Francisco
Nunes
Sociedade
idealizada por Andreia Donadon Leal
Logo
criada por Gabriel Bicalho
Francisco
Nunes (talvez) por ele mesmo
Eu ficava em pé, ao lado de meu pai, no banco da Rural Willys,
observando tudo. Então, vi sobre um prédio aquele símbolo
mágico, fascinante, cheio de significado, de sonoridade. Apontando
para ele, disse a meu pai: “Eme, de Mesbla!” Somente tempos
depois, no finado Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre,
é que eu seria formalmente apresentado ao alfabeto e às
infindáveis combinações de letras em frases,
em parágrafos, em histórias, em livros… Livros!
A biblioteca de meu pai era maravilhosa! Quantos títulos, quantos
mistérios, quantos textos proibidos para mim, quantos volumes
que me chamavam à exploração, quantas histórias
que me faziam viajar, conhecer mundos e mentes, sonhos de outros sonhadores
como eu! Com dez anos li Deuses, Túmulos e Sábios, de
C. W. Ceram. Decidi, então, ser arqueólogo. Mas outros
livros me fizeram querer ser astronauta, contrabandista, mergulhador,
detetive, pastor, jornalista, policial…
O resultado é que os livros me fizeram um fazedor de livros.
Hoje sou editor, tradutor, revisor, ghost-writter. Mas sempre fiz
livros para outros. Tenho um velho/atual sonho: escrever meu livro,
com os tantos de mim. Ele está prestes a abandonar o ninho
seguro da gaveta (e isso não é apenas uma figura de
linguagem). Outros ainda estão lá, sendo chocados, tímidos,
receosos.
Sua gaveta está em xn.blog.br.Para conversar com ele, escreva
para nunes.endel@gmail.com.
Aldravias
de
Francisco Nunes (São Caetano do Sul,
SP)
20 Aldravias postadas em 22 de janeiro de 2020
choravam
nuvens
dilúvios
de
árida
saudade
|
tantos
nadas
fenecem
poucos
tudos
florescem |
nova
página
eu
mesmo
tudo
além |
madrugadas
novas
antigos
ventos
mesmas
saudades
|
dexistência
porvirtuosa
ansiandoendo
saudadespedidas
matutinascendo
outramores |
sombras
sobram
sussurros
sensíveis
semeando
sombras |
adeus
a
Deus
ateus
há
Deus |
vivo
em
desatinos
de
lúcido
amar |
mesmo
assim
sou
outro
em
mim |
ouvi-te
silenciosa
presença
saudosa
esperança
… ilusão |
assentado
assistia
à
vida
passar
assustada |
sempre
presentes
em
forma
de
saudade |
adeus
à
dor
ah(há)
meu
amor |
conforme
me
consolas
me
contorço
cansado |
uma
dose
letal
de
poesia
nevrálgica |
às
vezes
neva
quase
sempre
vivo |
encanto
no
encontro
enquanto
… não
conto |
ver-se
como
verso
espelho
sem
reflexo
|
ah!mores
de
tantos
com-licenças
e
por-favores |
outrossim
outro
não
mesma
vida
então |
10 Aldravias
postadas em 12 do 12 de 2012
ato
de
bravura:
reconhecer
ser
covarde |
eu
grito,
mas
nin
game
over |
dormir
de
conchinha
sonhava
o
caracol |
se
mente
de
pura
vera
cidade |
aldravia:
te
digo
uma
em
seis |
vi-O
depois
de
tanto
tempo
morto |
como
não
crer
se
Ele
é? |
em
essência
sua
aparência
diz:
nada! |
o
salva-vidas
morreu
afogado
na
tristeza |
entraram
na
clínica
de
aborto.
Morreu |
Primeira postagem
O
primeiro
amor
nunca
se
emudece
|
minhas
dores
me
fazem
desagradável
companhia
|
à
sombra
descansa
o
sol
suado
|
silenciosamente
despertou
o
amor;
envergonhada,
desculpou-se
|
repousa
aqui
um
pouco,
viajante
louco |
demasiado
cedo
foi
avaliado:
medo
dói |
a
luz
acende:
fantasmas
fogem
nus |
outro
dia
chuvoso:
saudoso
sorria
Juvenal |
um
piquete
desalmado:
QUERO
CONTINUAR
IGNORADO! |
não
enviei
condolências;
preferem
minha
ausência
|
monstros
destruindo
Tóquio:
memórias
de
infância |
toda
mentira,
na
internet
é
verdade |
Aldraviano
Campos
Fortes,
poeta
sonhador
contumaz |
havia
beijos
ao
fim,
sem
fim |
aldravio
palavras
aldrávicas:
loucas
aldravices
serenas |
vivia
voando
entre
verdes
pássaros –
alvejado |
ilusões
matinais,
pesadelos
diurnos,
choros
noturnos |
esperando
descanso
encontrei
desespero.
desisti,
portanto |
misericordiosos
homens
meditam
entre
mendigos
moribundos |
a
cama
recebe
os
corpos.
solidão |
Aldravipeias
de Francisco Nunes
(postada em 19/09/2013)
Olhos
nos
1
abrem-se
convictos
da
manhã
que
surge
2
vagueiam
cheios
de
respostas
sem
perguntas
3
olho
e
vejo-te
olhas-me:
não
sei
4
olhos
nus
olhos
nos
olhos
nós
5
na
janela
que
me
vê
vejo-me
6
te
vejo
em
meus
olhos
tristes
5
mergulho
em
teus
olhos:
afogo-me
aguazul
6
e
tão
tonto
tento
então
rever-me
7
olhares
que
fogem
maltratados
de
abandono
8
os
OlhOs
Olho-Os
vazi0s
num
s.i.l.ê.n.c.i.o
9
insisto:
olhe-me
como
outro
que(m)
sou(?)
10
(temo
olhar
e
de[ver]
te
amar)
11
“nunca
vi
ninguém
assim!”
ah,
sim…
12
– vi-me:
a
dor
ampla,
nunca
vista
13
antevejo
meus
olhos:
lágrimas
e
ninguém –
14
olha-me
com
outros
olhos:
os
teus
15
meus
olhos
leais
lamentam:
não
mais
16
vejo-te
como
nunca
– e
sempre
foste
17
vemos
o
que
vi(fo)mos:
foi-se
insaudoso
18
vemo-nos
como
de
novo
primeira
vez
19
invisível
ah!
mar
de
amor
– olhares
20
cúmplices
mãos
dadas
vamos
vemos
somos
|
Mim
sou
só
1
(im)preciso
ser
assim
nós
2
solidões
lado
a
lado
acordo
às
3:
sou
ainda
mesmo?
de
4
procuro
respostas
(in)existentes:
[eu?]
os
5
dedos
apalpam
minha
inexistência
corro
para
alcançar-me
antes
de
vo6
escolho
7
livros
(d)escrevendo
quem
sou
alguém
af8
pelo
encontro
comigo
–
serei?
vida,
re9-me!
o
espelho
diz:
igualainda
10esperado
tateio
meu
rosto:
quem
és?
sino
de
br11
informa:
durma
desesperada’mente
minha
over12
de
perguntas
silencia
urrando
temo
13
badaladas
inquirindo
de
mim
caminho
por
14
q-u-a-d-r-a-s
fugindo
tr.ôp.ego
na
15ª
desisto:
sempre
soufuiseria
eu
tive
16
u,m
dia
… bruta
saudade
pouco
vivi
os
17
tentando
ser-não-ser
ind…epend…entes
18
em
mim
prisões
infant~adultas
impreciso
aos
19
preciso
saber-me:
quem?
20
dizer:
sim,
sou
eu
assim
|
Comentário
do autor. A poesia é desassossegada, inquieta, bicho
feroz, que olha com desconfiança para limites, prisões.
Ama inovação, refazer-se, repensar-se, propor-se formas
para, então, desafiá-las, enfrentá-las, empurrá-las
para que adotem outra forma.
Maravilhosa a proposta da aldravipeia! Amplia a aldravia e também
desafia o poeta a poetar de seis em seis até produzir uma sinfonia
de vinte movimentos aldrávicos coerentes, interligados pelo
fio temático, mensageiros sextavados da mensagem única.
Página
criada em15 de dezembro de 2011
Editor: J. B. Donadon-Leal