprá-la?
Já vi pintores usando borra de café, pétalas de
flores, urucum, para obter o milagre da cor e das tonalidades. Mas,
não como alternativa; por necessidade. Se esse status quo
poderá mudar? Sim, sim e sim. Se não cochilarmos, se gritarmos
e cantarmos juntos, nossas necessidades e, sobretudo, se "pagarmos
o preço da terna vigilância". Sem liberdade, para
expandir-se - e aqui somente me ocorre a velha e gasta imagem - o livre
criador de arte e beleza é um pássaro de largas asas,
que, além de podadas, ainda estão em gaiola, sem poder
voar... Unamo-nos e continuemos a luta pela Esperança, pela Paz
e pelos Direitos. Penso em uma "carteira do artista", desde
que trabalhei no ex-INAMPS e via que o "segurado" podia ir
à farmácia buscar remédios - o que o SUS hoje faz
bem. Por que não terem os artistas que, comprovadamente, precisassem,
a carteirinha de artista, para poderem ir a um almoxarifado buscar o
material, para realizar seu trabalho sem preço?!
Desculpe-me se pareço inflamada. Estou. E espero que me compreenda.
Grande e cordial abraço e meus cumprimentos a você, Andréia
Donadon (Déia Leal) e a você, Flávia Vivacqua!
As pessoas passam, a arte e as letras sobrevivem!
Clevane Pessoa de Araújo
Lopes
Diretora Regional do InBrasCI em Belo Horizonte, Minas gerais.
Psicóloga
Poeta Honoris Causa pelo Clube Brasileiro de Língua Portuguesa,
Desenhista, Brasileira.