Jornal Aldrava Cultural
Poesia de J.S. Ferreira


J.S. Ferreira

J. S. Ferreira. Poeta. Vice-Presidente da Associação Aldrava Letras e Artes. Membro da Academia Marianense de Letras. Autor de: Lixos & Caprichos (1991), Bateia Lírica (1996), Poemas in: Aldravismo -a literatura do sujeito (2002) Criaturas & Caricaturas (co-autoria com Camaleão)(2004) e prenúncio de chuva - senda 03 de nas sendas de Bashô (2005). Jenipapo. (poesia infanto-juvenil) 2007.

nas nuvens
J.S. Ferreira

nas nuvens
procuro imagens

nas nuvens busco sonhos
e ouço o canto do vento

nas nuvens vejo
o céu esbravejar
severo e ríspido
em caracóis de raiva
chorar e cuspir fogo

sob telhados frágeis
sofro e temo
minúsculo ser
buscando compreender
algo
nas nuvens


Acróstico Floral

                                   p/ Efigênia Coutinho

mandEvílias
amor-perFeito
cravInas
marGaridas
hortÊncias
ceNécios
gerânIos
verbenAs
Cinerárias
calceOlárias
lobUlárias
peTúnias
lobélIas
begôNias
onze-Horas
lisiantO


Comentários:
Que galanteria! Um tipo de acróstico novo para mim, Lindo, feito de flores ricas e olorosas. Que melhor coisa a gente pode aspirar na vida? Parabéns ao poeta autor. Lino Vitti
Em 14/01/08, AVSPE Efigênia Coutinho 2008 <academia@redel.com.br> escreveu:

Muito agradecida com sua distinta homenagem ao meu nome, com este belo acróstico florido,eu me senti ao meio de um belo jardim.
Para ver editado deixo o Link,
Efigênia Coutinho http://www.avspe.eti.br/efi3/acrostico/index.html

Ode à esperança
J.S.Ferreira

Mais um ano se vai ou só muda de roupa?
A gente nasce, cresce e envelhece
e apaga da memória sombras
do nascimento, da infância,
da adolescência, dos nós na garganta,
das ausências, dos arrependimentos
e até das alegrias...

Mais um ano se vai
e com ele vão planos, sonhos, ilusões...
E a vida?
Essa desafia o tempo!

Mais um ano aí vem...
Hora do balanço,
hora da reposição
do estoque de esperança!


Inconstância

Amanhece
e o sol
se trai.
O tempo
escurece
e a chuva não cai.
À tarde
o sol reaparece
e a nuvem se vai...

Crianças do além

Pelos altares
estes anjos
sobem e descem
como ninguém.

São crianças
do além
estes anjos?

                                         (In: Bateia Lírica - temas marianenses, 1996)

A besta

Os peixes
não dormem.
As plantas
não dormem.
Os répteis
não dormem.
Os insetos
não dormem.
As aves
não dormem.
As nuvens
não dormem.
As estrelas
não dormem.
Os astros
não dormem.
Nem a humanidade
dorme!
A guerra
é uma besta enorme,
perturbando a paz!

                                           (In: Lixos & Caprichos, 1991)

NÃO TE DIREI COM PALAVRAS

Não te direi com palavras
o que posso te traduzir apenas em um gesto,
nem te ensinarei a linguagem dos olhos,
enquanto eu estiver por perto.


Nada te direi sem o teu consentimento,
mesmo se for amor ou um simples arrebatamento,
mas, quero ser escravo do teu amor,
se este prazer me for dado a contentamento.


Não te direi que meu coração é deserto,
nem que teu corpo é uma flor
que vibra ante meu ser, ou ao som do vento,

porque, o que sinto neste exato momento,
é este brilho que vejo em teus olhos,
que chamo de amor, que traduzo por um gesto.

(In: Bateia Lírica - temas marianenses, 1996)

 


O SINO

A boca do sino.
A boca imensa do sino.
A bocarra do sino.

O sino tem a língua grande:
fala demais!

(In: Bateia Lírica - temas marianenses, 1996)

HIROXIMA

O que restou do holocausto
ali se faz presente:
o mausoléu,
as ruínas do prédio da Corte
de Justiça Local.

Hiroxima,
criança inocente,
vítima do estupro universal.

(In: Lixos & Caprichos, 1991)

 

Haicais

Céu enevoado
e zoada de cigarras:
prenúncio de chuva.

Jibóia
jiboiando...
O rio!

Baobá sem folhas
sobrevive no deserto:
lição da Namíbia.


À beira do rio
chorei lágrimas a fio.
Saudade inundada.

(In: nas sendas de bashô - senda 3, 2005)


Serra do Caraça - Vista de Santa Rita Durão - Mariana, Minas Gerais

VIAGEM

Uma estação abandonada há séculos.
Uma ferrovia que não leva a lugar
algum.
Um trem fantasma de apitar incerto
que surge não sei de onde.
Um relógio na parede que perdeu a
noção do tempo.
Um passageiro louco que não arreda
pé do banco e insiste em viajar...



Criança, não deixes o verde da terra morrer

Criança, não deixes o verde
da terra morrer.
Neste solo de aço,
há sempre um espaço

para se plantar e colher.
Quando vires uma árvore desfolhada
fenecendo à beira do caminho,
trata-a com amor e carinho,

porque ela é parte da tua vida,
da natureza, do teu ser.
Quando uma árvore é decepada

é a natureza que se enluta.
É parte do teu ser que se amputa.
É mais uma vida que deixa de crescer.

 

Parabéns, poeta JS Ferreira
                J. B. Donadon-Leal

nas imediações da ponte
próximo ao centro histórico
Mariana reverencia todo dia
o poeta
que passa tímido com a timidez do poema
e vai jogar versos de alegrar a vida
às jovens vendedoras das lojas
depois volta
passa pela ponte
e se esconde nas estrofes do prédio verde
a ouvir os aplausos da Maria-fumaça

Mariana, fevereiro de 2009