Martírio
- acrílica
e corda sobre tela
Acerca
de "martírio" - tela de Déia Leal
Augelani Maria Parada Franco
Doutora em Ciências Ambientais pela Unitau, Taubaté,
SP
Pós-graduanda em Artes Visuais - Cultura & Criação
Conhecer
é traduzir algo que não se conhece em termos do que já
se conhece.
Nietzsche
Primeiramente, parabéns! Sua obra é
muito bonita e peculiar e os lilases, violetas e azuis me fizeram ‘viajar’
pelos jardins de Monet, pelas ‘Ninpheas Azuis’ que tive
o prazer de admirar de pertinho no Museu D’Orsay onde, confesso
que senti até o perfume do local retratado.
Este sentimento é pura Semiótica: signos
que geram signos que geram signos... O signo / imagem Ninpheas Azuis
gerou meu pensamento (signo).
Segundo Ferrara (1999) imagem é uma linguagem
não-verbal, uma representação - de algo - e um
signo.
A palavra imagem vem do latim imago, que quer dizer
semelhança, representação, retrato. Com essa etimologia,
“imagem, tomada como representação, pode se referir
ao que se vê, ouve-se ou se imagina (PIETROFORTE,2004).
Peirce (1977) nos ensina que Semiótica, da raiz grega semeion
que quer dizer signo é a ciência geral dos signos, entendendo-se
signos como linguagens, sendo pois a Semiótica a ciência
geral de todas as linguagens, verbais e não-verbais. A Semiótica
é, portanto, uma filosofia científica da linguagem.
Ainda podemos acrescentar, de acordo com Pignatari
(1985) que convém fazer a distinção entre língua
e linguagem, sendo, portanto, as línguas, manifestações
particulares da linguagem e a Lingüística um ramo da Semiótica
que é a ciência cujos princípios gerais comandam
toda e qualquer manifestação da linguagem.
A pintura é uma imagem que representa algo
para alguém, por isso é um signo (não-verbal) e
também um ícone (se assemelha àquilo que significa)
sendo também um índice porque, tal qual uma imagem fotográfica
(Shaeffer, 1996) é necessária uma ‘bagagem’
do receptor (interpretante) para dialogar com os inúmeros significados
despertados pela observação de uma imagem (fotografia,
pintura...).
Também reforça Santaella (1983) que
uma imagem é um hipoícone, ou seja,é um signo que
representa seus objetos por semelhança e todas as formas de desenhos
e pinturas figurativas são imagens.
Coelho Netto (1983) exemplifica muito bem o, digamos, objetivo da arte,
citando o filme Chien andalou, de Luiz Buñuel, que começa
com o olho de uma mulher, em close-up, cortado ao meio por uma navalha
e questiona se seria simples agressão ao espectador (“Que
ele saia da sala”, disse Buñuel) ou – através
da destruição de um olho viciado, de uma visão
anterior prisioneira de si mesma – proposição de
um novo modo de ver a “realidade”?
A meu ver, ambas as coisas: agredir para acordar...
E a arte se impõe para ser ‘lida’
pelos seus interpretantes, cada qual com seu ‘repertório’
cultural. O sentido de algo tem relação com seu significado,
mas existem diferentes significados para um mesmo sentido.
Uma criança, ao observar sua obra (de Andréia
Leal) pode se encantar com as cores frias, pode achar que é um
pedaço de corda velha no fundo do mar que caiu de algum navio
pirata...
A explicação da obra pela autora (Andréia
Leal) amplia nossa percepção (interpretantes adultos)
e aponta para a crítica pretendida. Mas, mesmo assim, eu continuo
vendo ninpheas, águas claras, angústia, mas também
paz. Provoca em mim uma antítese mental e se fosse dar um título
a esta obra seria: Última Cena, ou Última Chance, porque
eu enxergo uma possibilidade de vida atrás destas amarras, enxergo
um rio cristalino (ou seria o mar?), enxergo flores lilases... Pignatari
(1985) diz que “o enriquecimento do interpretante gera uma capacidade
de metalinguagem, ou seja, uma linguagem crítica em relação
à situação e à linguagem em uso.”
Vejo quase o caos, mas existe uma bonança por
detrás das amarras do tempo, buscando renascer. Existe o sim
e o não, à espera da escolha.
Ainda de acordo com Pignatari (1985), o signo da arte
seria um quase-signo, algo que já não é o caos
mas ainda não é a ordem.
E mais uma vez Pignatari (1981): (...) “a invenção,
a originalidade (informação) é vital para a ordem
do sistema que buscará, por sua vez, sempre, novos estados de
equilíbrio através do processo conhecido como homeostase.”
Portanto, mesmo na esplendorosa Guernica de Pablo
Picasso, exemplo de profusão e fragmentação existe
a ordem no caos. A desordem / caos tem sua ordem peculiar e o artista
a denuncia tal como ele a vê, na verdade, como ela teria sido.
Alguém que desconheça o contexto histórico, de
qualquer maneira enxergará a guerra, a destruição
e a angústia naqueles elementos fragmentados e sentirá
o ‘peso’ daquela informação, isto é,
a sua mensagem. Aí reside a essência da obra de arte como
denúncia.Aí reside a necessidade da Arte e do olhar do
artista.
Referências:
COELHO
NETO, J. Teixeira. Semiótica, Informação e Comunicação.
São Paulo,Perspectiva, 1980.
FERRARA, Lucrecia D´Aléssio.Percepção Ambiental:
a experiência brasileira/Vicente Del Rio e Lívia de Oliveira,
Orgs. As cidades Ilegíveis - percepção ambiental
e Cidadania.São Paulo, Studio Nobel,1999,2ª edição.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Trad. José Teixeira
Coelho. São Paulo, Perspectiva, 1977. PIETROFORTE, Antonio Vicente
Seraphim. Uma imagem da música: análise semiótica
de uma capa de disco. In: Cadernos de Semiótica Aplicada, São
Paulo, V.2.n. 2, p.10-30, 2004.
PIGNATARI, Décio. Semiótica da Arte e da Arquitetura.
São Paulo,Editora Cultrix, 1981.
PIGNATARI, Décio, Informação, Linguagem, Comunicação.
São Paulo,Editora Cultrix, 1985.
SANTAELLA, Lucia.O que é Semiótica. São Paulo,Brasiliense,
1984, 2ª edição.
SHAEFFER, J.M., BOTTMANN,E. A imagem precária sobre o dispositivo
fotográfico. São Paul,: Papirus, 1996.
Déia
Leal, admiro seu trabalho de educadora e fico muito impressionada com
a beleza de suas telas. É importante certificar-se de que a mulher
"mineira", em especial, continua as conquistas para o Brasil,
mostrando ao mundo que o nosso país contém preciosidades
desde sempre e é isso que deverá ser mostrado. Que os
anjos estejam a iluminá-la em toda a sua trajetória!
Parabéns, Déia!
Um abraço
Graça Campos, Belo Horizonte, 08 de maio
de 2008
Prezada Andréia, muito obrigada por ter me brindado com o envio
deste seu belo trabalho. Parabéns pela criatividade e ousadia.
Fiquei muito sensibilizada com a tela 18 (Portal da partida) que me
trouxe um "quê" de nostalgia e de delicadeza antes mesmo
de eu ver o título. Não pude deixar de pensar na despedida
nossa de cada dia que acaba, de cada pessoa que se vai de nossas vidas
e até de nossa própria juventude em virtude da nossa maturidade
e experiências de vida. Mais uma vez obrigada e Parabéns.
Ana Alcântara, Belo Horizonte, 13 de abril
de 2008.
Andréia,
salve !!!
Belíssimos o poema e a pintura "portal de afrodite".Quadro
e poema se fundem na elegância das cores falantes com a elegância
do colorido das palavras.perspicácia, delicadeza, feminilidade
e gestualidade estão sempre presentes em suas manifestações
artísticas; quadro e poema são, enfim, uma entidade indissolúvel,
instituída e regida pelo equilíbrio harmônico das
muitas coisas que você vê, sente e diz.
Precisamos de artistas assim da sua linhagem, para mais fôlego
nas áridas discussões do cotidiano da vida. Parabéns
com meu entusiasmo,
Arley Camillo, Mariana, 04 de março de 2008
Querida Déia, que homenagem maravilhosa! Só consigo
agradecer e dizer-te que és uma pessoa tão especial e
sensível que só poderia ser uma estrela/artista de primeira
grandeza. Déia, que dia 08 de março represente para ti
um dia de vitórias e conquistas, porque ser mulher/artista/esposa/mãe/aluna/professora
é uma missão, jamais uma simples escolha apesar de acreditarmos
nisto.
Afrodite,
Belo Horizonte, 04 de março de 2008
Professora do curso de Pós-graduação Artes Visuais
- Cultura & Criação - SENAC
Agradeço
a atenção do convite para a Exposição emaranhaminas
e te parabenizo pela qualidade de seu trabalho. É difícil
encontrar profissionais que se expressem tão bem nas artes e
nas letras. Acho que esta possa ser sua maior metonímia!
A obra do convite com Tiradentes tipificando Cristo, é verdadeiramente
interesante, pois a liberdade está instrisicamente ligada à
salvação. Sua produção instiga e promove
reflexões que denotam representar muito bem a ideologia Aldravista.
Provavelmente não estarei em Viçosa no mês de abril,
mas certamente divulgarei seu trabalho entre os amigos.
Um grande abraço,
Roberta Lopes, Coordenadora do Curso de Pós-Graduação
em Artes Visuais - Cultura & Criação - SENAC
emaranhaminas
( especial à déia leal )
gabriel
bicalho
1
ó
liberdade
:
ateias
teus demônios nas
veias
!
ó
igualdade
:
escorre
sangue do mártir
escorre
sangue de cristo
!
ó
fraternidade
:
a mão
que ampara
o irmão
desampara
cristo
ou
tiradentes
?
ó
martírio
dos puros
!
ó delírio
de cores
!
2
a
corda
que acorda
a forca
a
forca
que acorda
a cruz
acordo
entre
sombra
e
luz
!
3
minas
que tramas
as minas
minas
que minas
as tramas
emaranha-te
minas
nas tramas
que tramaste
!
mariana-mg
- 25 / 02 / 2008
6
comentários postados no blog: http://telescopio.blog.terra.com.br/tela_de_deia_leal#comments
Em 04.01.08, às 00:07:17, Valdeck Almeida
de Jesus disse:
A tela merece ser exposta para mais gente em lugares públicos.
Parabéns
a artista por expor aqui na internet. Infelizmente nem todo munto tem
acesso a computador. Por isso deveria ser enviada para galerias de arte
e exposição na rua.
Abraços e sucesso
Em 03.01.08, às 08:38:47, Sara Pedro disse:
Este trabalho merece mais divulgação. Arte Aldravista
é uma escola literária e artística? Parabéns
pelo talentoso e instigante trabalho nas artes plásticas. O Portal
Velho tem luz, cores e uma mistura não usual (comum) de técnicas.
Intrigante e sensacional.
Em 03.01.08, às 00:41:18, Roberto de Castro Del'Secchi
disse:
Déia Leal, nos coloca diante a sua linda pintura, fascinante
e transcendental viagem empreendida por nós a um passado inesquecível
e distante.
Meus parabéns, Roberto C. Del'Secchi, organizador da Antologia
literária Internacional Del'Secchi, no seu volume 18.
Em 02.01.08, às 23:10:59, Débora
Fonseca disse:
Técnica grattage? Miró utilizou esta técnica pictórica
em Mulheres e pássaros ao luar - 1949.
Parabéns, garota. Gostei muito do Portal Velho. Pura arte.
Em 02.01.08, às 23:08:21, Edson Silva Perdigão
disse:
Este trabalho certamente é ORIGINAL. Nem cópia! Imaginação.
Parabéns a artista.
Em 02.01.08, às 19:18:48, Patrícia Petri disse:
Parabéns pelo magnífico portal Velho. Simplesmente MARAVILHOSA
tela e criatividade de Déia Leal. Artista emergente de Minas
Gerais.
Déia
Leal- Artista Gnóstica e Autêntica.
Édison
Pereira de Almeida
Academia
Pan-Americana de Letras
Chanceler do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais
Ilha da Madeira - Portugal
www.ermitaodapicinguaba.com
www.unipaz.com.br
Ao
ver, rever, sentir e intuir a obra de Déia Leal, adentramos,
PORTAIS, que ela com sua aura eterna vê, vislumbra, sente e entrega
aos que só mesmo a terceira dimensão conseguem apalpar,
sentir e ver.
Quem assim adentra PORTAIS, e assim consegue ir e vir na Arte do viver,
realmente vislumbra um mundo que tanto lá como cá, tem
a formatação do que de mais belo e eterno existe no ETÉREO,
e que infelizmente no plano terra os perseguidores de talentos desde
manjedoura ao calvário, nem sequer se dão conta que o
talento já perpetuou-se nas artes e por isto, já transmutou
os valores mundanos dos que se imaginam poderosos, meros pó de
traque perante toda a grandeza do universo.
E a Artista, jovem, irreverente mas consciente, passa a mensagem aos
mais jovens, que nem precisam de Mestres artificiais, ou formados seja
onde for para os orientar a verem além da visão terrena.
O que consideramos salutar na OBRA DE DÉIA LEAL é justamente
a sua maneira singela de mostrar aos senhores do mundo terreno que fazer
arte é se abstrair da vida dita social, humana e terrena e se
entregar ao outro lado do ser que habita o seu ser, e claro, só
mesmo esta entrega é que permite em MARIANA um talento de tamanha
grandeza e luz, vir às ruas e em vez de esperar cavaletes de
pintura, salões de exposição ou MUSEUS arquitetados
pela mão dos impuros, e colocar a ARTE NA RAÇA NA PRAÇA
E DE GRAÇA, para que o mais velho cidadão da Velha e Eterna
Mariana possa sair dos seus tecidos, agulhas e botões, atravessar
a rua de pedras carregadas em ombros escravos, polidas pelos pés
insanos dos que nem sequer se deram conta do KARMA que criaram no passado,
e assim o NOBRE ALFAIATE, mestre dos mestres, entregue a DÉIA
LEAL, o LEGADO das gerações do SEMPRE, sem muito falar,
apenas Agindo e aplaudindo o que se expõe de peito aberto e de
alma pura, sem delongas e sem milongas, apenas porque fazer arte é
mesmo sentir a pureza do espírito agir enquanto as mãos
vagam no vazio da vida.
E, se a Geração do passado aplaude a do presente, sem
dúvidas a missão está sendo cumprida e bem cumprida,
por Déia Leal, criadora de Portais Eternos e ternos portais,
onde os senhores de terno, gravata e colete só entram e saem,
se usarem, claro, roupas tecidas pelo Velho e Eterno Alfaiate de Mariana
sempre na vida há códigos de honra e honrá-los
é justamente seguir os trâmites NATURAIS DO VIVER e não
manipular o sonho de nossas crianças de sempre.
Cena linda dos que vestiram os ternos, tecidos na Eternidade do ALFAIATE
de Mariana, vindo ver na praça, junto com ele as OBRAS DE ARTE
EXPOSTAS e repostas sim, porque a função do Artista é
trazer à terra o que se encontra no Éter para que possam
as nossas crianças dos oito aos oitenta contemplarem a vida,
sua essência ea frequência de onda eterna e terna frequência
que frequentamos no cá e lá.
E lá, no Alto da Torre da Igreja, Templo erigido por mãos
calejadas, sangradas e escravas, uma pomba branca sorria, pois mais
uma etapa da PURIFICAÇÃO SE CUMPRIU e voou, voou, voou,
para fazer ninho em outras plagas que não serão jamais
esquecidas pois sempre será a pomba da paz, a gritar em seu silencioso
vôo, TERRA A VISTA!!!!
E lá, no Quilombo do Camburí, tombado e devolvido aos
descendentes dos escravos que traziam o ouro DE VILA RICA para ser embarcado
em Paraty, o Velho Genésio recebeu de braços abertos a
pomba da paz eterna.
________________________________________________________________________________________________
Poema
à Andréia Leal
Percebe-se
que Andréia
contempla a VIDA com seu olhar de poeta:
áVIDA,impáVIDA,comoVIDA.
Registra com cores e vocábulos
nuances e retábulos,
toalhas de banquete,
retalhos,
opúsculos, apocalípse,
calípso e samba, ballet,
o plástico
e o indevassável,
a forma e a norma,
mas sobretudo, a liberdade
do ser alado...
Clevane
Pessoa de Araújo Lopes
_______________________________________________________________________________________________________
Stripper
- óleo sobre tela
(Clique na imagem para ver poema Stripper de Marilza Castro em Slides
de Masé Soares)
(Arquivo somente para leitura)
STRIPPER
Drª
Marilza Albuquerque de Castro
PRESIDENTE
DO IBRACI - Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais
Rodamoínho
da vida
De quem vive como stripper...
Vida triste, escura, negra
de uma alma colorida...
De quem sonhou ser estrela
de uma super-grandeza
a freqüentar salas “vip”
e ser chamada hiper,
em sua suprema beleza!...
Na luta do dia-a-dia,
nessa refrega,
vencendo as peças
que o destino nos prega...
Olhando-a na tela,
vejo-a no espelho
e assim ao vê-la,
lembro de um hippie
que conheci...
Que aura!... Que Luz!
Lembro o moço Jesus,
Ainda novo, não velho...
Lembro Madalena,
que, dizem, era dessas
mulheres da rua,
com destino da lua...
Discriminada...
Apedrejada...
Revejo a cena...
Digo revejo, porque a vivi...
Vi de perto, senti pena...
E hoje sei quanto havia
dentro dela de Amor...
Dentro daqueles olhos
sem brilho e sem cor...
que só conheceram abrolhos,
nunca a flor...
Ninguém diria
que seria
uma escolhida!
STRIPPER!
A despojar-se da casca,
é como quem abre um zíper
e o interior explora...
É como quem masca
e joga o bagaço fora...
E depois, é como quem ora!
Em silêncio, escondida...
Para só então viver
a sua verdadeira vida!...
______________________________________________________________________________________________
Comentários
sobre a pintura PORTAL DA FUGA de Déia Leal
Sería un atrevimiento, por mi parte,
escribir un comentario sobre una determinada obra artística de
un autor (autora, en este caso) de quien yo no conociese más
trabajos suyos. No es éste el caso.
Conozco y he palpado con mis manos algunas
pinturas de esta joven artista brasileña, Déia Leal, y
puedo asegurar que estamos ante una artista de gran pujanza, que, a
la vez, se expresa, también, a través de la palabra (prosa
y verso), obra escrita que también propicia que (yo) conozca
mejor el pensamiento artístico, casi onírico, de la autora.
"Portal da Fuga" es uno de sus
lienzos más emblemáticos. Forma parte, asimismo, de una
serie que la artista dedica a los "Portales",
y en la que ella misma parece querer expresar un cierto deseo de huída
de la áspera realidad cotidiana.
Esta temática es recurrente en
Déia Leal, nombre artístico de la minera marianense Andreia
Aparecida da Silva.
Los "portales" de Déia,
a veces, son intencionadamente difusos. En otras ocasiones, sin embargo
(como es el caso de "Portal da Fuga"), muestran una firmeza
irreversible: desde el umbral de un enérgico portal, pintado
con destreza y gran decisión, la autora "ve la Luz del Fin
del Mundo".
A pesar de la energía desplegada
en los trazos (magníficamente rematados), Déia ve, con
toda claridad, esa Luz que muchas personas han creído contemplar
cuando se han encontrado (muy cercanamente) a las puertas de la muerte.
Y, precisamente, la perspectiva por degradación
de planos no se ve afectada en esta pintura; bien que, conforme nuestros
ojos avanzan por el pasadizo, éste, y la puerta luminosa del
fondo, quedan, justamente, en los planos en los que les corresponde
estar.
Déia nos presenta, claramente,
su visión (también, onírica) del final de "algo".
Un "algo" que bien puede ser el mundo; o, bien, la vida...
Antonio Gualda Jiménez
Granada, España.
A 28 de marzo de 2007.
_______________________________________________________________________
A
tela, portal da fuga, de Déia Leal,
é uma importante mostra da arte de tendência aldravista.
A arte aldravista privilegia a metonímia e apresenta como tema
um efeito de uma causa ou uma causa de um efeito, um continente de um
conteúdo ou um conteúdo de um continente ou uma parte
de um todo. Na obra em destaque, o tema, o portal da fuga, aponta para
uma saída possível da prisão do interior de uma
mina de ouro, em que a escuridão contrasta com o brilho do metal.
A luz, saída, coincide com o ponto de fuga na perspectiva traçada
pela artista, ao fundo do túnel – um ponto de luz em meio
à escuridão. Mina, metonímia possível de
Minas Gerais, uma parte do todo que motivou a escolha do nome do Estado
da Federação Brasileira. Fuga, metonímia do efeito
da prisão causada pela dependência à mineração,
à posse do ouro que dará passaporte à liberdade.
A escuridão, conteúdo de um continente prisional, revela
a metonímia de causa do desejo da fuga, cuja saída é
única e longínqua. A tensão dialética entre
prisão versus liberdade instaura a temática da tela, num
paradoxo instigante: o portal é minúsculo e não
se dá no convite para a entrada, mas se fecha no ponto de fuga,
diminuto e distante. Esse mesmo contraste é revelado nas manchas
vermelhas, metonímias do conteúdo de um continente opressivo
e de sofrimento. No conjunto, a obra é demonstração
de domínio de técnica de pintura, com pinceladas livres,
desapegada do traço e do desenho ingênuo, para que a idéia
tematizada seja posta em evidência.
J.
B. Donadon-Leal
Doutor em Semiótica, professor na Universidade Federal de Ouro
Preto