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Jornal Aldrava
Cultural |
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Maria
Cândida Trindade Costa de Seabra |
Maria
Cândida Trindade Costa de Seabra
A
Cerimônia de
posse ocorreu
Dia 15 de novembro, às 18 horas
Cine-Teatro SESI -
Mariana
J.
B. Donadon-Leal, Maria Cândida Trindade Costa de Seabra e Roque
Camêllo
Saudação
à recipiendária
MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA
Cadeira 35 – Academia Marianense de Letras Ciências e Artes
Patrono: Poeta e Latinista Padre Pedro Sarneel
Saudações:
Presidente da Academia Marianense de Letras – Prof. Roque Camêllo
Vice-Presidente – Prof. Emérita da UFOP – Hebe Maria
Rôla Santos
Dr. Jésus Trindade Barreto Filho – representante da família
Trindade Barreto
Confrades Acadêmicos: Decano, mestre Salvador Ferrari,
Poeta do Jornal Aldrava Cultural – J. S. Ferreira
Poeta e Presidente da Associação Aldrava Letras e Artes
– Gabriel Bicalho, Vice-governador do Instituto Brasileiro de Culturas
Internacionais (InBrasCI) neste ato representando a Governadora –
Escritora e Artista Plástica Andréia Donadon Leal
Educadora Marly Moisés,
Presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais – José
Anchieta da Silva
Presidente da Câmara Municipal de Mariana – Vereador Marcelo
Secretário de Cultura de Mariana – Dr. Marcílio Queiroz
Professora Dra. Roseli Santaella Stella
Padre Simões
Trago os cumprimentos do poeta Luiz Tyller Pirolla, que se recuperando
de uma cirurgia não pode aqui comparecer.
Autoridades presentes, Familiares da novel acadêmica
Senhoras e senhores,
A
significação virtual é a capacidade manifestativa
que todo o sinal possui independentemente de qualquer determinação
espácio-temporal, que é a situação. A significação
atualizada, isto é, a designação, - constitui por
outro lado o próprio ato significativo, no qual o sinal realiza
a sua função própria ao manifestar-se concretamente
numa determinada situação entre um sujeito e um objeto –
se se trata de um sinal natural -, ou entre dois sujeitos e um objeto
– se o sinal em questão é um sinal convencional. (José
Herculano de Carvalho – Lingüista Português)
Em
epígrafe uma homenagem à atividade de pesquisadora da palavra
que vence as barreiras do tempo na sua historicidade.
Natural
de Ponte Nova, querida cidade avizinhada, nascida em 26 de maio de 1961,
casada, MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA fez o Magistério
do Primeiro Grau ainda em Ponte Nova no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora,
curso que concluiu em 1978. Em 1983 concluiu o Curso de Comunicação
Visual pela Escola Superior de Artes Plásticas, em Belo Horizonte;
em 1988 concluiu o Curso de Letras pala faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais; em 1994 defendeu a Dissertação
de Mestrado “uma abordagem sincrônica e diacrônica das
construções de tópico em português”,
no Curso de Pós-Graduação em Letras da UFMG; em 2004
defendeu a Tese de Doutorado “A formação e a fixação
da Língua Portuguesa em Minas Gerais: a toponímia na Região
do Carmo.” Maria Cândida fez ainda cursos nas áreas
de cartografia histórica, sociolingüística, mudanças
e variações lingüísticas, história oral,
cultura medieval, paleografia, mitologia grega, sânscrito entre
outros, no Brasil, na Holanda, no Chile e na França. É professora
de Língua Portuguesa na faculdade de Letras d UFMG, na graduação
de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Estudos
Lingüísticos. É pesquisadora produtiva da área
de estudos do léxico, da toponímia, da variação
e mudanças lingüísticas, com apresentações
de resultados de suas pesquisas em inúmeros congressos nos grandes
centros de pesquisa na área de Letras nacionais e internacionais.
MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA desenvolve atualmente pesquisa
na Equipe do Dicionário Histórico do Português do
Brasil (Séc XVI, XVII e XVIII), em vínculo com o Conselho
Nacional de Pesquisa (CNPq) e o Instituto do Milênio do Ministério
de Ciência e Tecnologia. Desenvolve pesquisa no Grupo de Trabalho
“Pelas Trilhas de Minas: as bandeiras e a língua nas Minas
Gerais – Fazer II”, na Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais. Coordena o trabalho de pesquisa e constituição
do Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais: variante regional
do Atlas Toponímico do Brasil.
Talvez MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA seja da linhagem dos
Trindade de Minas Gerais, desde o primeiro professor, no império,
na Paróquia onde hoje se acha Barra Longa, Manuel Ferreira de Trindade,
da mesma facilidade com as palavras e vontade de pesquisa do Cônego
Raymundo Trindade, este que vasculhou os “Velhos Troncos Mineiros”,
vasculhou as “Genealogias Mineiras”; ou do Mestre Jésus
Trindade Barreto, nome gravado na história desta casa de Letras
e Artes, este que deixou saudade em todos nós.
MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA organizou os livros “O
léxico em Estudo” (FALE/UFMG), em 2006, em que os membros
do Grupo Mineiro de Estudos do Léxico e autores convidados apresentam
capítulos-artigos que refletem sobre a dinâmica do léxico
na Língua Portuguesa. Organizou também a Revista Viva Voz,
com o tema Estudo do Léxico, em 2006. Publicou dezenas de artigos
e ensaios científicos em jornais, revistas científicas e
anais de congressos acadêmicos. Participou ainda de programas de
televisão e de entrevistas e matérias jornalísticas
sobre questões relativas aos topônimos, ao léxico,
à mudança e a variação na Língua Portuguesa
e ao ensino da Língua Portuguesa.
Como se vê, MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA tem uma
longa trajetória de reflexão e de produção
em torno da investigação e da explicação de
fenômenos ligados à História da Língua Portuguesa,
especialmente no que se refere à variante lingüística
da região do Carmo de Minas Gerais.
Muitos dos presentes neste momento poderão estar se perguntando:
por que a nomeação de uma cientista da linguagem para a
Academia Marianense de Letras? Já se foi o tempo em que o poeta
era o baluarte das academias; não que a poesia tenha perdido seu
prestígio e seu caráter de bastião dos jogos linguageiros,
mas porque as ciências da linguagem conquistaram lugar de destaque
no mundo das letras, e o cientista da linguagem tem tanto prestígio
quanto tem o poeta. Ser nomeado membro desta Academia de Letras é
ter o reconhecimento do trabalho em torno da defesa da Língua Pátria.
Há, porém, que se considerar o diferencial dessa posse.
Não se trata de um literato, de um escritor no sentido popular
da palavra – aquele da poesia, do romance, do jornal. MARIA CÂNDIDA
TRINDADE COSTA DE SEABRA é cientista da linguagem, mas não
uma cientista que investiga fenômenos lingüísticos distanciados
da vida de cada um de nós. O objeto de investigação
desta novel acadêmica é simplesmente a dinâmica do
funcionamento do léxico da Língua Portuguesa da região
de Mariana, do Carmo, adentrando parte da Zona da Mata. Se Mariana respira
a linguagem da história, a história da linguagem de Minas
é o motivo das investigações científicas de
Maria Cândida – procurar explicar a origem e a história
de cada nome de cada lugar, de cada rio de cada família desta região
que tanto contribuiu e contribui para o enriquecimento do léxico
da Língua Portuguesa.
Vale destacar o percurso exaustivo com que MARIA CÂNDIDA TRINDADE
COSTA DE SEABRA se debruça sobre os topônimos. Cabe como
exemplo essa empreitada com as pesquisas em torno do termo Gualacho, tão
utilizado pelos marianenses, naquela forma automática e irrefletida
como sói acontecer no uso natural da linguagem. Somente uma pesquisadora
desse quilate, da linhagem do Cônego Raymundo Trindade, poderia
ir tão a fundo no desvendamento dos mistérios que se escondem
na história de um curso dágua e de alguns lugar que se estendem
ao entorno dele. Se a biologia encontra em Ouro Preto um fóssil
vivo, o peripatus, em Mariana a Lingüística encontra um fóssil
lingüístico vivo, que permite vascular o passado, a construção
da língua regional.
Diz MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA no artigo “Gualacho,
Mato dentro, Outra banda – topônimos da Região do Carmo
– MG: questões léxico-históricas”:
Gualacho parece ser um desses fósseis. Presente em uma região
que foi vasculhada por sertanistas e portugueses, esse topônimo
vem se perpetuando na Zona do Carmo, através dos séculos,
nomeando, além de rios, campos, fazendas e lugarejos em seu entorno.
A sua origem não é clara, pois se revela apenas nos vestígios
que deixou em nomes e lugares. A propósito, Machado (1984) apresenta
gualacho como topônimo encontrado no Brasil, em rios de Minas Gerais
e dá para esse vocábulo a mesma definição
de Vasconcellos (1904). Santamaría (1942), por sua vez, o inclui
entre os americanismos, dizendo tratar-se de um grupo étnico encontrado
na Venezuela, no Brasil e no Uruguai. (Pág. 141)
Cita a pesquisadora em nota de rodapé que o Nome Gualacho, conforme
aponta o grande historiador Diogo de Vaconcellos, em edição
de 1904 da História Antiga das Minas gerais:
foi coruupção de Yguarachue, que quer dizer – poço
do carumbé quebrado (iguá – poço, chué
– carumbé, rá – quebrado). Carumbé era
uma espécie de tartaruga, que os índios comiam quebrando-lhe
a casca, e as colhiam e depositavam num poço cercado.
Acrescenta ainda, que
Gualachos é tribo de índios da província de Guairá
(Venezuela); Gualacho, cha. Adjetivo Guayaná. Diz-se do índio
cuja tribo habita as ribeiras do Iguaçu, entre o Paraná
e o Uruguai, estendendo-se também em parte do Estado de São
Paulo. Dizem que os Gualachos eram fracos, barbados e de boa índole.
Dizem ainda que seu idioma parecia com latido de cachorro. (tradução
minha)
MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA, em sua tese de doutoramento,
A formação e a fixação da Língua Portuguesa
em Minas Gerais: a toponímia da região do Carmo, vai buscar
na voz autorizada do Cônego Raymundo Trindade a explicação
de muitos nomes de famílias, apontados na origem açoriana.
E cita: Cotta, do guarda-mor João Pedro Cotta, de Santa Bárbara
das Nove Ribeiras, Ilha terceira, nos Açores, vindo no Séc.
XVIII a instalar-se em Antônio Pereira, de onde fez crescer a prole.
Os Mol descendem dos filhos do açoriano Antônio Gonçalves
Mole e se espalharam em toda a região do Carmo, desde São
Caetano a Piranga e Rio Casca.
Da região Norte de Portugal vieram os Carneiros, os Costas Cabrais,
os Freitas, os Gomes (destes descendo o grande historiados Salomão
de Vasconcelos), os Machados, os Magalhães, os Marinho, os Martins,
os Matias Barbosa da Silva, os Milagres, os Oliveiras, os Pereira Guimarães,
os Rolas (aos quais certamente ascende o tronco familiar da nossa dileta
acadêmica e professora emérita da UFOP Hebe Rôla),
os Trindade (aos quais certamente ascende o tronco familiar da nossa novel
acadêmica), os Vasconcelos, que se uniram com os Gomes, na explicação
da bela família que deu a Minas Salomão e Diogo de Vasconcelos;
e tantos outros tão bem descritos e explicados no procedimento
de levantamento dos topônimos da região do Carmo, como forma
de explicação da formação do ambiente cultural
de Minas Gerais.
Sem espaço para discorrer mais sobre as belas investigações
sobre aspectos históricos da língua portuguesa de Minas
Gerais, é preciso dizer que esta Casa de Cultura, esta Academia
de Letras reconhece a relevância da contribuição das
pesquisas de MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA DE SEABRA, para a cultura
Mineira e Brasileira, pois os topônimos representam mais que a nomeação
de espaços, rios e famílias, uma vez que refletem a história
de um povo e servem de veículo de transmissão de informações
e ideologias, conforme a tese defendida pela pesquisadora novel acadêmica.
Em nome do presidente, em nome dos confrades desta Academia de Letras,
em nome da população de Mariana, a Primaz de Minas Gerais,
colo e sustentação de Portugueses, Açorianos, Árabes,
Ingleses, Franceses, Africanos de tantas nações, colo e
sustentação de tantas idéias poéticas, religiosas
e científicas, colo e sustentação de tantas lutas
por liberdade e respeito aos direitos, inclusive ao de expressão
pela Língua Portuguesa, digo a MARIA CÂNDIDA TRINDADE COSTA
DE SEABRA, bem-vinda a esta casa das letras, das artes e das ciências,
à cadeira do eminente latinista e poeta Padre Pedro Sarneel, nome
ligado à latinidade brasileira ao lado de expoentes como o Padre
José de Anchieta e de Tobias Barreto. Que os ares eruditos de Sarneel,
que a proteção pedregosa da Serra e do Santuário
do Caraça iluminem sua imortalidade nas letras brasileiras.
José
Benedito Donadon-Leal
Academia Marianense de Letras – Cadeira 06
Mariana, 15 de novembro de 2007.
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