Jornal Aldrava Cultural
Participações Especiais - Poesia

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Carvalho Branco

Edson Bueno de Camargo

Pedro Du Bois

Efigênia Coutinho

Lázaro Barreto

Márcio Almeida

Débora Novaes de Castro

Clevane Pessoa

Remisson Aniceto

mais poesia

Soneto a Andreia Donadon Leal

                                                   Jucá Santos*

Nasceu pra ser artista essa grande mineira!
Nasceu para brilhar nas ribaltas do mundo,
Com sua inteligência, seu saber profundo
E espírito de luz de mulher verdadeira!

E há de ser sempre assim por sua vida inteira...
Escrevendo e pintando as belezas da terra,
Divulgando a cultura de forma altaneira,
Na certeza de que quem assim faz não erra.

Ela é filha dileta do grande Didi
E a Dona Aparecida deu-lhe a vida aqui
Para uma trajetória grande e genial!...

Além de poetisa é brilhante pintora,
É dinâmica e culta e também sonhadora,
A Professora Andréia Donadon Leal!...


*Jucá Santos é Presidente da Academia Maceioense de Letras

POEMA PARA DEIAL LEAL

seu pai chegou nessa noite
para abraçar-me pela primeira vez.
Para a amiga Andreia Donadon Leal.

                                Everi Carrara
de onde estou posso ver você
as lágrimas escorrem para o mar
as florestas ardem em chamas
em suntuosos palácios de chocolate
consulesa princesa rainha das cores
pinta-me a face para corromper a morte
nas ruas desoladas da palestina
estranguladores dobram esquinas
perguntam-me sobre prefeitos assassinados
e julgamentos suspensos
judas scariotes joga cartas com os senadores
no congresso
eu não posso entender
eu não posso me comover
tempestades de gafanhotos invadem as galerias do céu
nuvens negras lua de alumínio desapareceu em gibraltar
seu pai chegou nesta noite para abraçar-me pela primeira vez
seu pai chegou nesta noite para abraçar-me pela primeira vez
então comecei a amar
minha irmã e minha mãe como a terra abraça o mar.

Contemplação

                                                          Rosani Abou Adal

Presa no meu dormitório
tento dividir a solidão com o peixe
cercado de paredes de vidro.
Cabisbaixo no fundo do aquário,
absorto, perplexo, faceiro,
companheiro me olha.
Quero tocá-lo e senti-lo
através da parede invisível.
Ele acompanha meus movimentos,
entende meus sinais.
Nada e nada e bóia na superfície
à espera de carinho.
Suavemente toco
suas escamas sedosas.
Ficamos horas a nos contemplar.

 


As flores do mal - Déia Leal

ENGANO

                                                                     Eunice Arruda


afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra

Pensávamos ser esta a nossa pátria

O Poeta e a Separação

Qual o significado da poesia?
Ela é a referência do não-lugar,
Fonte dos inumeráveis espantos,
Caverna dos discretos suspiros,
Abismo das emoções contidas,
Sensação de voo sem retorno.

No poema é revelado o que jamais se fez,
E se alguém, na ausência de si,
Deixar de se agarrar ao tempo,
Terá de alargar o espaço das indemências,
Para sentir-se livre, apesar de estreitos
Os caminhos por onde passou a sua inspiração.

O único meio de exaltação do poeta
Estará em algum universo de possibilidades,
Pronto, na expectativa de retornar ao ninho,
Ao canto gracioso da bem-aventurança,
Resguardado no calor da simbiose,
Posto, enfim, para dentro do velho paraíso.

As perdas, porém, se fazem necessárias,
Antes que a intrusa morte se apresente,
Querendo cortar do verbo o gozo irrepartível,
Tornar menor o canto de vitória,
Propor somente versos da fria solidão,
Para provar o poeta na própria separação.

Daladier Carlos

 

O DOM DAS PALAVRAS
Para Andréia Donadon Leal

Dona do dom das palavras,
dona dos versos, das rimas,
das paisagens noturnas.

Dona dos ventos e das estrelas,
dona das àguas e dos seixos,
dona do céu azul de Mariana.

Olhai a noite embriagada de luas,
notívaga flor da madrugada,
olhai os becos e sobrados de Mariana.

Dona das matas tropicais,
dona dos vagalumes e dos pássaros,
olhai as tardes de chuva.

Olhai as manhãs de abril,
quando a vida já curva a esquina do mundo
e escapa pelo fino fio da memória.

Cláudio Bento
BH . Setembro 2008


teias de cupim
sorrateiro mofo
molduras coabitam cupins
telas pintadas de pó
emaranhadas obras de arte.
Déia Leal


emaranhaminas 2

Leitura
Sótão ninho:morada do meu ser
mofo poeira solidão
na moldura do auto-retrato
tela pintada de teias
emaranhadas veias
restos de poesia
no tempo, em mim,
seguem sem mim.
Augelani
Franco

Sonho... uma linguagem!

Ilda Maria Costa Brasil - Porto Alegre – RS

Forma de linguagem,
sensação cristalina,
comunhão do consciente
e do inconsciente,
expectativas e quereres.
Ora o desfrutar do real;
ora o ver-se no imaginário.
Sonho é o aspirar algo
que nos parece impossível;
é o reflexo de um desejo;
um vir espontâneo
e um partir de imediato;
é a projeção de vivências passadas,
de anseios presentes
e de ambições futuras;
é contentamento
e alegria de festas,
de brincadeiras de roda,
de viagens com amigos
e com familiares,
tudo muito gostoso e colorido.
Sonho é um querer vasto
e infinito tal qual o oceano.

AO MENOR RUÍDO


                                                   Floriano Martins


A pele esvoaça por um enredo de janelas.

Vestígios da cena entram e saem, velozes

como a semelhança desfeita em cada beijo.

Ela mantém os olhos fechados. Ele naufraga

por seu corpo inteiro. Ela o guia através

de intensa escuridão. Ele masca os fungos

cravados no dorso da névoa. Estão ambos

fora de si enquanto dure o cultivo do sonho.

Pequenas luzes acesas no espinhaço.

Com um terno sorriso saboreiam nuvens,

desfiam a ramagem de loucos orgasmos.

Não há como notá-los, por um instante.

Depois já não estão ou retornam jamais.

Esvoaçam as janelas, já sem pele alguma.


Floriano Martins
(Fortaleza, 1957). Poeta, editor, ensaísta e tradutor. Tem se dedicado, em particular, ao estudo da literatura hispano-americana, sobretudo no que diz respeito à poesia. Foi editor do jornal Resto do Mundo (1988/89) e da revista Xilo (1999). Em janeiro de 2001, a convite de Soares Feitosa, criou o projeto Banda Hispânica, banco de dados permanente sobre poesia de língua espanhola, de circulação virtual, integrado ao Jornal de Poesia.

SER MÃE...
                          Débora Novaes de Castro

Ser mãe, é dádiva sagrada e pura,
é missão divina ao fluir dos anos;
Anjo da Guarda, de real finura,
na via de glórias e desenganos.

É ser guia, um soldado na batalha,
quando a luta voraz se apresenta;
é moldar, na argila que a vida talha,
a esperança que os medos afugenta.

É ser prudente, em águas de pujanças,
engenheira, nas pontes de tardanças,
calcando o selo dos valores seus.

É enfunar as velas das esperanças,
e em meio às tempestades e bonanças,
dizer, ao filho, que o fanal é Deus!

¿Con qué me crecerán?

Antonio Gualda – Granada - Espanha

Las uñas de mis pies,
¿con qué me crecerán?

Por si acaso, me las corté.
Cortémelas en la víspera de Difuntos.
Por si acaso, como digo, me las corté.

Pero..., ahora...
¡Ahora no podré patinar!
¡Ni esquiar sobre las aguas!
Habré de calzar abarcas
luengos meses;
y hasta que mis uñas
-las de mis lindos pies-
crezcan.

Poema de capa do site aldrava em março de 2008

Anjos-Poetas-Anjos

                                                  Marilia Siqueira

Anjos e poetas:
o que dizer deles,
se nos são tão íntimos
e comungam
da mesma essência,
do que, poetas-anjos,
pensam da poesia...
como quem cospe fogo
e explode veladas sensações?

Que ignoram fórmulas
e se lançam
– simplesmente –
ao mundo?

Que se espalham,
como quem faz versos
sem tempo
para desmembrar
a alma?

– fugaz o tempo,
que muito diz
e pouco revela!




AS ÁGUAS DA NOITE

Márcio Almeida*

20% do beijo, meu amor, são água,
úmido desejo a ensalivar os cristais
da boca – esse mar que enxágua
no prazer os rios férteis dos mortais.

A vida é água na nascente que sua bolsa
vai estourar na história. Líquida ou preta,
Bic azul ou Diplomática, a escrita dessas lousas,
minha louça, são aquáticos delírios de caneta.

Tudo é água quando o amor faz suar a cama,
o termômetro do verão, a fornalha em cor debrum,
é o molho o que lhe faz mulher ou dama,
ou a água de cheiro do seu corpo quando nu.

Cercado de águas por todos os lados, amor é ilha,
e deixamos que o quarto naufrague nas ondas dos cabelos
cheias de oásis, de dunas e de trilhas
encharcando o cio com a sede dos camelos.

E quando morrer de amor o amor que entornou vida
pelos poros dos lençóis e a barra das anáguas,
nós iremos semear o pão do corpo com a lida
para as noites de lua colher com as suas águas.

*jornalista, professor universitário, crítico literário de raridades.

 

Mulheres

                                           Daladier


Os ventres nunca se fecham,
Mas abrem as portas para colorir o mundo.
São alvíssaras de todos os tempos,
Porque miséria alguma as impedirá
De trazer a luz a amorosa lida,
Enquanto os homens esperam em silêncio.

Ave Evas! mulheres da geração que conheço.
Peeo-lhes a governança do abraço encantador,
O calor do delicado beijo que acalma o berço,
Na suspirosa imensidão das esperanças,
Quando as incertezas chegam muito perto
E jamais é possível revelar o lugar do desejo.

PALCO VAZIO


No palco o poeta da poesia
descrevia o que bem queria...
Por vezes alegrias, ou fantasias:
nem por isso ficou mais calmo.


Fez o mundo sonhar, rir e chorar...
Hoje seu palco está vazio, sem
roteiro; um espaço por abismos
impregnados, a platéia silenciosa!


A poesia ainda existe, afogando
sua memória, numa peça teatral,
no ir e vir temporal, tem chama, suor
e sangue... Fecha a cortina o pranto!


Mas poeta, tu és, não permitas teu
fim só porque a platéia se calou!


Efigênia Coutinho
Balneário Camboriú

Ode ao giz

Vivaldo Santos

Busco entender o giz
na sua brancura cilíndrica:
o sangrar ário das palavras
de existência breve.
A cicatriz do traço
sem dor e sem história
na pele verde da parede.
Não há nisso nenhuma nostalgia
por palavras
que nunca chegaram a ser.
Porém, por este quedar
acumulado na ausência,
na memória da lousa.

Vivaldo Santos, Assistant Professor Portuguese Studies Coordinator Portuguese and Latin American Literature Box 571039 Georgetown University Washington, DC 20057-1039

 

NUVEM CAÍDA-Soneto decassílabo sáfico-heróico

com rima alternada

Poema Nº 1622

                                                                                  Por Sílvia Araújo Motta

Chegou de (no)vo o (di)a,(mas) que im(por)ta?
A febre (des)ta (noi)te (quer) que eu o (guar)de!
Meu peito a(ber)to em (cha)mas (traz) à (por)ta
o seu re(tra)to, (cha)ve (que é) sau(da)de!

O Calen(dá)rio in(di)ca que (a ho)ra é (mor)ta!
Sem deses(pe)ro, o (tem)po (sem) a(lar)de
caminha (len)to e o (ven)to en(tão) su(por)ta!
O mal é es(pi)nho! A (luz) que o (quar)to in(va)de

mostra que o (sol) na (gra)de es(tá) par(ti)do...
Tal qual es(pe)lho, (bri)lha a(go)ra, em(bo)ra
quebrou o en(can)to! É (ca)co (já) vi(vi)do!

Ele par(tiu!) Dei(xou) no (ven)tre a (vi)da
que seu sor(ri)so im(plo)ra e em (lei)to (cho)ra.
Pranto que (pas)sa é (nu)vem (já) ca(í)da!

Belo Horizonte, 24 de novembro de 2007.
Leia:www.recantodasletras.com.br/autores/silviaraujomotta

TEMPO ENCANTADO

Efigênia Coutinho
Balneário Camboriú - SC

A eternidade é exatamente isso:
a permanência do tempo, quando
saímos do nosso casulo tempo,
o tempo lá fora avançou anos,
e nós nem nos apercebemos.
porque, para nós, foram segundos em
que o início foi contemporâneo do fim!


Ao silêncio que flutua , o tempo vai
se revelando, são segredos de vida;
apenas a quem os sabe sentir, a
alma humana de maior ternura,
eternizando sua susceptibilidade.
Feliz, me encontraste no tempo, que
ainda não morreu, que renovar-se!...


Neste caleidoscópio do tempo, coroado
de sonhos e magia, guardo a delicadeza
deste teu ilimitado coração de nobreza.
E ali,o tempo jamais vai atravessar...
Sina sou, é porque você também amou...
Lembranças, sinfonia, quimeras que marcou...
Todo o universo vai parar para o tempo encantar!