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Jornal
Aldrava Cultural |
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Poesia
de J. B. Donadon-Leal |
J.
B. Donadon-Leal
Marcha
de Carnaval composta por J. B. Donadon-Leal no YouTube
Vídeo de João Gabriel Nani
Interpretação: J. B. Donadon-Leal, Tiago Caldeira e Felipe
Violão: J. B. Donadon-Leal
Percussão: Felipe
Poema
Delinquente no 48º FEMUP - Paranavaí PR
Outubro de 2013
Interpretação: André Fabrício
Canção
Aldravista
Dedicada aos Poetas Aldravistas
Soneto
à Deia
J.
B. Donadon-Leal
meu amor por ti, luz dos meus encantos
lume que além do cosmos irradia
antítese da noite, luz do dia
pérolas nas conchas dos mares tantos
meu amor por ti, voo de cotovia
que traspassa nosso céu num só canto
tentando vê-lo meu olhar levanto
basta-me imaginá-lo, todavia
meu amor por ti vai além dos mares
viaja noutro continente a flutuar
sobre as águas dos deuses dos amares
meu amor por ti, teu, se tu chamares
disponível para ti tal qual o ar
e somente teu, luz dos meus altares
Sobre
a obra de J. B. Donadon-Leal
Quis
a sabiá
um berço de samambaia
para os seus filhotes
J.
B. Donadon-Leal
Berço
de Sabiá (Fotos:
Déia Leal)
Soneto
para iluminar você
J. B. Donadon-Leal
Para
Déia Leal
Eu
sei de um sol que vaga o dia inteiro:
Sai do extremo leste e vai pro extremo oeste,
Coça o céu da boca de deus faceiro;
Do seu calor a terra inteira veste.
Eu
sei que um sol assim afim cipreste;
Recobre o tempo todo o chão campeiro
Que engalha, enfolha e flora o meu canteiro,
Para que a minha própria luz se teste.
Eu
sei de um sol que sol inteiro avia
Todo calor de que a terra precisa;
Sou seu nadir a lhe fazer baliza.
Enfim,
eu sei de um sol sem regalia
Que a cortar o céu pra rasgar o dia
Me faz a luz do chão que você pisa.
ilustração:
Déia Leal
ao
poeta gabriel bicalho
J.
B. Donadon-Leal
e
se mirassem sóis
os curtos olhos humanos
alcançariam um
de intensa luz
e de luz que fala
não
em fala comum
das prosas mortais
mas em luzidia semeadura
de conceitos densos
status
de deus
sol
que sabe amanhecer no céu
poeta maior, arcanjo gabriel
Uma
chance à paz
J.
B. Donadon-Leal
Todas
as vozes já me contaram
Todas as bocas já me calaram
Todas as vistas já me secaram
Todas as vestes já me despiram
Todos
os focos me apagaram
Todas as loterias me perderam
Todos os juízes me condenaram
Todos os pastores me prenderam
Todos
atiraram todas as pedras
Todos atearam todos os fogos
Todos hastearam todos os panos
Todos rastrearam todos os planos
Acuado,
imploro a todos
Apurado, invoco a todos
Que tal permitir julgamento!
Que tal permitir absolvição!
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Senhora
da Assunção - Déia Leal
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Senhora
da Assunção - Déia Le
Rua
cão bravio
sem focinheira
a nos morder
o calcanhar
Rua
deitada
sorrateira
a nos espiar
vigilante
e a nos atacar
mortalmente
em tocaias
Rua
posta
in lacu inferiori
in tenebrosis
et in umbra mortis
Fé
cega (acrílica sobre tela - Déia Leal)
Poema
Professor
Despe-te do rigor gramatical,
das normas;
embebe-te do lácio cru,
quotidiano e roto,
para construíres o poema
que é ser
professor
APRENDER A APRENDER
A bruma da manhã
testa a paciência do dol
ao interferir na monotonia.
O sol, olho didata,
de privilegiado lugar
sabe-se diferente a cada segundo
em seu ludismo
de rolar a terra incessante
e esconder de si a nuvenzinha tola
que de dorso frio na altura
chora chuva fina e se vai
abrigar na pele aconchegante da terra
pra no lago quente se brumizar de novo
e brincar de esconder o sol
que rola a terra ensinando
aprender a aprender a diferença infinita
na monotonia aparente do sistema.
A bruma da manhã
se testa na paciência do sol:
ferem juntos a sucessão circunferente
num lúdico e diuturno aprender.
PARÁFRASE À MINEIRA
(Ao poeta Carlos Drummond
de Andrade)
Quando
nasci veio um anjo roxo
que de costas pra mim no cocho
revelou à minha mãe já decepcionada:
– Inculca nesse mocho aí que chora
que não se pode ser trouxa na vida
mas não adianta querer-se esperto
levando a vida nas coxas
ou se mudando pra Itabira.
Minha mãe fingiu não ouvi-lo
fingi também e mamei tudo que pude dela,
e antes que ela pudesse me dizer:
– Vai, infeliz, ser bom de bico,
rabisquei meus versos
e me fiz descontente.
O resultado dessa rejeição ao anjo
é que hoje não ceifo nem semeio,
mas cavalgo nos dorsos de Minas.
In: Antologia poética I Concurso
de Poesia Linguagem Viva. Ed. Scortecci, 1993:32.
HAI-KAI
Bule
de café
se aquece ao fogão de lenha
e lembra meu pai.
In:
Dô – Caminho. Ed. Massao Ohno, 1992.
Só,
a lua cheia
alumia a escuridão...
Bel' alma da noite!
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SONETO
MATINAL
Despertador, susto, bocejo, salto.
Fronha, pijama, porta, vaso, mijo,
sabonete, toalha, frio-rijo,
toalha, pente, mesa, café-lauto.
Jornal: indiferença. Dentifrício,
água, toalha, paletó, valise,
beijo, pressa, chave, escada, edifício,
carro, portão, rua, script? Reprise.
Sinal, relógio, sinal, sol, atraso,
carro, sinal, sol, retrovisor, tempo.
Guarita, portaria, secretária.
Mesa, papéis, caneta, conta, prazo,
bolsa, queda, fax-fone, talento,
desnorteio, aspirina... dor-diária.
In: Marília – sonetos desmedidos,
Ed. Lázaro F. Silva, 1996.
HAI-KAI
Esforço e paciência...
Seca e brota o caule torto:
lição do cerrado.
In: Jardim & Avenida, Ed. UFOP, 1997.
CONQUISTA
Embriagado
de você
o vulto da paixão que vaga
dentro do meu peito
arrebenta-se na sombra cega
dos meus olhos castanhos
por ganhos de um fruto
no alto da galha que não tenho.
Embriagado
de você
meus membros sentem a vaga
luz do lume do seu jeito;
arrebata-se no furor que cega
seu verde luzir em estranhos
golpes de fuga do olhar bruto
como água da talha que tomar não venho.
Embriagado
de você
meu verso pede rima e adaga:
uma sonoriza outra rompe o feito;
acomoda-se: tudo aceita, tudo nega,
numa infinda entrega, como sais nos banhos.
E me dissolvo sem me ver destruto
na lassa falha de amar; meu fim desenho.
In: Gênese da poesia e da vida. Ed.
Livro Aberto, 1997.
DESCUIDO
Sempre
tive a mania
de recolher
se encontro jogado por aí
parafusos
pregos
porcas
arruelas
pequenos objetos que
de vez em quando
a gente os procura
desesperado
Nunca, porém, tive o cuidado
de recolher
se os encontro
descuidado
olhares
afagos
palavrinhas
pequenos carinhos que
a gente necessita
desesperado.
In: Gênese da poesia e da vida. Ed.
Livro Aberto, 1997.
CANTADA
Emaranhar meu ser
nas entranhas dos seus cabelos
quero.
Emaranhar e ser
as entranhas dos seus cabelos
quero.
Emaranhar pra ser
as entranhas dos seus cabelos
quero.
Emaranhar seu ser,
as entranhas, os cabelos,
quero.
In: Sáfaro. Ed. Scortecci, 1999.
REVOLTA JUSTIFICADA
Victor
Hugo
de, no mínimo, três salários
desfila portando batons,
espelhos, camisinhas,
tesoura de cutícula, lixa de unha,
lenço de papel e alguns trocados
em mãos de fúteis adolescentes
(desculpem a redundância),
e fronta
os miseráveis,
milhões de Quasímodos,
que tocam sinos mês inteiro
por um mínimo,
com descontos.
In: Aldravismo – a literatura do sujeito.
Ed. Aldrava Letras e Artes, 2002.
VOZ
DE POETA
Minha
voz de poeta
Silenciosa
Se diz em meditação.
Minha
voz de profeta
Licenciosa
Se diz maldição.
Minha
voz monifesta
Ditosa
Se diz a foz do não.
Enquanto
minha voz discreta
Irrompe do peito o tom do trovão
Águo a ira inda pupa no aguardo
Do pecado já cometido
No dia do juízo
No dia preciso
Diante da luz
Terna
Do relâmpago artificial
Na rede elétrica da minha bondade.
Minha
voz de sóis completa
Copiosa
Sua raiva dos traços da mão.
Haja
voz, nós das gargantas,
Sazonal humor qual céu de verão,
Minha voz de poeta
Deleitosa
Toca as linhas do coração.
In:
Aldravismo – a literatura do sujeito. Ed. Aldrava Letras e Artes,
2002.
SOLIDÃO
Vocês
todos percebem o quanto quis ser tantos na vida.
Cada um de vocês, um tentáculo meu
nesse polvo que sou,
constituindo este espetáculo da vida,
esta semiótica complexa de vozes
e corpos, e pinturas, esculturas, músicas, mímicas e danças.
E não me digam que sou dono de idéias.
Ah! As idéias não nos pertencem...
Elas estão por aí atormentando nossas cabeças,
nos incluindo em modelos e nos excluindo de sistemas.
Sou espectador privilegiado dessa bossa que entôo como canto novo
di-vã-dré, di-já-vã percepção
do mundo
de conceito de amor em grande laço
a um passo da armadilha
um lobo que fica mal com Deus
quem não sabe
quem passou por mim e vil não nos viu
nós todos:
eu lírico, eunuco, eu outro, grande outro,
eu em mim, sem mim, deslocado de mim, eu a mais,
eu bem, eu mal,
eu céu, eu terra, eu mar
quando me quebro na praia
marionete
eu caí-me veloso, antecipando o carnaval
pra liberar minhas fantasias, meus fantasmas
e um a um me devolvendo a mim mesmo
em-mim-mesmando cada voz que revela meu ego.
A vida bem gozada é bonita, é bonita e é bonita.
Assumo o assombro de vocês que não me vêem mais.
Debochem de mim não!
A minha luz se apaga de mim,
mas a bruma que me leva a penetrar em todos os espaços
ascende de mim minha alma leve de flutuação
a conquistar o mundo, vasto mundo,
se eu não me chamasse mais
todos vocês poderiam retornar para mim
para experimentar
o que é ser
divino, trino, uno,
universal
diverso
verso
sal
só.
In:
Lanterna de ilusões. E. Aldrava Letras e Artes, 2005.
Sonho
Há
um sonho parado na minha cama
Um outro voando nas asas de um pássaro;
Um deles pertence a mim,
Veio comigo de onde eu vim.
Agora, porém, não sei mais
Qual é o meu sonho,
Se o que dorme na minha cama
Aguardando meu ser cansado,
se o que voa com o pássaro,
procurando novos caminhos.
Não há volta pros olhos do sonho,
Apenas a ilusão de encontrar
Aventuras sempre novas.
Não há volta,
Digo graças ao sonho
De aventurar.
Fujo da minha cama
E me faço prosseguir.
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Dream
There
is a dream on my bed
Another, flying on a bird´s wings
One of them belong to me,
It came with me from the same place that I do.
However, I don´t knows anymore,
Which is mine
The one, which rest on my bed
Awaiting my tired being
Or the other flying with the bird,
Looking for new horizons.
There is no way back for the dream eyes,
Just the illusion of finding
New adventures
There is no way back,
Say thanks the dream of
Adventuring
I run away from my beb
And give myself the opportunity to go on.
(tradução:
Janilza Alencar)
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"Veleiro
ao luar" - Déia Leal (acrílica)
Navega
à deriva
meu barquinho de papel
cheinho de sonhos
Anjo
descalço
Um
anjo descalço desce a rua
chuta bola
atira pedras em passarinho
apanha amoras e mangas
trepando nas árvores
vergando galhos
brincando de voar
À
tardinha
a mãe cansada do anjo
cutuca com agulha
bicho-de-pé já bolota
enquanto faz cafuné
no pixaim do anjo
que nem nota
a dor de crescer
crescido
o anjo já arcanjo
lê, escreve e conta
mas de botas e uniforme
chama-se trabalho
e pensa ser
apenas igual
sem castigos
nem privilégios
Haikai do ipê amarelo (clique na imagem e veja)
Vista parcial de Mariana - Minas Gerais
Veja
poesia de J. B. Donadon-Leal em
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=2889
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