|
Jornal Aldrava
Cultural |
|
Especial
Poesia Aldravista |
Ilustrações: Camilo
nada
de mim encanta
Michelle
Bicalho
nada de mim encanta:
quatro paredes:
meu canto branco
nada em mim é verdade:
não há segredos
nem o relógio marca o tempo
nada me assusta:
se é noite escura
minha loucura não se atormenta:
sou lua
nada em mim faz sentido:
engano próprio mundo
DEIXASTE AQUI DELICADO O TEU PERFUME
Luiz
Tyller Pirola
deixaste
aqui
delicado
o teu
perfume
tentei
pegar
como
toco
em ti:
delicadamente
na haste
de uma
flor.
ÉS
OUTRA GALÁXIA
Gabriel
Bicalho
amo
teu jeito livre
de amar
sim
se a paixão não conta
não se conte o amor
enfim
no fundo no fundo
nada te prende
amada
nem uma rosa
nenhuma prosa
nada
se está presente
ausente estás
para lá do mundo
tão nebulosa
e distante
assim
és outra galáxia
no sem-fim
acendendo estrelas
para mim
!
DENTRO
DA TUA CABEÇA
J.S.
Ferreira
dentro da tua cabeça
cabe
uma vida
dentro da tua cabeça
cabe
mundo
submundo
universo
dentro da tua cabeça
só não cabe
este sentimento
profundo
que há
entre o poeta
e
o verso.
HERANÇA
Geraldo
Reis
Depois da noite, do abismo da noite
Ninguém perturbe o silêncio dos óculos
deixados
Como que esquecido de mim,
Sobre a mesa.
Nunca mais verei com aqueles óculos,
minha dama
De segredo feita e paisagem.
Nenhum calor, nas lentes, que a recorde.
No quarto onde mal dormia
Eu vos deixo de herança
Meus olhos cambaios.
ABANDONO
Andreia
Donadon Leal
noite
fria
vaga-lume queimado
madrugada sem ida
becos escuros
manchas despropositadas.
casa fria
sorrateiro mofo
nas paredes descascadas,
teias de aranha
emaranhadas obras de arte
vagos espaços
passos marcados em chão frio
pedaços de um
falta de todos
som gutural do abandono.
POESIA
MATINAL
Lázaro
Francisco da Silva
Abro a janela do dia.
Manhã me diz: sol já vem!
Procuro pela poesia...
- Poesia hoje não tem!
Como não tem? Tinha tanta
na prateleira do meio...
- Comeram toda na janta
e hoje o poeta não veio.
Então, eu vou para a lida.
Você me faz o favor:
liga ao poeta e lhe diga
que traga ao preço que for.
PASSO
EM FALSO
J.
B. Donadon-Leal
passo em falso
lapso de memória
denunciam a idade
avançada
o sol a pino sua
calafrio de febre
e a ducha fria toca a pele quente
refrescando-a do já delírio
no firmamento azul
nuvens de repente
tomam o céu
frêmito de trovão repercute
após o ziguezague luminoso
do relâmpago
somente uma poca de lama
denuncia a chuva breve
num cantinho da rua
o céu azul depõe o sol
e o ocaso
debochado
pinta-se de vermelho
a doença crua
a preceder
o negro da noite
a morte
|