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Jornal
Aldrava Cultural |
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Artigos
- El espetáculo de la vida |
Cultura
e Educação
Publicado
no Jornal Aldrava Cultural, Nº 64, pág. 03
J.
B. Donadon-Leal
Em
muitos casos a cultura é vista como algo dado ao entretenimento.
Bondade minha dizer que isso se dá em muitos casos – isso
parece ser a regra nos poderes públicos ligados à cultura,
que valorizam as festas e o artesanato. As primeiras destinam-se à
alegria embriagadora e compensadora das agruras da vida promovidas pela
ineficácia desses próprios poderes que legaram ao povo brasileiro
a pobreza. O segundo, arte em série, ornamental e comerciável,
serve para a composição das vitrines dos chamarizes turísticos,
numa espécie de atividade alternativa, subjugada aos favores públicos.
O calendário de festas ocupa mais espaço no programa anual
dos poderes públicos do que o da promoção da arte
como atividade educativa.
Na contramão disso, aparece a proposta aldravista de fazer e divulgar
arte. Sob as vozes inconfidentes ou conjuradas da liberdade, o aldravismo
vem mais uma vez mostrar que é possível fazer arte sem as
algemas dos poderes e sem o estigma do puro entretenimento ou do mero
produto decorativo. Falo da Exposição Aldravista de Arte
– Mostra internacional que trouxe a Mariana 16 telas premiadas em
um dos concursos de artes plásticas mais conceituados da Europa,
cujo propósito é não apenas o de premiar a arte inovadora,
o que já seria nobre, mas também o de divulgá-la
ao redor do mundo. Trata-se do Concurso Internacional de Artes Plásticas
Compositor Antonio Gualda, da Asociación Valentín Ruiz Aznar,
de Granada na Espanha. Mariana foi incluída nesse roteiro mundial,
fato que valeu um voucher promocional de divulgação de Mariana
em vários sites europeus e brasileiros, inclusive o oficial da
Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Espaços públicos
de Mariana serviram de cenário para essa exposição
– Praça Dom Benevides, Praça Gomes Freire e Praça
Minas Gerais; Igreja de São Pedro e Seminário São
José, além da Biblioteca Pública Benjamim Lemos e
um tour na carruagem turística que circula nesta tricentenária
cidade. A exposição teve estada entre 30 de maio e 13 de
junho no Museu Casa Alphonsus de Guimaraens que já se tornou ponto
de referência para a arte nesta Região Inconfidente.
Exposição
na Biblioteca Pública Benjamim Lemos
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Exposição
na Praça Gomes Freire
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O aldravismo, porém, não se limita a divulgar a arte inovadora
estrangeira. Obras de arte com características aldravistas (isto
é, que não são desenhos, que não são
cópias, que não são figurações completas
de algo, mas insinuações metonímicas, com conceitos
predominando sobre técnicas ou estéticas) foram expostas
na mesma galeria, ao lado das obras premiadas na Europa. Artistas como
Elias Layon, Cacá Drummond, Camaleão, Déia Leal,
Flávio Porto, Camilo e Dom Leal estiveram representados em suas
versões aldravistas da arte nacional. Essa arte (anticartão
postal e antifotográfica) exposta é essencialmente criação
e provocação sinestésica, dos sentidos e das emoções,
numa busca do espectador participativo e criador de conceitos.
Não se podia ficar numa única via, a das artes plásticas.
O aldravismo é sinestesia pura. Daí a heterogeneidade em
seus objetos semióticos – artes plásticas, música
e literatura. Dois recitais foram apresentados. Em 02 de junho, Arley
Camillo apresentou-se de forma magnífica em seu piano eletrônico,
com repertório de jazz e MPB, para encantamento do público
que lotava o Museu. Em 09 de junho o Duo Violar (Marcelo Z e André
Scarabelot) proporcionou um momento mágico com um concerto que
incluiu maravilhosas composições dos violonistas.
Duas escritoras estiveram presentes para lançamento de livro e
conversa com os presentes. Maria Luíza Falcão veio apresentar
seu livro Afonso – a trajetória de vida de um brasileiro
das Minas Gerais, romance, e Clevane Pessoa o seu livro de contos –
Mulheres de sal, água e afins. Ambas demonstraram que a literatura
não é só entretenimento, é também face
da educação. A arte de dizer marca o objeto literário.
Esta não precisa pedir licença; precisa apenas do desejo
de dizer.
A arte que circula pelas ruas pedregosas de Mariana, parida das mentes
fecundas daqui, não pretende ser apenas decorativa. Mostra disso
é o movimento aldravista que se consolida como tendência.
Escolares se dedicam à leitura dessa arte metonímica. A
poesia aldravista ecoou nas audições de abertura e encerramento
da Exposição Aldravista de Arte – Mostra Internacional.
O sarau organizado por professores da escola de Ensino Fundamental e Médio
Dom Viçoso, programado para ser apenas um exercício de ensino
de Língua Portuguesa através da poesia transformou-se em
show de declamação. Conforme projeto desenvolvido nessa
escola, a poesia dos poetas do Jornal Aldrava Cultural faz parte do conjunto
de leituras desencadeadoras do processo de alfabetização
e de letramento. O contato direto com os poetas proporciona aos alunos
a quebra do mito de que o poeta, o escritor é um ser distante,
do passado. Essa proximidade já deu resultados. Alunos do ciclo
inicial de alfabetização da Escola Estadual Dom Benevides
produziram textos suficientes para uma edição em livro.
Os alunos dessa nova escola caminham para resultados semelhantes. Nos
dois casos, há motivos de comemoração. O prazer da
leitura foi conquistado.Justo com este, o prazer da interpretação,
do reconto, da criação.
Toda essa dedicação de quase sete anos produzindo e divulgando
arte em Mariana começa a apresentar resultados. O ideal aldravista
de abrir portas já é uma realidade. Poetas, artistas plásticos
e ensaístas já se destacam com suas produções
diferenciadas. Talvez seja por isso que um sarau aldravista consiga atrair
delegações de outras cidades, que se deslocam para participarem
dessas atividades culturais resultantes de projetos educativos. E o caso
da delegação de Santa Bárbara, 45 professores e alunos,
entre acadêmicos de letras e alunos do ensino fundamental e médio;
da delegação de São Gonçalo do rio Abaixo,
na qual se fez presente o Secretário Municipal de Cultura, a diretora
da Casa de Cultura e professores; a delegação de confrades
da Academia de Letras de Ponte Nova, professores de Ouro Preto e Mariana,
jornalistas e escritores de Belo Horizonte e comunidade de Mariana.
Para complementação das atividades educacionais da proposta
aldravista, uma aula de semiótica do Curso de Letras da UFOP foi
realizada na exposição, dia 12 de junho. Os alunos de Lingüística
puderam experimentar uma aula prática de leitura de objetos semióticos
com base nos processos de formações discursivas, de contextualização,
de significação e de formação de sentidos,
a partir de um conceito derivado de uma dada metonímia. Alunos
da quarta série do ensino fundamental da Escola Estadual Dom Benevides
foram ao museu no dia 13, às 13 horas, com o objetivo de elaborarem
exercícios sinestésicos e transposições de
obras para o texto poético ou descritivo, a partir das sensações
diante das pinturas artísticas.
A proposta artística do projeto aldravista é mais abrangente
do que uma produção voltada para a decoração
ou para o comércio. A arte aldravista é conceitual; portanto,
formativa, que serve para aplicações educacionais em todos
os níveis da escolarização formal. As fronteiras
da cultura devem ser alargadas para além das festas e do artesanato
comercial. A cultura é patrimônio não para ser preservado
como se preserva um prédio histórico. A cultura é
modalizada na arte da superação e da modificação
– transcende aos limites da cópia ou da imitação.
Ela é construção de uma obra cuja fundação
sustenta uma edificação sem fim. Quanto mais ousada, mais
adequada.
Artista Déia Leal e alunas da E. Dom Viçoso
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JS
Ferreira, Maria Luíza Falcão e J. B. Donadon-Leal
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