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poesia
Soneto
a Andreia Donadon Leal
Jucá Santos*
Nasceu
pra ser artista essa grande mineira!
Nasceu para brilhar nas ribaltas do mundo,
Com sua inteligência, seu saber profundo
E espírito de luz de mulher verdadeira!
E
há de ser sempre assim por sua vida inteira...
Escrevendo e pintando as belezas da terra,
Divulgando a cultura de forma altaneira,
Na certeza de que quem assim faz não erra.
Ela
é filha dileta do grande Didi
E a Dona Aparecida deu-lhe a vida aqui
Para uma trajetória grande e genial!...
Além
de poetisa é brilhante pintora,
É dinâmica e culta e também sonhadora,
A Professora Andréia Donadon Leal!...
*Jucá Santos é Presidente
da Academia Maceioense de Letras
POEMA PARA DEIAL LEAL
seu pai chegou nessa noite
para abraçar-me pela primeira vez.
Para a amiga Andreia Donadon Leal.
Everi
Carrara
de onde estou posso ver você
as lágrimas escorrem para o mar
as florestas ardem em chamas
em suntuosos palácios de chocolate
consulesa princesa rainha das cores
pinta-me a face para corromper a morte
nas ruas desoladas da palestina
estranguladores dobram esquinas
perguntam-me sobre prefeitos assassinados
e julgamentos suspensos
judas scariotes joga cartas com os senadores
no congresso
eu não posso entender
eu não posso me comover
tempestades de gafanhotos invadem as galerias do céu
nuvens negras lua de alumínio desapareceu em gibraltar
seu pai chegou nesta noite para abraçar-me pela primeira vez
seu pai chegou nesta noite para abraçar-me pela primeira vez
então comecei a amar
minha irmã e minha mãe como a terra abraça o mar.
Contemplação
Rosani
Abou Adal
Presa
no meu dormitório
tento dividir a solidão com o peixe
cercado de paredes de vidro.
Cabisbaixo no fundo do aquário,
absorto, perplexo, faceiro,
companheiro me olha.
Quero tocá-lo e senti-lo
através da parede invisível.
Ele acompanha meus movimentos,
entende meus sinais.
Nada e nada e bóia na superfície
à espera de carinho.
Suavemente toco
suas escamas sedosas.
Ficamos horas a nos contemplar.
As
flores do mal - Déia Leal
ENGANO
Eunice
Arruda
afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra
Pensávamos ser esta a nossa pátria
O
Poeta e a Separação
Qual o significado da poesia?
Ela é a referência do não-lugar,
Fonte dos inumeráveis espantos,
Caverna dos discretos suspiros,
Abismo das emoções contidas,
Sensação de voo sem retorno.
No poema é revelado o que jamais se fez,
E se alguém, na ausência de si,
Deixar de se agarrar ao tempo,
Terá de alargar o espaço das indemências,
Para sentir-se livre, apesar de estreitos
Os caminhos por onde passou a sua inspiração.
O único meio de exaltação do poeta
Estará em algum universo de possibilidades,
Pronto, na expectativa de retornar ao ninho,
Ao canto gracioso da bem-aventurança,
Resguardado no calor da simbiose,
Posto, enfim, para dentro do velho paraíso.
As perdas, porém, se fazem necessárias,
Antes que a intrusa morte se apresente,
Querendo cortar do verbo o gozo irrepartível,
Tornar menor o canto de vitória,
Propor somente versos da fria solidão,
Para provar o poeta na própria separação.
Daladier
Carlos
O
DOM DAS PALAVRAS
Para Andréia Donadon Leal
Dona do dom das palavras,
dona dos versos, das rimas,
das paisagens noturnas.
Dona dos ventos e das estrelas,
dona das àguas e dos seixos,
dona do céu azul de Mariana.
Olhai a noite embriagada de luas,
notívaga flor da madrugada,
olhai os becos e sobrados de Mariana.
Dona das matas tropicais,
dona dos vagalumes e dos pássaros,
olhai as tardes de chuva.
Olhai as manhãs de abril,
quando a vida já curva a esquina do mundo
e escapa pelo fino fio da memória.
Cláudio Bento
BH . Setembro 2008
teias
de cupim
sorrateiro mofo
molduras coabitam cupins
telas pintadas de pó
emaranhadas obras de arte.
Déia Leal
emaranhaminas 2
Leitura
Sótão ninho:morada do meu ser
mofo poeira solidão
na moldura do auto-retrato
tela pintada de teias
emaranhadas veias
restos de poesia
no tempo, em mim,
seguem sem mim.
Augelani
Franco
Sonho...
uma linguagem!
Ilda
Maria Costa Brasil - Porto Alegre – RS
Forma
de linguagem,
sensação cristalina,
comunhão do consciente
e do inconsciente,
expectativas e quereres.
Ora o desfrutar do real;
ora o ver-se no imaginário.
Sonho é o aspirar algo
que nos parece impossível;
é o reflexo de um desejo;
um vir espontâneo
e um partir de imediato;
é a projeção de vivências passadas,
de anseios presentes
e de ambições futuras;
é contentamento
e alegria de festas,
de brincadeiras de roda,
de viagens com amigos
e com familiares,
tudo muito gostoso e colorido.
Sonho é um querer vasto
e infinito tal qual o oceano.
AO
MENOR RUÍDO
Floriano
Martins
A pele esvoaça por um enredo de janelas.
Vestígios da cena entram e saem, velozes
como a semelhança desfeita em cada beijo.
Ela mantém os olhos fechados. Ele naufraga
por seu corpo inteiro. Ela o guia através
de intensa escuridão. Ele masca os fungos
cravados no dorso da névoa. Estão ambos
fora de si enquanto dure o cultivo do sonho.
Pequenas luzes acesas no espinhaço.
Com um terno sorriso saboreiam nuvens,
desfiam a ramagem de loucos orgasmos.
Não há como notá-los, por um instante.
Depois já não estão ou retornam jamais.
Esvoaçam as janelas, já sem pele alguma.
Floriano Martins (Fortaleza, 1957). Poeta, editor, ensaísta
e tradutor. Tem se dedicado, em particular, ao estudo da literatura
hispano-americana, sobretudo no que diz respeito à poesia. Foi
editor do jornal Resto do Mundo (1988/89) e da revista Xilo (1999).
Em janeiro de 2001, a convite de Soares Feitosa, criou o projeto Banda
Hispânica, banco de dados permanente sobre poesia de língua
espanhola, de circulação virtual, integrado ao Jornal
de Poesia.
SER
MÃE...
Débora
Novaes de Castro
Ser mãe, é dádiva sagrada e pura,
é missão divina ao fluir dos anos;
Anjo da Guarda, de real finura,
na via de glórias e desenganos.
É
ser guia, um soldado na batalha,
quando a luta voraz se apresenta;
é moldar, na argila que a vida talha,
a esperança que os medos afugenta.
É
ser prudente, em águas de pujanças,
engenheira, nas pontes de tardanças,
calcando o selo dos valores seus.
É
enfunar as velas das esperanças,
e em meio às tempestades e bonanças,
dizer, ao filho, que o fanal é Deus!
¿Con
qué me crecerán?
Antonio Gualda – Granada - Espanha
Las uñas de mis pies,
¿con qué me crecerán?
Por si acaso, me las corté.
Cortémelas en la víspera de Difuntos.
Por si acaso, como digo, me las corté.
Pero..., ahora...
¡Ahora no podré patinar!
¡Ni esquiar sobre las aguas!
Habré de calzar abarcas
luengos meses;
y hasta que mis uñas
-las de mis lindos pies-
crezcan.
Poema
de capa do site aldrava em março de 2008
Anjos-Poetas-Anjos
Marilia
Siqueira
Anjos e poetas:
o que dizer deles,
se nos são tão íntimos
e comungam
da mesma essência,
do que, poetas-anjos,
pensam da poesia...
como quem cospe fogo
e explode veladas sensações?
Que ignoram fórmulas
e se lançam
– simplesmente –
ao mundo?
Que se espalham,
como quem faz versos
sem tempo
para desmembrar
a alma?
– fugaz o tempo,
que muito diz
e pouco revela!
AS
ÁGUAS DA NOITE
20% do beijo, meu amor, são água,
úmido desejo a ensalivar os cristais
da boca – esse mar que enxágua
no prazer os rios férteis dos mortais.
A vida é água na nascente que sua bolsa
vai estourar na história. Líquida ou preta,
Bic azul ou Diplomática, a escrita dessas lousas,
minha louça, são aquáticos delírios de caneta.
Tudo é água quando o amor faz suar a cama,
o termômetro do verão, a fornalha em cor debrum,
é o molho o que lhe faz mulher ou dama,
ou a água de cheiro do seu corpo quando nu.
Cercado de águas por todos os lados, amor é ilha,
e deixamos que o quarto naufrague nas ondas dos cabelos
cheias de oásis, de dunas e de trilhas
encharcando o cio com a sede dos camelos.
E quando morrer de amor o amor que entornou vida
pelos poros dos lençóis e a barra das anáguas,
nós iremos semear o pão do corpo com a lida
para as noites de lua colher com as suas águas.
*jornalista,
professor universitário, crítico literário de raridades.
Mulheres
Daladier
Os ventres nunca se fecham,
Mas abrem as portas para colorir o mundo.
São alvíssaras de todos os tempos,
Porque miséria alguma as impedirá
De trazer a luz a amorosa lida,
Enquanto os homens esperam em silêncio.
Ave Evas!
mulheres da geração que conheço.
Peeo-lhes a governança do abraço encantador,
O calor do delicado beijo que acalma o berço,
Na suspirosa imensidão das esperanças,
Quando as incertezas chegam muito perto
E jamais é possível revelar o lugar do desejo.
PALCO
VAZIO
No
palco o poeta da poesia
descrevia o que bem queria...
Por vezes alegrias, ou fantasias:
nem por isso ficou mais calmo.
Fez o mundo sonhar, rir e chorar...
Hoje seu palco está vazio, sem
roteiro; um espaço por abismos
impregnados, a platéia silenciosa!
A poesia ainda existe, afogando
sua memória, numa peça teatral,
no ir e vir temporal, tem chama, suor
e sangue... Fecha a cortina o pranto!
Mas poeta, tu és, não permitas teu
fim só porque a platéia se calou!
Efigênia Coutinho
Balneário Camboriú
Ode
ao giz
Vivaldo
Santos
Busco
entender o giz
na sua brancura cilíndrica:
o sangrar ário das palavras
de existência breve.
A cicatriz do traço
sem dor e sem história
na pele verde da parede.
Não há nisso nenhuma nostalgia
por palavras
que nunca chegaram a ser.
Porém, por este quedar
acumulado na ausência,
na memória da lousa.
Vivaldo
Santos, Assistant Professor Portuguese Studies Coordinator Portuguese
and Latin American Literature Box 571039 Georgetown University Washington,
DC 20057-1039
NUVEM
CAÍDA-Soneto decassílabo sáfico-heróico
com
rima alternada
Poema
Nº 1622
Por
Sílvia Araújo Motta
Chegou
de (no)vo o (di)a,(mas) que im(por)ta?
A febre (des)ta (noi)te (quer) que eu o (guar)de!
Meu peito a(ber)to em (cha)mas (traz) à (por)ta
o seu re(tra)to, (cha)ve (que é) sau(da)de!
O
Calen(dá)rio in(di)ca que (a ho)ra é (mor)ta!
Sem deses(pe)ro, o (tem)po (sem) a(lar)de
caminha (len)to e o (ven)to en(tão) su(por)ta!
O mal é es(pi)nho! A (luz) que o (quar)to in(va)de
mostra
que o (sol) na (gra)de es(tá) par(ti)do...
Tal qual es(pe)lho, (bri)lha a(go)ra, em(bo)ra
quebrou o en(can)to! É (ca)co (já) vi(vi)do!
Ele
par(tiu!) Dei(xou) no (ven)tre a (vi)da
que seu sor(ri)so im(plo)ra e em (lei)to (cho)ra.
Pranto que (pas)sa é (nu)vem (já) ca(í)da!
Belo
Horizonte, 24 de novembro de 2007.
Leia:www.recantodasletras.com.br/autores/silviaraujomotta
TEMPO
ENCANTADO
Efigênia Coutinho
Balneário Camboriú
- SC
A
eternidade é exatamente isso:
a permanência do tempo, quando
saímos do nosso casulo tempo,
o tempo lá fora avançou anos,
e nós nem nos apercebemos.
porque, para nós, foram segundos em
que o início foi contemporâneo do fim!
Ao silêncio que flutua , o tempo vai
se revelando, são segredos de vida;
apenas a quem os sabe sentir, a
alma humana de maior ternura,
eternizando sua susceptibilidade.
Feliz, me encontraste no tempo, que
ainda não morreu, que renovar-se!...
Neste caleidoscópio do tempo, coroado
de sonhos e magia, guardo a delicadeza
deste teu ilimitado coração de nobreza.
E ali,o tempo jamais vai atravessar...
Sina sou, é porque você também amou...
Lembranças, sinfonia, quimeras que marcou...
Todo o universo vai parar para o tempo encantar!
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