Escritores
Portugueses e Brasileiros participaram da reunião
Diretoria
da Academia Ex-Líbris e da SBPA compõem mesa de
trabalhos
Arquiteto Segismundo Manuel Pamires Pinto (à direita)
fez o discurso oficial
J. B. Donadon-Leal faz pronunciamento
em nome dos escritores brasileiros
A
ALACIB reconhece valores de escritores portugueses
Comandante
Sérgio Avelar Duarte - Presidente da Academia Ex-Líbris
recebe
Diploma de Mérito ALACIB
Vítor
Escudero faz leitura-declamação de aldravias
Comandante
Sérgio Avelar Duarte - Presidente da Academia Ex-Líbris
Paletra
proferida por J. B. Donadon-Leal
Aldravia
– a boa-nova da poesia brasileira
J. B. Donadon-Leal
Presidente da SBPA – Sociedade Brasileira
dos Poetas Aldravianistas
Presidente Executivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes
e Ciências Brasil
Editor da Aldrava Letras e Artes
Doutor em Semiótica – Professor no Curso de Jornalismo
da Universidade Federal de Ouro Preto
Cumprimento os componentes desta mesa, Mestre Benito Martinez,
Dr. José Luiz Foureaux (debatedor/UFOP), Dra. Giselia
Felício (Presidente da Biblioteca da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias), Dra. Ana Cristina Martins e Dr.
Vítor Escudero, Presidente desta seção
plenária.
Senhoras e senhores,
eu pronuncio-me aqui, mas meu pronunciamento não é
meu. Sou enunciador do aldravismo e faço ecoar as vozes
artísticas de Andreia Donadon Leal, de Gabriel Bicalho,
de J.S. Ferreira e de José Luiz Foureaux que comigo deram
alma, corpo e visibilidade ao aldravismo. Faço ecoar
as vozes dos poetas aldravianistas que conosco vieram para trazer
a boa-nova da literatura – a aldravia que, neste país
de conquistadores dos mares e desbravadores de terras novas,
há de soar como retribuição ao legado cultural
que recebemos com esta língua de sonoridade ímpar
– a língua portuguesa.
O aldravismo, na despedida
do século XX, nasce de um sonho – sonho de batear
os rejeitos deitados no leito do ribeirão do Carmo, ao
redor do qual cresceu Mariana, a cidade mineira criada por ordem
de D. João V na abertura do século XVIII. Talvez
de lá saíssem faíscas de ouro. Diziam ser
mais uma vã tentativa. Diziam ser mais uma estupidez,
dessas de arriscar a saúde, pondo pés em águas
contaminadas, na esperança de encontrar alguma riqueza
que podia não estar lá; uma espécie de
Sabarabuçu, eldorado jamais alcançado pelas bandeiras
que desbravaram o interior selvagem do Brasil. Diziam da insanidade
de poetas, tentando ressuscitar o século XX que morria
marcado pelas profecias apocalípticas de fim da poesia,
de fim dos tempos. Tempo e espaço para a criação
não havia mais – a poesia estava morta! Mas, nasceria
outro milênio com a responsabilidade de ser portal de
esperança, para uma humanidade acomodada na reprodução
de fazeres pela garantia da sobrevivência. Que esperar
dessa desesperança? Os poetas insanos entraram a última
década do século XX ainda na onda fanzine, legado
dos poetas marginais de alguns anos antes e saíram dela
com bilhetes de embarque em uma nave que os levaria a estações
da nova poesia. Era preciso criar alguma coisa. Era preciso
avançar. Era preciso ousar. Mas, ser ousado não
é bradar nem grafar palavrões; é propor
coragem onde o medo impera, é desafiar a ordem calcificada
na tradição e no comodismo. Bateia não
havia mais, mas as velhas aldravas penduradas nas portas silenciosas
esperavam por mãos desejosas de portas abertas... Que
se libertem os poetas de seus cárceres privados! Que
os olhos voltados para o chão de seixos irregulares e
escorregadios fitem horizontes distantes – gritavam os
poetas de Mariana ninando o bebê Jornal Aldrava Lítero-Cultural
(alternativo) que acabava de nascer como arauto do século
XXI, naquele novembro de 2000. O jeito Tomé de ser mineiro
não apostava na sobrevivência do neonato sem pedigree.
Mas, como é boa a sensação de inaugurar
linhagem! Do mezanino do Café Dois Mil na Praça
da Sé de Mariana, do ateliê do Camaleão
na subida do São Francisco e do porão do Minas
Bar na Rua Direita emanavam ideias de inovação
na poesia para o século XXI. Eram os poetas aldravistas
que já se faziam identificar pelas ruas de Mariana. O
objetivo, no entanto, era o horizonte, era levar a poesia para
o mundo, contrariando a ordem da cultura nacional de importação
artística. Se todos os demais movimentos artísticos
brasileiros foram buscar no exterior um modelo a ser aplicado
aqui, o aldravismo nascia com a proposta de criar uma forma
genuinamente nacional de arte, sem o estigma tatuado na derme
cultural brasileira, aquele da cópia ou da adaptação.
Tive o prazer de apresentar
o livro de aldravias intitulado “crepúsculos”,
de Cecy Barbosa Campos, num prefácio que enuncia as implicações
de estarmos no mundo como sucessores e antecessores de alguém
e, como tal, temos a nobre obrigação de permitir
que o mundo continue a existir e, se possível, melhor.
Trata-se da consciência de que não devemos ter
a pretensão de reiniciar o mundo, nem o direito de interromper
o que já foi iniciado; como diz Foucault em A Ordem do
Discurso: “queria iniciar, mas tenho que continuar”.
A consciência da
necessidade de continuar algo incompleto mantém a vontade
de progredir, de prosseguir, de modificar o status do mundo
que se apresenta no presente. Essa incompletude discursiva serviu
de força motriz aos poetas aldravistas de Mariana na
decisão de optar pelo uso da metonímia como figura
primordial da sua produção artística. O
resultado desse investimento aldravista no interminável
foi a proposição de uma forma de texto poético
que implicasse todas as noções fundamentais da
poesia – a concisão, a provocação
à continuidade, a superação da simplicidade
da metáfora pela provocação da metonímia,
a musicalidade e a beleza plástica. Criada em dezembro
de 2010, a aldravia conquistou nesses dois anos de existência
o coração de poetas brasileiros e europeus, que
semeiam essa nova forma como semeadores de boas aventuranças;
e cada aldravia é uma voz que sussurra: é preciso
continuar, é preciso continuar...
No entanto, a significação
desse continuar não é algo a assombrar a literatura
do presente na estabilidade das formas e dos autores canonizados
pelos manuais didáticos. Até parece que literatura
é sempre a abertura de testamentos e divisão de
espólio de gerações anteriores. A forma
e os nomes do presente são gritos vãos por reconhecimento,
uma vez que reconhecimento no atual mundo-imagem é sucesso
de vendas de um xou em sua redundância espetacular de
montagem cenográfica e coreográfica. Certas formas
artísticas, no entanto, não são dadas aos
xous.
Em muitos lugares há a noção de que as
formas poéticas são heranças das tradições
europeias, no entanto, entre os poetas do movimento aldravista,
as formas poéticas são vivas e, igual à
língua, sofrem mudanças e evoluem junto com todas
as coisas do universo. O movimento aldravista nasceu em Mariana,
MG, no ano de 2000 e produz arte para a inovação,
a partir de insinuações representativas de metonímicas
das coisas e das sensações do mundo.
Os poetas desse movimento criaram uma nova forma de poesia –
a aldravia – poesia de naturalidade brasileira, sem qualquer
apropriação adaptada de uma forma europeia já
experimentada e já desgastada pelo uso nos mais diferentes
centros culturais desse belíssimo velho continente. A
aldravia é atual, sólida em sua verticalidade
paradigmática e volátil em sua horizontalidade
paratática. Esses eixos não são representações
da dicotomia saussuriana, mas tensões a partir das quais
os interdiscursos instauram possibilidades múltiplas
de eclosão de vozes sociais indomadas, inconformadas
nas limitações dos casulos. Na direção
descendente, a linha paradigmática constrói a
sintaxe associativa, aditiva de itens lexicais que na discrição
matemática formam conjunto – texto em sua completude
coesa e coerente, mas discurso em sua paradoxal incompletude.
fio
tênue
discurso
filosofal
liberdade
poética
Andreia Donadon Leal espuma
apruma
tempestade:
convés
és
saudade!
Gabriel Bicalho nem
noite
nem
dia
só
fantasia
J.B. Donadon-Leal silenciosa
lagoa
ouve
concerto
dos
sapos
J.S. Ferreira infinito
líquido,
submersa
amplidão:
plenitude
perene
J.L. Foureaux
Não se trata de
dispor uma frase numa pilha de palavras; fazer aldravia não
é empilhar palavras, mas construir um poema na sua mais
nobre acepção: forma artística construída
por semiótica verbal. Trata-se, portanto, de uma elaboração
artística na modalidade linguística que, pela
brevidade da forma, requer habilidade na arquitetura de proposições
textuais para além das frases comuns, para obter o máximo
de conteúdo no mínimo de palavras.
Essa forma textual – aldravia – é adequada
para a consecução da síntese, não
de resumos temáticos, mas de proposições
indiciais, metonímicas, de avaliações,
sensações, emoções, imagens, comparações,
suspiros, desejos, sonhos, criticas... Assim, a forma (não
fôrma), que sugere, mas não obriga um encadeamento
paratático livre, sem as prisões da pontuação
e sem a prisão das iniciais maiúsculas, consigna
um espaço no qual a sugestão, por contiguidade
ao que o leitor a ela justapõe, toma corpo de acelerador
de partículas, sendo capaz de gerar concentração
de energia, cujo uso será definido segundo o propósito
desse leitor.
Essa novidade poética, sugerida e nominada por Andreia
Donadon Leal, elaborada poeta Gabriel Bicalho, justificada teoricamente
por mim em discussões e experimentações
iniciais também com J. S. Ferreira tomou, em dois anos,
abrangência nacional e internacional. Poetas de todas
as partes do continental Brasil estão produzindo aldravias.
Poetas Portugueses, Franceses e Espanhóis também.
A Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas já conta
com 76 membros efetivos. Dois livros de aldravias editados no
Rio de Janeiro já receberam traduções para
o francês e Espanhol e um deles recebeu prêmio da
União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. O texto
introdutório do livro Germinais – aldravias {nova
forma, nova poesia}, livro inaugural das aldravias, foi traduzido
para o francês, publicado no livro Écrivains Contemporains
du Minas Gerais, lançado no Salão do Livro de
Paris e em calorosa recepção aos poetas aldravistas
na Academia de Letras e Artes, Monte Estoril, em março
de 2012.
A arte de derrubar muros,
de derrubar mitos está na fundação que
sustenta o aldravista desejo de criar. Eis que brasileiros podem
também inaugurar linhagem.
O Livro das Aldravias
que ora apresento para o nobre público português
é mais um prêmio a esta nova forma poética.
Mais de 50 poetas participantes, representantes de todas as
regiões brasileiras, de Portugal e da França.
1224 aldravias, 1224 provocações metonímicas
na consolidação dessa nova forma, como medalha
de ouro pela coragem de ousar criar novidades em terra de importação
de modelos e paraíso da indústria de montagem.
Parabéns aos e às poetas que conosco ousam fazer
trilha nessas terras sáfaras da poesia nova, ainda sem
as bênçãos da canonização
pela tradição; parabéns aos e às
poetas que conosco inventam caminhos novos e deixam esse legado
valioso para a história da literatura universal!
Depois de lançada a semente desta nova forma, em dezembro
de 2010, os 50 participantes de O Livro das Aldravias já
são leitores-poetas que atribuíram positivamente
o kantiano juízo estético e consideraram universal
a proposição inicialmente específica, em
mais uma aplicação extensiva da noção
de metonímia – do particular se alcança
o geral.
Esta grande obra é, ser metafísico, consubstanciação
das vozes discursivas dos poetas que habitam seus corpos físicos
e, no mais profundo sentido da provocação, será
semeadura para lavouras e lavouras e lavouras de novos poetas
para novas poesias.
Nós, aldravistas brasileiros, louvamos o poeta Victor
Escudeiro pela edição do criativo livro Pão
Nosso – aldravias portuguesas, primeiro livro de aldravias
criado e publicado em Portugal; louvamos todos os poetas portugueses
que, com graça, tornam a nossa língua –
portuguesa, brasileira e de outras grandes nações
– uma dádiva dos céus, maná que sacia
nossa fome de sabedoria com arte.
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APOIO:
Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais
Prefeitura Municipal de Mariana
Editado
por J. B. Donadon-Leal
Lisboa, 9 de abril de 2013